O ENGANO DAS MÉDIAS!

Imagem: Unspash / Luka Savcic

O falecido jornalista Joelmir Beting tinha uma máxima que desnuda a ilusão das médias. Dizia ele: “Se eu como um frango inteiro e você não come nenhum, não se preocupe, na média comemos meio frango cada um.”

Estatística, como qualquer ferramenta, precisa ser utilizada com o devido entendimento e interpretação, e nunca ser assumida de forma absoluta.

Por vezes, conversando sobre planejamento financeiro, vejo muitas pessoas assumindo para si a expectativa média de vida da população brasileira, que é de 76,4 anos, sendo 73,1 anos para os homens e 79,7 para as mulheres.

De início, precisamos entender como essas médias são calculadas e quais os fatores que as influenciam. Já ouvimos que a expectativa de vida no século XIX, por exemplo, era pouco mais de 40 anos. Mas isso se devia, principalmente, à alta mortalidade infantil. Naquela época, se o cálculo fosse efetuado considerando somente pessoas que atingissem 15 anos, a expectativa média subiria para 62 anos.

Além da alta mortalidade infantil, guerras e epidemias contribuíam para a baixa expectativa de vida.

A partir do século XX, com o avanço da medicina e o desenvolvimento de novos medicamentos, houve uma redução drástica da mortalidade infantil e, com o fim das guerras mundiais, houve um aumento significativo da expectativa média de vida — com exceção do período da pandemia de COVID.

No Brasil de hoje, quando olhamos para essas médias, precisamos levar em consideração outros fatores, tais como: a grande desigualdade socioeconômica, que acaba refletindo na desigualdade de acesso à saúde básica e ao atendimento especializado, bem como o grande número de mortes por acidentes de trânsito e em consequência da violência.

Observando a distribuição de renda em nosso país, vemos que 90% da população ganha menos de R$ 4 mil por mês, sendo que somente 5% tem rendimento superior a R$ 7 mil mensais.

Voltando à história do frango mencionada no início, dependendo da faixa de renda em que você se enquadra, a média pode não fazer sentido — principalmente se se tem acesso à medicina privada, exames preventivos de rotina, entre outras coisas necessárias à subsistência.

Nesta altura, emerge com maior clareza qual a importância do tema. As pessoas, quando fazem planejamento financeiro, têm uma tendência a serem mais otimistas na linha da receita. Contamos com o ovo dentro da galinha e subestimamos os gastos, principalmente os relacionados à saúde.

Se a esses fatores adicionarmos a subestimação da nossa expectativa de vida, o resultado não será nada confortável.

As pesquisas comprovam que os fatos mais recentes têm maior relevância na forma como percebemos nossa experiência pessoal, independentemente da intensidade. Explico: imagine um casal que teve 25 anos fantásticos de vida conjugal, mas os últimos 3 anos anteriores ao divórcio foram terríveis. A lembrança que ficará será de um casamento ruim, apagando o período romântico que tiveram.

Essa descoberta traz em si uma nova questão quando pensamos no futuro. Tão importante quanto programar o presente é planejar o futuro grisalho — e isso vale para pessoas de todas as idades. Quanto mais cedo começar, melhor estará preparado. Serão os últimos anos da vida que definirão o estado de felicidade na hora da partida.

Ter uma boa base financeira é meio caminho andado. Com o problema mundial de déficit público e queda da natalidade, contar com a previdência social não é prudente.

É lugar-comum, mas não posso deixar de mencionar: tudo tem dois lados. Ter uma vida longa sempre fez parte dos nossos desejos e orações, mas não existe almoço grátis. Vida longa significa mais tempo de trabalho, necessidade de aprendizado contínuo, necessidade de maior reserva financeira e requer planejamento de como continuar ativo e evitar o encolhimento da sua rede social.

Não banque o avestruz enterrando a cabeça na areia, como se não querer encarar a realidade evitasse que ela se consuma. Não espere terminar um ciclo para pensar no próximo — faça em paralelo. Não há nada mais prejudicial do que a crença de que “em time que está ganhando não se mexe”. Quando começar a perder, não haverá tempo, calma nem recurso suficiente. Sob estresse e pressão, o resultado fica aquém do seu verdadeiro potencial.

Viva o presente sem perder de vista o futuro!

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