Em vários momentos nos encontramos em encruzilhadas que vão marcar a nossa vida, e é preciso tomar uma decisão. Não tomar uma decisão já é uma decisão, logo, não existe opção de não decidir.
Algumas vezes a oportunidade se apresenta sem que a tenhamos buscado conscientemente; em outras, decidimos construir ativamente as alternativas e quando esta se apresenta, a decisão parece fácil e óbvia. Engano, a decisão difícil e importante foi a anterior, a de querer sair do marasmo e a de buscar alternativas.
Todos os casos sempre envolvem escolhas. Permanecer no atual emprego no qual você não vê expectativa de desenvolvimento, mas que o salário e os benefícios são atraentes, ou começar uma nova carreira muito mais estimulante, mas que literalmente vai abalar toda sua segurança financeira. Poderíamos incluir muitos outros casos, como por exemplo, manter ou não relacionamentos que já não tem mais cumplicidade nem admiração.
Na escola aprendi que a menor distância entre dois pontos era uma reta. Hoje sei que isso vale só para figuras bidimensionais em superfícies planas. Mas, na realidade, como o mundo não é plano e a menor distância entre dois pontos é uma curva geodésica.
Antigamente, quando eu fazia meu planejamento de carreira, marcava onde estava e aonde queria chegar, meu objetivo e fazia gap analysis ( competências que seriam necessárias desenvolver para atingir meu objetivo). Fiz isso com ajuda de profissionais e outras vezes, sozinho. Poderia dizer que era um euclidiano clássico. Marcava dois pontos, traçava uma linha reta, definia um plano e pau na máquina!
Se deu certo? Sim, mas poderia ter sido muito mais eficiente, ter sofrido menos!
Hoje vejo que não basta saber onde estou e aonde quero chegar. Preciso saber quem eu sou. Calma, não quero discutir sobre quem sou eu, de onde vim e para onde vou!
Como todo jovem, eu tinha certeza das coisas que eu sabia, era radical nos meus pontos de vista e agia de forma intensa.
Tinha muito claro meus projetos e, se outros não os entendiam, o problema eram os outros, com sua má vontade e falta de inteligência. As objeções eram percebidas quase como um ataque pessoal e, com isso, criar conexões com meus pares ficava difícil.
Ainda que soubesse que as reações de cada um estão condicionadas ao seu perfil, (pessoas mais sociáveis ou comunicativas lidam muito melhor com críticas, enquanto, os de perfil técnico as recebe como atestado de incompetência), isso só me ajudava a controlar a minha primeira reação, a contar até três, mas não ajudava a estabelecer conexões.
Nós, em geral, não temos consciência do sistema de valores que nos foi passado na infância e de que maneira que ele está impactando a nossa maneira de agir, de tomar decisões e de como tratamos as pessoas. Todos carregamos inconscientemente um sistema de valores herdados da infância, e, ainda que tenhamos feito alguns ajustes em função de experiência acumulada ao longo da vida, a essência permanece, e por ser tão familiar, nos parece certo.
Explico, se uma pessoa quando criança, sempre desafiado a provar seu valor, quando adulto, se alguém faz alguma observação crítica sobre o seu trabalho, isso pode acionar o gatilho ressuscitando os traumas da infância e suas dores.
Ou então, alguém que cresceu num ambiente pouco acolhedor onde seus feitos nunca foram reconhecidos e valorizados, qualquer crítica pode acionar todo sentimento acumulado de incapacidade, de que é um impostor.
Saber quem somos, ter autoconsciência, exige coragem, tempo e ajuda de um analista para mergulhar e descortinar nossos fantasmas e entender nossos traumas, para que possamos entender a maneira como reagimos, como julgamos os outros e a nós mesmos. E assim, seremos capazes de mudar a nossa forma de reagir e responder, de uma forma sustentável, diante de todas as encruzilhadas que a vida nos coloca.
Se soubesse que a grande parte das soluções estava ao meu alcance, que eu poderia mudar a forma das minhas reações e respostas, ao invés de culpar ou esperar mudanças dos outros, teria poupado enormemente o meu fígado e sido muito mais eficiente.