Novo Nordisk perde valor após resultado negativo do Ozempic oral

O medicamento Ozempic, da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, não conseguiu atingir o objetivo primário de retardar a progressão da doença de Alzheimer em dois estudos clínicos de alto risco. O anúncio, feito nesta segunda-feira (24), gerou uma forte reação no mercado, levando as ações da empresa a despencarem até 12,4% em Copenhague, atingindo o menor nível desde julho de 2021.

Os testes, que utilizavam a versão em comprimido do Ozempic, buscavam expandir o uso do medicamento — já consagrado no combate à obesidade e diabetes — para tratar a doença neurodegenerativa. A Novo Nordisk informou que os pacientes que receberam o tratamento não apresentaram uma desaceleração na progressão do declínio cognitivo, e a empresa decidiu interromper a extensão planejada de um ano dos estudos.

O resultado negativo representa um revés para a Novo Nordisk sob o comando do novo CEO, Mike Doustdar, que assumiu em agosto. A empresa já vinha enfrentando dificuldades para recuperar a liderança no lucrativo mercado de obesidade, perdida para a concorrente americana Eli Lilly.

Para analistas, o teste de Alzheimer era uma aposta de alto potencial, embora arriscada. “Era um bilhete premiado que poderia ter gerado muito dinheiro,” disse Per Hansen, economista de investimentos da Nordnet. O sucesso poderia ter gerado até US$ 5 bilhões em receita anual adicional, segundo estimativas do Morgan Stanley.

O medicamento da Novo Nordisk imita o hormônio intestinal GLP-1 e já demonstrou benefícios em diversas condições relacionadas à obesidade, incluindo a prevenção de ataques cardíacos e derrames. Pesquisadores acadêmicos tinham esperança de que ele mostrasse algum benefício, pois estudos observacionais indicavam que pessoas que usaram medicamentos como o Ozempic por muitos anos apresentavam menor risco de desenvolver demência.

O diretor científico, Martin Holst Lange, afirmou em comunicado que a empresa sentiu ter a “responsabilidade de explorar o potencial da semaglutida” (o principal ingrediente ativo). Embora o tratamento tenha resultado em melhora de algumas medidas fisiológicas ligadas ao Alzheimer, isso não se traduziu em uma desaceleração tangível da progressão da doença.

A decepção foi amplificada pelo fato de a empresa não ter destacado sequer um sucesso em um pequeno grupo de pacientes. “O fato de os estudos não terem demonstrado benefícios tangíveis e de a declaração da empresa não mencionar perspectivas positivas para certos pacientes é provavelmente a principal razão pela qual as ações sofreram uma queda tão acentuada”, escreveu Jared Holz, estrategista de saúde da Mizuho.

Apesar do revés, a Novo Nordisk havia classificado os testes como uma aposta de alto risco, com analistas do Morgan Stanley estimando uma probabilidade de falha de cerca de 75% antes mesmo dos resultados.

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