Como esse “turismo do silêncio” se diferencia de outras tendências de viagem
Enquanto o mercado global de luxo enfrenta dificuldades em entregar seu principal atributo — a distinção —, uma nova moeda de status ganha força entre os mais ricos: o silêncio. Segundo o antropólogo Michel Alcoforado, autor de Coisa de Rico, a próxima década será marcada pela busca de bens intangíveis: tempo, silêncio e, sobretudo, paz.
Em entrevista à Forbes Brasil, Alcoforado explica que “o turismo do silêncio, os retiros e a espiritualidade devem ganhar uma importância enorme como forma de distinção”. Em um mundo em que todos têm acesso a marcas e experiências semelhantes, o verdadeiro luxo passa a ser desconectar-se, parar e não ser visto.
O que é o turismo do silêncio?
O chamado “turismo do silêncio” é uma tendência crescente entre viajantes que buscam escapar do excesso — de estímulos, de compromissos, de ruído e de telas.
Trata-se de uma viagem voltada não para o consumo, mas para a introspecção: menos selfies e roteiros cheios, mais contemplação, natureza e descanso mental.
Se antes o luxo era representado por logotipos e experiências compartilháveis nas redes, agora ele se traduz em privacidade, tempo livre e paz interior — bens raros na era da hiperconectividade.
Por que agora?
A mudança é fruto de uma fadiga global. Depois de anos de aceleração tecnológica e exposição digital constante, o silêncio tornou-se escasso — e, portanto, valioso.
O antropólogo observa que as elites começam a migrar do ter para o ser: “ter tempo e tranquilidade virou o novo símbolo de poder”.
Os dados confirmam o movimento. De acordo com pesquisas recentes do setor de turismo de luxo, a procura por retiros de bem-estar, digital detox e destinos remotos cresceu mais de 40% nos últimos três anos. No Brasil, resorts e pousadas de alto padrão já adaptam suas experiências para oferecer ambientes de recolhimento e quietude.
Onde o luxo encontra o silêncio: destinos que traduzem a tendência
1. Mama Shanti Retreat – Bahia, Brasil
Em meio à natureza exuberante da Bahia, o Mama Shanti Retreat oferece um refúgio dedicado à paz interior. Com experiências de yoga, respiração e silêncio, o local convida os hóspedes a se desconectarem completamente do mundo exterior. O som das cigarras substitui as notificações, e o tempo parece desacelerar.
É um destino ideal para quem busca o equilíbrio entre natureza, espiritualidade e conforto.
2. Maravilha Retreat Center – Búzios (RJ), Brasil
Com vista para o mar e arquitetura minimalista, o Maravilha Retreat Center foi criado para ser um espaço de descanso profundo e reconexão. Longe do turismo barulhento de Búzios, o centro aposta em hospedagens silenciosas, alimentação natural e práticas de meditação.
A ideia é simples: descansar sem pressa, viver sem urgência.
3. Ananda in the Himalayas – Uttarakhand, Índia
Nos Himalaias, o Ananda é considerado um dos melhores resorts de bem-estar do mundo. Oferece programas de ayurveda, ioga e terapias de silêncio, com vista para o Vale do Ganges. O ar puro, o isolamento e a filosofia oriental criam uma atmosfera que redefine o conceito de luxo — aqui, a exclusividade vem do equilíbrio espiritual, não do consumo.
4. Hridaya Silent Retreat – Chiapas, México
Um dos retiros mais procurados da América Latina, o Hridaya Retreat propõe dias inteiros de silêncio absoluto. Sem celulares, sem conversas, apenas meditação e introspecção. É uma experiência que atrai empresários, executivos e criativos em busca de clareza mental e propósito.
O verdadeiro luxo, neste caso, é ouvir o próprio pensamento.
Conclusão
O silêncio, outrora banal, tornou-se artigo de luxo.
Mais do que uma moda passageira, o turismo do silêncio revela uma mudança cultural profunda: o retorno à simplicidade como forma de distinção. Enquanto a ostentação perde espaço, a serenidade se transforma em símbolo de poder e autenticidade.
Em um mundo que nunca para, talvez o verdadeiro privilégio seja simplesmente poder ficar em silêncio.
Característica | Turismo convencional | Turismo do silêncio |
---|---|---|
Objetivo principal | Visita a destinos turísticos populares, experiências visuais, postagens, consumo visível | Busca de paz, introspecção, desconexão, silêncio |
Visibilidade | Alta: fotos, social media, evidência externa | Menor visibilidade pública, mais pessoal, intimista |
Marca-status | Marca de luxo, ostentação | Distinção sutil: “eu não preciso me mostrar”, ou “eu vim para não ser visto” |
Tempo | Frequentemente acelerado, itinerário cheio | Ritmo mais lento, espaços de pausa, contemplação |
Atividades | Muito movimento, turismo ativo, busca de “novidade” | Atividades minimalistas ou nenhum estímulo externo forte — meditação, caminhada silenciosa, leitura, contemplação |