As medidas de responsabilidade fiscal anunciadas na última semana pelo presidente recém-empossado da Argentina, Javier Milei, tiveram uma repercussão positiva no mercado e devem favorecer o ambiente de negócios para empresas brasileiras que atuam ou pretendem iniciar as atividades no país vizinho. A expectativa é que as atividades de fusões e aquisições (M&A) sejam retomadas com mais fôlego a partir das reformas que estão em curso na Argentina.
“Esta guinada na condução da economia argentina já era aguardada pelo mercado internacional, que reagiu de forma bastante positiva à posse do novo presidente, que tem um viés liberal. A expectativa é que o ambiente de negócios se fortaleça, atraindo mais investimentos estrangeiros e, neste ponto, as empresas brasileiras são as que mais devem aportar recursos no país vizinho”, destaca o economista Vinicius Oliveira, sócio da Redirection International, empresa especializada em assessoria de fusões & aquisições cross-border.
O economista ressalta que o Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina, respondendo por mais de 16% das exportações do país. Por outro lado, a Argentina é o terceiro maior fornecedor de produtos para o mercado brasileiro, com mais de 5% das importações registradas no país, atrás apenas da China e dos Estados Unidos, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
“Por serem parceiros de longa data e terem uma extensa área de fronteira que facilita as relações comerciais entre os dois países, já se espera que mudanças no rumo econômico tenham algum impacto no país vizinho. Muitas empresas brasileiras que hoje operam na Argentina devem ampliar sua participação e há também uma tendência de que novas aquisições e fusões sejam feitas com as empresas argentinas”, ressalta Vinicius Oliveira ao lembrar que as atividades de M&A, que estavam em queda nos últimos anos em nível global, devem voltar a crescer em 2024.
Principais setores
Entre os setores que devem movimentar o mercado de M&A envolvendo empresas brasileiras na Argentina estão o financeiro, suprimentos agrícolas e o de tecnologia. Vinicius Oliveira lembra a recente venda do Itaú para o Banco Macro, por cerca de R$ 250 milhões e a participação de cerca de 80% do Banco do Brasil no capital do Banco Patagônia.
Já a forte vocação do país vizinho para o agronegócio, acompanhada das medidas anunciadas para o setor pelo governo argentino, podem abrir novas oportunidades de fusões e aquisições para as companhias brasileiras. “Um eventual bom momento para o agro argentino pode gerar um movimento duplo de expansão das empresas de lá no Brasil e das brasileiras para a Argentina, principalmente no segmento máquinas e suprimentos agrícolas como a LAVORO, por exemplo, que já anunciou a intenção de fazer mais aquisições na América Latina”, relembra Vinicius Oliveira.
As mudanças na política econômica argentina devem atingir ainda as atividades de M&A no setor de Tecnologia da Informação que vive um bom momento, com perspectivas de crescimento acima da média mundial em países latino-americanos. Além disso, empresas brasileiras que têm uma forte atuação na Argentina como Ambev, CVC, Minerva, Usiminas e Marcopolo também devem sentir os efeitos das medidas adotadas no país vizinho. Vinicius Oliveira destaca que o mercado já vem reagindo à mudança de rumo na economia argentina e em um período de três meses, o principal índice de ações de Buenos Aires acumula alta de mais de 60%, impulsionada principalmente pelas reações às medidas anunciadas para reestruturar a economia e pelo anúncio de privatização da petrolífera estatal YPF.