Por vezes tendemos a confundir os meios com os fins. O meio serve para atingir um determinado fim, ele não é o fim em si mesmo, muitas vezes contudo, não nos damos conta do fim e só nos concentramos no meio.
É notória a história de um guarda num palácio, que ficava o dia inteiro vigiando uma parede. Até que um dia, alguém teve coragem e iniciativa para checar o porquê daquela inusitada situação. Descobriu-se que, muitos anos atrás, ali havia uma porta que dava acesso a um salão que precisava ser vigiado. Numa das reformas, a porta foi trocada por uma parede, mas o guarda continuou.
Isso infelizmente não é somente uma história, acontece nas nossas vidas e empresas.
Thomas Khun, no seu livro “A Estrutura das Revoluções Científicas”, nos fala que as mudanças de paradigma na sociedade ocorrem de forma abrupta quando os paradigmas vigentes já não explicam mais e, então, são substituídos. Ele estava focado em explicar como ocorrem as mudanças de paradigmas no mundo científico, mas podemos usar os seus conceitos para analisar as transformações socias.
As empresas tem como objetivo gerar riqueza duradoura para seus acionistas, assim foi no início do capitalismo e continua sendo até hoje, mesmo na era das empresas digitais. O objetivo permanece inalterado, porém a forma através da qual se procura atingir esse objetivo tem mudado. Muitas empresas, todavia, ainda continuam presas ao modelo do passado, de uma realidade que já foi não mais exuste. Não foram capazes de adotar os novos paradigmas.
Basta um rápido olhar para verificar como as empresas mais modernas de tecnologia estão organizadas no trato com seus colaboradores. Abundam histórias de tênis de mesa no ambiente de trabalho, comida à disposição, academia de ginástica, flexibilidade de horário e muito mais.
Alguém poderá argumentar que também colocou uma mesa de ping pong na sua empresa, mas que não teve nenhum efeito positivo. Ninguém sequer foi jogar.
Adotar medidas isoladas, fora de um ecossistema integrado e coerente, é perda de dinheiro e tempo. Se alguém acredita que medidas cosméticas por si só são capazes de gerar engajamento, comprometimento e dedicação, deveria escrever carta para o Papai Noel.
Nos primórdios do desenvolvimento capitalista, tudo que era requerido dos funcionários era basicamente sua força física. O trabalho estava parametrizado e os mecanismos de controle permitiam que a produtividade do trabalho pudesse ser controlada. Controlar idas ao banheiro, por exemplo, era uma forma de garantir uma maior produção. O sistema baseado em comando e controle era perfeitamente adequado ao sistema de produção da época.
Atualmente boa parte dos trabalhos repetitivos estão em fase, ou já foram, mecanizados. Hoje o mercado é muito mais dinâmico, as mudanças são permanentes e precisamos nos adaptar rapidamente, com o risco de sermos extintos.
As respostas de antigamente, as formas organizacionais de outrora já não servem mais. As ideias de controle, como forma de garantir a produtividade e lucro, estão fora de contexto.
O foco não é mais o controle, mas como motivar as pessoas a serem produtivas. Lembre-se, ninguém se motiva se não por vontade própria, ninguém tem alta performance por pressão externa.
Ter uma equipe de alta performance significa ter uma equipe com desempenho superior aos meus concorrentes. Mas como construir este time?
Pessoas criativas, comprometidas e com alta iniciativa não são motivadas por mecanismos de comando e controle. Elas precisam de espaço e tempo para exercitar e desenvolver os seus talentos com direito a cometer erros proporcionais as suas funções. É um processo de construção de uma relação de confiança.
Permitam-me citar um dos meus autores preferidos, Rubem Alves que num dos seus contos nos diz: “ Somos assim. Sonhamos o voo mas tememos as alturas. Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência das certezas. Mas é isso que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são os lugares onde as certezas moram”.
Se queremos construir uma empresa, uma carreira neste mundo repleto de incertezas, temos de ter coragem para deixar o medo de lado: medo de perder o controle, medo de perder a autoridade, medo de perder o emprego.
O mundo trocou o controle por resultado, oito horas no ambiente de trabalho não é garantia de entrega. Respeito é muito mais inspirador do que autoridade e você precisa lutar mais por sua empregabilidade mais do que manutenção do seu atual emprego.
É preciso lideranças inspiradoras que prefiram acertar sozinhas a se esconder atrás do erro coletivo. É preciso coragem e atitude assumirmos os novos paradigmas e abandonar os pequenos sinais de poder que nos dão a falsa sensação de segurança de controle. Afinal, o que você busca: o controle ou resultado?