Pesquisa realizada pela Envex Engenharia e Consultoria mostra que todos os dias 58 toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU) são despejados nas águas dos rios e afluentes da Bacia do Alto Tietê, compreendida por 42 municípios que compõem a região metropolitana de São Paulo. Isso equivale dizer que todos os dias seis caminhões comuns de lixo vão parar nos rios.
O volume do lixo impacta diretamente no cotidiano das cidades por fazer parte da equação que causa alagamentos severos durante chuvas torrenciais como as que têm atingido a região metropolitana de São Paulo nos últimos dias. Os resíduos descartados incorretamente acabam em ruas e parques e são arrastados para as águas pelo vento e pelas chuvas.
O dado faz parte do documento Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, estudo encomendado pela Fabhat (Fundação Agência da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê), braço executivo do CBH-AT (Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê), feito pela Envex Engenharia e Consultoria e financiado pelo Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos).
A pesquisa também mostrou que, 195 mil habitantes da região metropolitana não têm coleta residencial de lixo, o que implica em 63 mil toneladas de resíduos domiciliares não coletadas por ano. Além disso, até 2023, nenhum dos 42 municípios que compõem a região metropolitana de São Paulo destinavam o lixo residencial para unidades de tratamento – ou seja, são lançados diretamente nos aterros sanitários.
Além disso, do total de resíduos gerados na Bacia do Alto Tietê, menos de 1% é reciclado— seja por ineficiência do poder público, dificuldade na separação e limpeza do lixo por parte da pessoa ou empresa, dificuldade no transporte, problemas de triagem (mesmo nas cooperativas isso não é tão eficiente), entre outras questões.
O município de São Paulo tem a maior geração de resíduos do Brasil e poderia resolver parte dos problemas com uma decisão administrativa simples: cobrança de taxa obrigatória por lei, determinada no artigo 19 do Novo Marco do Saneamento Básico (lei 14.026/2020). Além da capital paulista, não cumprem a lei as cidades de Arujá, Barueri, Caieiras, Carapicuíba, Cotia, Guarulhos, Itapevi, Jandira, Mogi das Cruzes, Santa Isabel, Suzano e Vargem Grande Paulista.
A Envex apresenta na pesquisa um planejamento para solucionar o problema do lixo nas cidades com plano de ações regionais, com soluções imediatas, que devem ser adotados entre 2025 e 2026; de curto prazo (2027 a 2031); médio prazo (2032 a 2035); e longo prazo (2036 a 2045), responsabilizando e nomeando as entidades responsáveis por desenvolver os programas, projetos e ações – já estruturados com planos e orçamentos pela Envex.
Helder Nocko, engenheiro ambiental, diretor na Envex e coordenador do estudo reconhece que politicamente pode ser difícil instituir taxas para lidar com o problema, mas afirma que se há recurso suficiente, existem possibilidades de fazer a gestão adequada dos resíduos. “O problema é que vários municípios, ao instituírem a taxa, não fazem a conta de quanto gastam, e a conta não fecha”, diz.
De acordo com Nocko, o trabalho de retirada desses resíduos é muito importante, mas precisa vir acompanhado da prevenção, ligada à coleta e à limpeza pública, ambos de competência dos municípios. “É preciso primeiro trabalhar para prevenir o aporte desses resíduos no rio e depois tentar tirar o quanto antes possível”, explica. “Por isso sugerimos a implantação de ecobarreiras nos córregos, ou seja, mais perto dos locais onde esse aporte acontece.”
Para que a grande maioria das ações saiam do papel, estima-se um custo total ao longo de 20 anos de R$ 5 bilhões de reais ou 250 milhões por ano, em média. “Não seria um custo tão alto, considerando que atualmente o custo anual é de R$ 4 bilhões”, finaliza.