Pesquisadores de universidades de Oxford, Cambridge, York, Kent, Auckland, da BirdLife International (SAVE no Brasil), Re:wild, com financiamento da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) pelo Global Environment Facility, analisaram mais de 100 anos de estudos e pesquisas, e avaliaram se as iniciativas de conservação resultam em resultados positivos para a biodiversidade. Em artigo científico intitulado The positive impact of conservation action (na tradução para o português O impacto positivo das ações de conservação), publicado recentemente na Revista Science, os pesquisadores afirmaram que, em mais de metade das vezes, as ações de conservação foram eficazes e tiveram um efeito líquido positivo, mas não impediram necessariamente o declínio da biodiversidade.
“As ações de conservação funcionam, isto é o que a ciência nos mostra”, afirma o biólogo Martin Harper, CEO da BirdLife International (SAVE no Brasil). “Precisamos investir cada vez mais na natureza, abrangendo ações em uma escala maior e megadiversa. Para Harper, argumentos econômicos para investir na conservação são fortes. “Mais da metade do PIB mundial, quase 44 bilhões de dólares, depende diretamente da natureza, precisamos que o mundo invista mais na conservação”, conclui.
Para a pesquisa de nível global, foram analisados 186 estudos, com a inclusão de 665 ensaios, com o intuito de não existirem limitações a projetos individuais, com abrangência de mais de 100 anos de projetos de conservação a nível mundial. Foram avaliados o impacto de conservação das ações que abordaram pressões diretas sobre a biodiversidade, com foco em salvaguardar o meio ambiente e promover a restauração e recuperação de populações e habitat, em comparação a resultados sem intervenções.
Os resultados mostraram que as intervenções de conservação, incluindo o estabelecimento de áreas protegidas, o controle de espécies invasoras e a redução da perda de habitat, melhoraram a biodiversidade, ou abrandaram o seu declínio, em dois terços dos casos.
“Trazendo um exemplo desta abordagem no Brasil, os pesquisadores mostraram que as áreas protegidas e as terras indígenas reduzem a taxa de desmatamento e a densidade de incêndios na Amazônia brasileira. Fora dos perímetros das reservas, o desmatamento chegou a ser 20 vezes maior e incêndios por causa humana foram até nove vezes mais frequentes”, conta o biólogo Pedro Develey, diretor executivo da SAVE Brasil.
Um outro exemplo é o aumento da população natural de salmão Chinook, no centro de Idaho (EUA), sem impactos para a população selvagem. Em média, os animais levados para o incubatório produziram 4,7 vezes mais descendentes adultos e 1,3 vezes mais descendentes adultos de segunda geração do que os peixes de reprodução natural. Na Bacia do Congo, o desmatamento foi 74% menor nas concessões madeireiras sob um Plano de Manejo Florestal (PMF) em comparação com concessões sem um PMF.
Apesar do impacto global positivo da conservação, o estudo também concluiu que em 21% dos casos estudados, a biodiversidade diminuiu sob os esforços de conservação, em comparação com nenhuma ação. Harper reforça que esse resultado não significa que as ações não funcionam, mas que “as estratégias de conservação são por vezes aprendidas por tentativa e erro e necessitam de melhoria e adaptação contínuas”.
Para Develey é importante destacar a relevância da pesquisa e o alcance das informações. “O estudo também encontrou uma correlação que sugere que a conservação está a tornar-se mais eficaz ao longo do tempo, à medida que as estratégias e técnicas melhoram. Esse resultado é também um convite para nos unirmos com ações de conservação”.
Segundo a IUCN , 44 mil espécies estão documentadas como em risco de extinção, incluindo 41% dos anfíbios, 26% dos mamíferos e 12% das aves. Os autores esperam que este estudo informe as metas globais de biodiversidade e sirva como um apelo à ação para os governos, a sociedade civil, os particulares e as empresas investirem mais na conservação, ao mesmo tempo que abordam os fatores que impulsionam a perda de biodiversidade.