Mulheres e Dia do Trabalho

No artigo da coluna de hoje, quero refletir sobre uma pesquisa da Delloite “Women@Work 204”, a qual aponta os principais desafios das mulheres no mercado de trabalho. 

Isto porque os dados revelam uma disparidade entre conceito e realidade, demonstrando que o trabalho decente e digno ainda é considerado um privilégio e não um direito garantido a todas as pessoas, ainda mais para alguns grupos sociais marcados pela violência histórica, como mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiências e LGBTI+.

Segundo a pesquisa da Delloite, apenas 12% das mulheres no Brasil acreditam que suas organizações tomam medidas concretas para cumprir seu compromisso com a igualdade de gênero. Salário e flexibilidade são os principais fatores decisivos para as mulheres brasileiras saírem recentemente ou que pretendem deixar sua empresa atual.

Segundo a pesquisa, um número assustadoramente alto, 49% das mulheres no Brasil estão preocupadas com sua segurança no trabalho ou durante suas viagens para trabalho. Quase um quarto lidou com clientes que as assediaram ou se comportaram de uma forma que a deixaram desconfortáveis, sem contar as micro agressões e outros tipos de assédios.

Então, qual o papel das empresas no século XXI?

Elas devem desempenhar um novo papel na história da humanidade, passando de meios de produção econômica e distribuidora de valor aos acionistas, para serem também geradoras de valor compartilhado e bem-estar social.

De acordo com a 6.ª edição do Código de Melhores Práticas do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), de 2023, há uma interdependência das organizações com suas partes interessadas, com a sociedade e o meio ambiente. Logo, as empresas devem agir como agentes do desenvolvimento sustentável, pois assim como nós, elas não existem em um vácuo.

Como exemplo, tem-se a adoção dos Princípios de Empoderamento das Mulheres, também conhecidos pela sigla WEPs, os quais foram criados em 2010 pela ONU Mulheres e o Pacto Global com o intuito de oferecer orientações sobre formas de empoderar as mulheres e promover a igualdade de gênero no local de trabalho, na cadeia de valor e comunidade, ao mesmo tempo em que impulsionam resultados positivos para a sociedade e negócios.

Ao assinar os WEPs a empresa assume publicamente o compromisso com essa agenda e passa a fazer parte de uma rede global e local das Nações Unidas que compartilha informações, publica cartilhas, manuais e promove fóruns, eventos, além de obterem suporte interno sênior.

Trata-se de uma jornada contínua que envolve: 1. Considerar (visão geral dos WEPs e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS); 2. Assinar; 3. Ativar (colocar seu compromisso em prática, com um plano de ação com indicadores-chave de desempenho, entendendo os pontos fortes e fracos de sua empresa e o que precisa melhorar); 4. Envolver sua equipe (parcerias de negócios e clientes para garantir um ecossistema saudável e uma cadeia de valor que também compactue dos mesmos valores); 5. Sustentar (com coletas de informações e dados desagregados de gênero e demais marcadores, comunicando o progresso, experiências e lições aprendidas); 6. Relatar (a transparência e responsabilidade são fundamentais para o progresso no alcance dos resultados).

Para isso, as lideranças precisam compreender que a promoção da agenda de diversidade, equidade e inclusão está ligada diretamente à agenda de direitos humanos. Bem como, reconhecer que as diferenças que configuram a diversidade não devem estar associadas a juízo de valor, com a atribuição positiva a um determinado grupo social em detrimento de outro, pois isso só aumentará as desigualdades para grupos específicos da população.

Necessário também, estabelecer processo de identificação e correção sistemática de práticas que podem ser consideradas discriminatórias em seus processos de recrutamento, seleção, contratação, promoção, treinamento e demissão.

E, tão importante quanto, é desenvolver uma postura de combate ao racismo ou outras formas de discriminação e violência como machismo, homofobia e capacitismo.

Como?

Realizando ações de sensibilização e letramento com cursos, palestras, workshops que atuem na educação – combatendo o discurso de ódio, a intolerância e promovendo o respeito e a empatia -, desenvolvendo uma comunicação consciente, que contribua para a saúde e bem-estar de toda a comunidade. Isso ressoará na cultura corporativa, bem como na saúde mental dos colaboradores, gerando maior engajamento e resultados positivos com um todo.

Referências:

Deloitte. Pesquisa “Women@Work2024”

IBGC. Código de Melhores Práticas. 6.ª edição, 2023. 

Pacto Global Rede Brasil. WEPs – Princípios de Empoderamento das Mulheres. 

WEPs Brochura. Igualdade Significa Bons Negócios. PDF. 

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