Superar a pobreza por meio da troca de experiências e do desenvolvimento de pequenos negócios, incentivando a poupança e a criação de redes de economia solidária e cooperativa, é o objetivo da metodologia GOLD+ (Grupo de Oportunidades Locais de Desenvolvimento) aplicada pelo ChildFund Brasil. No último ano, a iniciativa contou com a participação de 689 mulheres em 13 municípios distribuídos nos estados da Bahia, Ceará, Minas Gerais e Piauí, com nove organizações parceiras que colocaram o curso de empreendedorismo e educação financeira em prática. Os grupos participantes conseguiram economizar, juntos, mais de 400 mil reais, demonstrando o impacto da iniciativa na vida financeira das famílias.
“Um dos nossos objetivos é criar futuros para as famílias em situação de vulnerabilidade. A partir do momento em que a criança é apadrinhada, as mães podem ser convidadas a participar do GOLD+. Ao oferecer essa oportunidade às mulheres e as atividades às crianças, reduzimos a possibilidade da situação de vulnerabilidade dessas famílias aumentar, pois elas evitam a exploração do trabalho infantil. E o vínculo comunitário aumenta, fortalecendo, assim, a rede de proteção ao público infantojuvenil na comunidade”, explica Mauricio Cunha, diretor de país do ChildFund Brasil, organização com mais de 58 anos de atuação no país em defesa dos direitos da criança e do adolescente.
Como funciona na prática?
O ChildFund Brasil capacita as organizações parceiras sobre a metodologia, preparando-as para formar e empoderar mulheres da comunidade. Os cursos oferecidos abrangem empreendedorismo, educação financeira e gestão de recursos, com foco especial na importância da poupança. Cada grupo define sua governança e deve estabelecer uma rotina de encontros, formações e trocas de experiências com outros grupos produtivos, fortalecendo suas habilidades e potencial empreendedor. Além de possibilitar que os membros iniciem pequenos negócios individuais para geração de renda, o grupo pode optar pela criação de um empreendimento coletivo, comercializando produtos e serviços na comunidade. As organizações parceiras apoiam esse processo desde o início, oferecendo capacitações, auxiliando na estruturação da governança e acompanhando reuniões, monitorando iniciativas e eventos. No entanto, a gestão dos recursos financeiros fica a cargo do próprio grupo, promovendo autonomia e sustentabilidade.
Os grupos são formados por 10 a 25 mulheres que poupam juntas ao longo de um ciclo de 9 a 12 meses, gerenciando-se de forma autônoma, debatendo questões da comunidade e utilizando a poupança acumulada para empréstimos aos membros, seja para investimentos, necessidades básicas ou emergências. No final do ciclo, o valor arrecadado é partilhado proporcionalmente entre as participantes. Além da geração de renda individual, os grupos podem criar um empreendimento coletivo para comercialização de produtos e serviços na comunidade. Também há um Fundo Social, destinado a doações para membros em situações críticas ou para apoio a pessoas externas ao grupo, cobrindo despesas emergenciais, como funerais, incêndios e desastres naturais.
Jacsiele Santos é um exemplo do impacto positivo do GOLD+ na vida das participantes. Ela descobriu seu potencial empreendedor ao fazer um curso de capacitação oferecido pelo GCRIVA (Grupo Criança Em Busca De Uma Nova Vida), em Vespasiano (MG), organização parceira do ChildFund Brasil. “Hoje, consigo ajudar com as despesas em casa, produzindo biscoitos caseiros. Quando você encontra uma instituição que dá uma oportunidade como esta, faz a mulher descobrir que ela não é somente uma dona de casa, mas sim, uma pessoa que pode ir além, que pode seguir sua vida, independentemente de onde estiver”, relata.
Também participante das atividades no GCRIVA, para Vanielle Santos, o GOLD+ significou empoderamento e autonomia financeira. “Aprendi a produzir pães caseiros, cerâmica, artesanato e costura. O GOLD+ trouxe mais empoderamento para a minha vida e maior independência financeira, pois eu dependia do meu marido. Percebi que sou uma mulher de valor enorme e eu não notava isso, por não trabalhar”, comenta.
Além do impacto financeiro e profissional, a reunião dos grupos, na aplicação da metodologia, também trouxe um papel de suporte emocional e comunitário. Alessandra Andrade, também de Vespasiano, compartilha sua experiência ao lidar com uma perda dolorosa. “Eu perdi minha filha de três anos para o câncer. Durante esse momento difícil, as mulheres do GOLD+ me deram aconchego e apoio. Tive a oportunidade de participar de um curso de empreendedorismo, por meio da metodologia. O que nós produzimos aqui, apresentamos em feiras, eventos na comunidade e em cidades vizinhas, como Belo Horizonte”, complementa.
Confira as organizações participantes
Na Bahia, a cidade de Anagé conta com a participação da ASPAIJ. No Ceará, as ações estão presentes em Fortaleza, por meio do PROCIF, em Limoeiro do Norte, com a AUPP, e em Ocara, representadas pelo MAFO. Em Minas Gerais, o GOLD+ também é realizado no Vale do Jequitinhonha, abrangendo Berilo, onde está a AMAI; Carbonita e Diamantina, com o PROCAJ; e Catuji, Itaipé e Padre Paraíso, onde a ASCOOP lidera os trabalhos. Além do município de Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde se localiza o GCRIVA. No Piauí, as cidades de Cristino Castro e Santa Luz têm a participação da ASSCAD e do PACE. Mais informações, acesse www.childfundbrasil.org.br.