Quem já conviveu com alguém que, de início, aparentava ser carismático e culto, esbanjava espiritualidade mas que, ao longo da convivência, começou perceber contradições entre o discurso e a prática, provavelmente teve a sensação de que, talvez, estivesse sendo crítico demais, concluindo que “é só o jeito dele, no fundo é uma boa pessoa” e tentou seguir adiante.
Baseados em nossos princípios e valores tentamos entender o que para nós, muitas vezes, é incompreensível. Como alguém que se diz religioso e ostenta símbolos da sua fé no seu escritório e na sua casa, pode viver casos extraconjugais com naturalidade, a ponto de compartilhar como se fosse uma vantagem. Pensamos , é só um caso de puro machismo juvenil tentando aliviar o desconforto.
Ou então, quando se imaginava que fossem amigos, mas é pego de surpresa quando percebe que a amizade, na verdade, era simplesmente uma relação de interesses que durou enquanto você tinha algo a oferecer no presente ou um potencial futuro. Era uma relação calculada.
Por vezes, nos relacionamos com pessoas no ambiente de trabalho que são hábeis em transferir responsabilidade por seus erros cometidos e em se apropriar do feito alheio com tanta naturalidade que, quem não está a par do dia a dia do trabalho, acredita piamente.
Para muitos, é difícil acreditar que pessoas assim existam. Parecem mais personagens extraídos de um romance, mas esquecemos que os personagens dos romances são baseados em pessoas reais.
Essas são algumas das características dos psicopatas. Ao contrário do que muitos podem pensar, os psicopatas não se resumem a assassinos em série. Se assim o fosse, o sofrimento seria muito mais limitado.
Pesquisas indicam que 3% da população mundial sofrem de psicopatia em diferentes níveis, e 16% das altas posições do mundo corporativo são ocupadas por psicopatas.
A característica básica do psicopata é a ausência do sentimento de culpa. Isto se explica pelo fato das amígdalas (órgão localizado no cérebro e responsável por regular as emoções) ser menor nos psicopatas.
A ausência do sentimento de culpa aliada a uma inteligência acima da média com especial capacidade de leitura do próximo, os torna manipuladores por excelência.
Quando perseguem um objetivo, desconhecem limites éticos, legais ou morais. A única força capaz de detê-los, temporariamente, é os desmascarando. Mas rapidamente se recompõem e vão atrás de novas vítimas. O ditado “os fins justificam os meios”, se aplica perfeitamente ao seu “modus operandi”.
E por que será que eles têm sucesso no mundo corporativo?
A transformação do ambiente empresarial ocorrida nos últimos 50 anos, com pressão crescente para obtenção de resultados de curto prazo objetivando saciar os interesses do mercado acionário, criou um ambiente propício para cultuação da personalidade em detrimento do caráter.
Pessoas que estão dispostas a deixar as regras de lado para atingir os objetivos têm guarida e acolhimento em organizações ávidas por mostrar resultados de curto prazo, o que, em geral, significa que os interesses de longo prazo estão negligenciados. Mas de acordo com a lógica destes, longo prazo é problema do próximo.
Alguns perguntam se psicopatia é tratável. Em primeiro lugar, seus comportamentos não lhes causam nenhum sofrimento, pois são desprovidos de sentimento de culpa. Logo, não veem nenhum motivo para buscar ajuda. Esporadicamente, o fazem sob pressão, mas logo encontram uma forma de parar.
Se não são tratáveis, qual a melhor maneira de lidar com esses indivíduos?
Sempre que possível, mantenha distância. É a melhor forma de se proteger de uma relação tóxica.
Uma dica para identificar qualquer tipo de relação tóxica: sempre que você sai pior de um encontro é um sinal claro de que a relação é tóxica.