Em uma carta enviada ao Brasil, o presidente argentino, Javier Milei, formalizou sua intenção de recusar a entrada da Argentina no grupo Brics. O documento, obtido pela GloboNews, destaca a falta de oportunidade na adesão ao bloco de países emergentes, que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A Argentina, junto com outros cinco países, foi convidada a se juntar ao Brics em agosto. Caso aceitasse, a integração formal ocorreria a partir de 1º de janeiro de 2024.
Na carta, Milei menciona que algumas decisões tomadas pela gestão anterior, incluindo a criação de uma unidade especializada para a participação ativa da Argentina no Brics, serão revistas. O posicionamento de Buenos Aires não surpreendeu o governo brasileiro, que já tinha indícios dessa decisão desde novembro, quando a ministra das Relações Exteriores, Diana Mondino, indicou a recusa.
Milei, antes mesmo de assumir a presidência, expressou sua oposição à entrada da Argentina no Brics, justificando que o alinhamento geopolítico do país é com os Estados Unidos e Israel, não com regimes comunistas. Durante a última cúpula do Brics, em agosto de 2023, os membros decidiram ampliar o bloco, convidando formalmente seis países para se tornarem novos membros, incluindo a Argentina.
A recusa de Milei acontece em um momento em que enfrenta desafios para aprovar pacotes de reformas, como o Decreto de Necessidade e Urgência e a “Lei Ómnibus”. Essas reformas, somadas, abrangem mais de mil artigos, incluindo a dispensa de mais de 5 mil funcionários públicos e concessão de mais poderes ao presidente. Enfrentando resistência no Legislativo, Milei tem pressionado aliados e ameaçado realizar uma consulta pública para aprovar os decretos.
Paralelamente, protestos contra as medidas propostas têm ocorrido em Buenos Aires, com milhares de pessoas nas ruas desde a semana passada. Diante da crise interna, a carta de Milei recusando a entrada no Brics é interpretada pela imprensa argentina como uma estratégia para focalizar a atenção nas questões domésticas.
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