Não há nenhuma dúvida que a criação de um conselho em empresas prestadoras de serviço de tecnologia é uma estratégia que pode trazer inúmeros benefícios. O conselho atua como um órgão de supervisão e orientação, ajudando a empresa a tomar decisões estratégicas e a se manter atualizada sobre as últimas tendências tecnológicas.
O conselho fornece uma visão externa e imparcial, ajudando a empresa a identificar oportunidades e ameaças no ambiente de negócios. Além disso, o conselho pode ajudar a empresa a se manter em conformidade com as regulamentações e leis relevantes.
No entanto, é importante que a empresa tenha um processo claro para a seleção dos membros do conselho, para a definição de suas funções e responsabilidades, mas principalmente o nível de maturidade na gestão de uma empresa é um fator crucial para a criação de um conselho eficaz.
É importante que a empresa tenha prontidão organizacional, ou seja um nível de maturidade mínimo na gestão, com estruturas e processos bem estabelecidos. É importante que haja uma cultura de governança, que enxergue o valor em criar um conselho e estar disposta a ouvir e agir com suas recomendações. A empresa também precisa estar madura no que tange a responsabilidades e transparência, que são essenciais para o funcionamento eficaz de um conselho, onde os membros terão uma visão clara do desempenho da empresa.
Infelizmente, este assunto ainda está começando nas empresas prestadoras de serviços de tecnologia, encontramos hoje uma demanda que tem crescido, especialmente em startups, empresas de capital aberto ou de porte grande, poucas empresas de porte médio e quase nenhum de porte pequeno. O percentual de empresas com comitês de Inovação, Tecnologia e Transformação Digital quase dobrou, de 8% para 15%, isto sugere que mais empresas de tecnologia estão reconhecendo a importância de ter um conselho.
Durante os anos em que tenho atuado nesta função com startups e empresas, percebo que quando falamos do posicionamento de mulheres nestes conselhos, seja administrativo ou consultivo, é muito baixo, e por vezes não representativo, ou seja, uma peça dentro de uma estratégia de marketing. As empresas usam esta estratégia para melhorar a imagem corporativa, mostrando que ela valoriza a igualdade e a inclusão; o aumento da relevância do mercado e a promoção da ética empresarial. Cabe a mulher, que ocupa esta posição, ter voz dentro conselho, pois nós trazemos perspectivas únicas e valiosas para a mesa de debates, ajudando a levar a melhores decisões de negócios e a um desempenho financeiro mais forte.
Apesar do aumento da representatividade feminina no setor de tecnologia, o mercado ainda é predominantemente masculino. Segundo um levantamento do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), as mulheres ocupam apenas 15,2% das cadeiras em conselhos de administração, fiscais e diretorias de capital aberto do Brasil. Em outro estudo, foi constatado que apenas 20% das empresas entrevistadas tinham entre 40% e 50% de mulheres nos seus conselhos. Na maioria delas (76%), a proporção feminina era inferior a 30%
A pesquisa “Women in the boardroom: a global perspective” (2023), resulta em um relatório global da Deloitte sobre a diversidade de gênero nos conselhos de administração e as mulheres na liderança. Este relatório constata que as mulheres ocupam menos de um quarto dos assentos nos conselhos de administração do mundo (23,2% em 2023), a previsão é que a paridade de gênero em conselhos não seja alcançada antes de 2028 e possivelmente mais tarde, e não existe um caminho claro para a paridade de gênero no cargo de presidente do conselho.
Globalmente, a percentagem de mulheres que presidem conselhos de administração é quase três vezes inferior à percentagem de mulheres que exercem funções em conselhos de administração, com apenas 8,4% dos conselhos de administração a nível mundial a serem presididos por mulheres. Os números são baixos mesmo em países com quotas de género.
O argumento comercial para a diversidade já foi estabelecido há algum tempo. Empresas com conselhos mais diversificados demonstraram que tendem a ter melhor desempenho financeiro. Além disso, as organizações que são mais diversificadas como um todo no que diz respeito ao género – desde altos executivos e membros do conselho de administração até gestores e funcionários – tendem a superar aquelas que são menos diversificadas em termos de género.
O que permanece em questão, porém, é com as mulheres sub representadas nos conselhos de administração das empresas a nível mundial, por que é que as organizações e os investidores não estão fazendo mais para concretizar os benefícios que a diversidade dos conselhos de administração traz?
Usando uma lógica baseada nas pesquisas globais, o aumento da diversidade de gênero nos conselhos, não apenas melhora a imagem da organização, mas também melhora seu desempenho geral.
Olhando para as empresas de prestação de serviços em Tecnologia, o caminho é mais árduo, pois elas ainda estão entendendo a importância, ganhos e benefícios de se ter um conselho, para em seguida nos posicionarmos como uma boa opção para obter os resultados esperados.
Eu espero encontrar cada vez mais empresas de tecnologia implantando seus conselhos e mais mulheres participando destas posições.
Fonte: Tânia Mara Leal
Board Member | Executive Data & Innovation & TI | Speaker | Teacher