Os valores mudam com o tempo, na era do comportamento, “não é mais o que se faz que o diferencia dos outros, mas como se faz o que faz”. Seidman, 2009

É imperativo repensar as relações humanas que norteiam nossas vidas, assumindo responsabilidades por nós mesmos, pelos outros, pelo planeta e pelas futuras gerações que o habitarão.

Há bem pouco tempo atrás a poluição era compreendida como um mal indesejável, mas necessário ao desenvolvimento. Tanto é assim, que as chaminés, eram sinônimas de progresso e desenvolvimento provenientes do processo de industrialização.

Contudo, dado o estágio atual de degradação ambiental que isto ocasionou, há uma mudança perceptual. Hoje, a poluição é compreendida como um recurso produtivo desperdiçado, matéria-prima cara, gerando efluentes, havendo necessidade de uma economia circular.

Na economia circular, o que é resíduo de um processo passa a ser reintegrado em uma nova cadeia de valor com um valor agregado igual ou superior ao valor do produto original quando descartado.

Mudança de paradigma

Por décadas, extraímos recursos naturais, destruímos habitats críticos e geramos poluição. Essa relação de mão única é insustentável, haja vista as três crises planetárias – emergência climática, perda da biodiversidade, poluição.

Logo, precisamos redefinir o equilíbrio, reinvestindo na natureza o máximo que extraímos dela. É hora de reconhecer o valor da natureza e, ao invés de uma abordagem linear em que as coisas são usadas e descartadas, precisamos aplicar o pensamento circular onde as coisas são continuamente aproveitadas.

Outro fator igualmente importante é a conservação da natureza e o planejamento integrado do meio ambiental nos processos decisórios. Por exemplo, as medidas de proteção aos estoques de carbono não apenas podem desacelerar os efeitos das alterações climáticas, como também têm o potencial de proteger a vida selvagem e única e insubstituível das florestas tropicais. Para isso, é fundamental colocar a proteção da biodiversidade no mesmo patamar de importância do carbono.

Questão das escolhas que fazemos.

Se considerarmos que, no Brasil, ¾ das emissões de gases de efeito estufa estão relacionados com os setores de Mudanças do Uso da Terra e Florestas, necessário conservar e recuperar áreas naturais responsáveis pela provisão de serviços ecossistêmicos, comprometidos com o fim do desmatamento ilegal em todos os biomas, com a proteção de solos, os sistemas agroflorestais, a integração lavoura-pecuária-florestas (ILPF) e a bioeconomia da floresta em pé e rios fluindo, recuperando matas ciliares e fomentando a manutenção de áreas de preservação permanente.

No mais, a jornada em direção à descarbonização requer a colaboração de diversos setores da sociedade, não só contribuindo para a transição energética, mas com grandes restaurações florestais, praticando agricultura regenerativa, bem como se conscientizando de que não podemos abrir novos poços de petróleo.

Isto porque, em 17 de maio, o presidente do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) acompanhou parecer técnico da Diretoria de Licenciamento Ambiental do órgão federal que negou a licença solicitada pela Petrobrás para perfurar um poço de exploração de petróleo no bloco marítimo, na bacia da Foz do Amazonas, alegando um “conjunto de inconsistências técnicas preocupantes para a operação segura em nova fronteira exploratória de alta vulnerabilidade socioambiental”. A medida técnica gerou um embate político e acirrou a pressão pela reversão da decisão, apesar dos alertas de riscos à região megabiodiversa. (ClimaInfo, 2024).

Para Carlos Nobre, um dos mais reconhecidos cientistas globais e climatologista brasileiro, “com o que já existe, não vamos manter a temperatura de 1,5ºC. Vamos superar 2,5°C em 2050. Com isso, não se podem abrir novas minas de carvão, poços de petróleo e gás natural e não podemos usar o que já está aberto. Tem que se reduzir o uso. Isso porque já estamos vendo o que está acontecendo no mundo com 1,5ºC e, aqui no Brasil, com a maior seca da história da Amazônia, do Cerrado, do Pantanal e a maior chuva do Rio Grande do Sul”. (Valor Econômico, 15/05/2024).

Investindo no caos climático

A 15ª edição do relatório “Banking ond Climate Chaos” revela que os maiores bancos do mundo concederam quase US$ 7 trilhões em financiamentos para empresas de combustíveis fósseis desde a assinatura do Acordo de Paris. Para April Merleaxu, coatora do relatório e gerente de pesquisa e políticas na Rainforest Action Network (uma das ONGs que o coordena o relatório) “bancos que lucram com o caos climático inventam novas formas de fazer greenwashing a cada ano, mas temos os recibos que mostram quanto dinheiro eles investem em combustíveis fósseis”. (aeconomiaB, 15/05/2024).

Com isso, o setor privado tem um papel crucial como fonte de financiamento, como impulsionador da inovação e desenvolvimento tecnológico e como motor fundamental do crescimento econômico e do emprego, convertendo necessidades e as ambições de nível mundial em soluções empresariais.

Claro, que nada disso pode ser conseguido unicamente pelas empresas. É essencial boa governança, incentivos econômicos, condições adequadas e sólidas de um quadro jurídico institucional, bem como parcerias público-privada. No mais, não basta o governo declarar que vai combater a mudança climática se a política energética continua privilegiando a exploração de petróleo e gás (Capital Reset, 16/05/2024).

Referências:

a economia B. Bancos destinaram quase US$ 7 trilhões a combustíveis fósseis desde o Acordo de Paris. Notícias B: 15/05/2024. 

Chiaretti, D. “Não podemos abrir novos poços de petróleo”, alerta Carlos Nobre. Valor Econômico, 15/05/2024.

ClimaInfo. Por que NÃO devemos explorar a foz do Amazonas. 

Pinheiro, G. A Petrobras, o Brasil e a maldição de chegar atrasado. Reset: Carbono, 16/05/2024. 

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