Independentemente da fé religiosa, vale a pena relembrarmos os propósitos dos 10 Mandamentos e dos 7 Pecados Capitais.
O primeiro foi escrito por Deus, tendo Moisés como seu mensageiro, durante a jornada do povo judeu em busca da Terra Prometida e seu propósito era dotar o povo hebreu de um código de conduta, estabelecendo o que fazer e o que não é permitido fazer.
Os 7 Pecados Capitais foram formalizados pelo Papa Gregório Magno no século VI e têm como objetivo servir de guia para identificar e combater as inclinações viciosas que dão origem a uma infinidade de outros pecados. São eles: Soberba (orgulho, vaidade); Avareza; Luxúria; Inveja; Gula; Ira e Preguiça, sendo a Soberba considerada a principal fonte dos outros pecados.
Interessante observar que, enquanto os 10 Mandamentos focam na ação em si, os 7 Pecados Capitais investigam as motivações que levam o indivíduo ao pecado. Mas por serem muito mais subjetivos e de mais difícil assimilação, os 10 Mandamentos acabaram predominando no ensinamento religioso.
Mas, afinal, por que discutir esse tema num portal de “business”?
Quanto maior a sua capacidade de antecipar movimentos, prever comportamentos, seja de mercado ou pessoas, maior é a sua vantagem competitiva.
Referendando o ensinamento dos teólogos, o personagem de Al Pacino, no filme “O Advogado do Diabo”, onde ele interpreta o próprio Diabo, diz a icônica frase: “Vaidade… Definitivamente é meu pecado favorito” enquanto observa o personagem interpretado por Keanu Reeves cair novamente em tentação.
Ao contrário da primeira impressão, pessoas vaidosas são inseguras. A busca contínua por ostentar uma realidade superior à dos outros é resultante da necessidade da validação pelo outro, pois é somente através desse reconhecimento que ele reconhece o seu próprio valor. Sim, uma pessoa vaidosa é refém da opinião alheia.
As consequências das decisões tomadas por pessoas com essas características não são difíceis de imaginar.
Pessoas soberbas se julgam autossuficientes, instrumentalizam as suas relações e, por conta da vaidade adjacente, não conseguem admitir eventuais falhas. Com sua inteligência e poder, fazer uso do viés de confirmação para fazer valer suas escolhas não é um trabalho difícil.
Vivemos momentos de grandes paradoxos no mundo corporativo. Valorizamos mais a ética da personalidade do que a ética do caráter ( Stephen Covey ), focamos mais no curto prazo do que no longo prazo ( ver o livro Jogo Infinito de Simon Sinek).
Fazendo uma analogia, as doenças silenciosas, como diabetes tipo II, são as mais perigosas, justamente porque elas atuam em silêncio. Ao contrário, quando descobrimos um tumor, tomamos todas as medidas necessárias da forma mais rápida possível. Mas nos casos das doenças silenciosas, muitas vezes, nos acostumamos e vamos convivendo sem nenhuma medida mais drástica, pois ela não provoca nenhum mal visível no curto prazo.
Assim como diabetes tipo II, os danos causados por uma gestão dominada por pessoas soberbas/vaidosas não são visíveis no curto prazo, seus estragos só são percebidos no médio e longo prazo.
O processo de escolha e a execução dos mesmo são distintos quando comparamos as que são realizadas com base em critérios que buscam maximizar o bem estar ao longo do tempo “versus” as escolhas movidas por vaidade e necessidade aprovação.
Mas enquanto o horizonte de avaliação for inferior a 5 anos, será muito difícil perceber as incoerências e os erros motivados pela soberba/vaidade. No curto prazo, prevalecerão o argumento da autoridade e a força da retórica e pouco interesse em apontar que o rei está nu.
No mundo atual, dominado pela necessidade de exposição, mais do que ser rico, precisa parecer rico. Como dizia um ditado dos tempos analógicos, mas ainda muito atual no mundo digital, “cuidado para não comprar gato por lebre”.
