Nessa semana saiu a famosa e tão aguardada carta de Larry Fink – CEO da BlackRock – a maior gestora de ativos do mundo – e, diferentemente dos últimos anos, o foco desse ano não é sobre sustentabilidade, propósito, capitalismo de stakeholders ou mesmo crise climática.
Talvez, pelo fato de nos EUA as questões de ESG serem alvos de críticas recorrentes pelo que insistem em manter o ‘status quo’, se negando a enxergar as mudanças climáticas, com os eventos climáticos críticos e extremos cada vez mais recorrentes, o mote da vez, é a aposentadoria.
Não que o assunto não seja importante, ainda mais com o aumento da expectativa de vida da população. Mas é um tanto quanto frustrante quando precisamos de coragem para lutarmos pelas mudanças que se fazem necessárias.
Nisso, me fez lembrar de uma outra carta, muito antiga, do Chefe de Seattle, quando em 1854, o presidente dos Estados Unidos fez uma proposta de comprar grande parte das terras de uma tribo indígena.
Eis alguns trechos que mesmo tão antiga é tão atual e merece ser referenciada:
“Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mal cheiro. O que é o homem sem os animais? Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo. A terra lhe é preciosa, e feri-la é desprezar seu criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Contaminam suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência”.
Segundo o volume do sexto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas, entre 3,3 bilhões e 3,6 bilhões de pessoas estão vulneráveis a consequências como insegurança alimentar e falta de água, especialmente em regiões menos desenvolvidas, como África, Ásia, América Central e do Sul.
O relatório dedica um capítulo inteiro às regiões da América do Sul e Central e as considera “altamente expostas, vulneráveis e fortemente impactadas pelas mudanças climáticas”. A situação é agravada por fatores como desigualdade, pobreza, crescimento populacional e alta densidade demográfica, desmatamento e perda da biodiversidade, além de economias baseadas na produção de commodities.
Então, o que faremos quando não houver mais a ação de insetos polinizadores? O que faremos com os refugiados climáticos? Em todo o mundo, os desastres meteorológicos estão tirando a casa, os negócios e a vida das pessoas.
O próprio Fórum Econômico Mundial classifica a perda da biodiversidade e colapso do ecossistema como um dos principais riscos para a economia global, aliado a eventos climáticos extremos, mudança original nos ecossistemas, escassez de recursos naturais, desinformação e informação errada, resultados adversos das tecnologias IA, migração involuntária, insegurança cibernética, polarização social e poluição.
Mas tudo bem, vamos concentrar nossos esforços em manter os lucros dos estados produtores de petróleo, reduzir a participação em alianças internacionais de investimento em clima e vamos priorizar os lucros daqueles que têm dinheiro investido. Afinal, não há justiça climática mesmo, não são os que mais poluem e emitem carbono que serão os mais afetados.
E, assim, enquanto houver amanhã, vamos postergando nossas ações, lucrando com a desgraça alheia.
Referências:
Larry Fink alerta para a crise de aposentadoria em sua carta anual da BlackRock
Water Resilience Coalition / Pacto Global Rede Brasil / The Nature Conservancy. Worshop “Rumos pela Resiliência”, 13/04/2022.
WEF. The Global Risk Report 2024. PDF.