Sustentabilidade, propósito, mudanças climáticas, diversidade, equidade e inclusão, geração Z. Sim, são muitas variáveis que as empresas estão tendo que lidar para a manutenção de sua licença social. Ainda mais pelo fato de o mundo estar tecnologicamente conectado – não há mais privacidade e estamos cada vez mais vulneráveis e expostos ao crivo e julgamento de terceiros – parceiros, clientes, fornecedores, mercado.
Com isso, é imperativo repensar as nossas relações. Para Otto Scharmer, o pai da teoria U, todos os problemas se devem há três grandes desconexões: do Homem com o planeta, do Homem com o próximo e, do Homem com ele mesmo.
Sendo assim, ao tomarmos a primeira, temos que nos conscientizar que as alterações climáticas tornaram-se um fator decisivo nas perspectivas das empresas (risco climático é um risco de investimento). Logo, deverá haver uma mudança estrutural nas finanças, tendo como régua o investimento sustentável.
Com isso, a sustentabilidade deverá estar na estratégia do investimento, fortalecendo não só o compromisso com a sustentabilidade, mas principalmente, com a transparência, disponibilizando para as partes interessadas, informações verdadeiras, tempestivas, coerentes, claras e relevantes, sejam elas positivas ou negativas, e não apenas aquelas exigidas por leis ou regulamentos.
Da mesma forma, essas informações não devem restringir-se ao desempenho econômico-financeiro, contemplando também os fatores ambiental, social e de governança. Isso porque a promoção da transparência favorece o desenvolvimento de negócios e estimula um ambiente de confiança para o relacionamento de todas as partes interessadas.
No segundo item, do Homem com o próximo, cada vez mais, um número cada vez maior de pessoas doa tempo, energia e dinheiro em busca de propósitos que são importantes para eles e para o mundo. Então, a solução passa por criar organizações que extraiam mais do nosso potencial humano.
Como?
Os líderes precisam fazer um exercício e reimaginarem o propósito fundamental das empresas – um propósito mais elevado, com uma benevolência básica e uma preocupação genuína com o bem-estar das partes interessadas, incluindo as comunidades nas quais estão inserida e o planeta Terra.
Uma empresa com profunda e autêntica preocupação pelos clientes, empregados e comunidades em que todos vivam em harmonia, gerando riqueza e fazendo a diferença positiva no mundo.
Com isso, tornar o propósito o centro de tudo o que fazem, falando a partir do coração e, não, do ego, inclusive, com novas maneiras de restaurar nosso relacionamento com o planeta e os danos que causamos.
Como comenta Frederic Lalox, no livro Reinventando as organizações, “A inventividade humana não tem limites e as inovações radicais aparecem, às vezes, de repente, saídas de algum lugar”. Então, é importante que haja não só uma conversa unilateral, ou seja, somente por parte das empresas fazendo comunicados por meio de relatórios, revistas e, sim, que o genuíno interesse de um diálogo multilateral em que colaboradores, funcionários, acionistas, clientes, fornecedores e o mercado, também possam buscar pela empresa e propor ajustes e soluções.
Quando gestores e funcionários ganham espaço para exercer sua criatividade e talentos, torna o trabalho consideravelmente mais interessante, à medida que as pessoas se sintam responsáveis e motivadas por seus resultados.
“Cada vez mais, as pessoas têm os meios para sobreviver, mas nenhum sentido pelo qual viver”. Viktor Frank
Esse se deve ao último pilar, a reconexão do Homem com ele mesmo.
Passar para um novo estágio é uma grande realização – de ordem cognitiva, psicológica e moral. Abrir mão de velhas certezas e experimentar uma nova visão de mundo exige coragem.
Por um tempo, tudo pode parecer incerto e confuso. Também pode ser solitário porque, durante o processo, existe a possibilidade de perdermos relacionamentos com aqueles que não se identificam mais conosco.
Amadurecer para uma nova forma de consciência é sempre um processo altamente pessoal, único e misterioso. Não é possível obrigar alguém a fazê-lo. Ninguém pode ser forçado a evoluir na consciência, mesmo com as melhores das intenções.
O que pode ser feito é criar ambientes que sejam propícios a esse amadurecimento. Conscientemente ou inconscientemente, os líderes estabelecem estruturas organizacionais, práticas e culturas que fazem sentido para eles e que correspondem a sua maneira de lidar com o mundo.
Esse é o veradeiro talento das organizações: elas podem impulsionar grupos de pessoas para que operem acima de sua capacidade e, assim, alcançar resultados que não poderiam atingir por conta própria.
A coerência interna como bússsola
Esta decisão parece certa? Estou sendo verdadeiro e transparente? Isso está alinhado ao meu propósito e ao propósito da organização? Estou servindo a empresa e ao mundo?
Não é fácil? Mas quem disse que seria fácil? Mas talvez, seja o caminho possível com 3 crises planetárias – aquecimento global, perda da biodiveridade, poluição e convulsões sociais pelo aumento da desigualdade.
Referências bibliográficas:
IBGC. Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa. PDF. 6.ª edição, 2023.
Laloux, Frederic. Reinventando as organizações. Editora: Vôo, 2017.