A presença de mulheres nos conselhos de administração desempenha um papel crucial na moderação do excesso de confiança dos CEOs masculinos, conforme destacado em um levantamento do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) deste ano. O estudo revela que as mulheres ocupam apenas 15,2% das cadeiras em conselhos de administração, fiscais e diretorias de empresas de capital aberto no Brasil. Embora o progresso na representatividade feminina tenha sido modesto, passando de 14,3% em 2022 para os atuais 15,2%, a contribuição das mulheres é evidente.
Gabriela Baumgart, presidente do conselho de administração do IBGC, destaca que a presença feminina nos conselhos promove um processo de tomada de decisão com maior qualidade e segurança. Além disso, ela enfatiza que empresas com maior diversidade, incluindo a participação ativa das mulheres, tendem a alcançar melhores resultados e, consequentemente, maior longevidade. A pesquisa aponta, assim, para a importância não apenas da inclusão, mas do papel substancial que as mulheres desempenham na governança corporativa e na eficácia das decisões estratégicas das empresas.
Uma pesquisa recente realizada com diretores e diretoras, que juntos acumulam experiência em mais de 200 empresas de capital aberto nas principais bolsas de valores dos EUA e da Europa, revela o impacto significativo da presença feminina nos conselhos de administração. O estudo, conduzido pelas professoras Margarethe Wiersema, da Universidade da Califórnia, e Louise Mors, da Copenhagen Business School, destaca a contribuição valiosa das conselheiras para as tomadas de decisão.
As descobertas indicam que as mulheres que integram os conselhos participam das reuniões altamente preparadas, mostram disposição para reconhecer lacunas em seu conhecimento, fazem perguntas pertinentes e iniciam discussões que acabam moldando as decisões estratégicas. Em um artigo na Harvard Business Review, as autoras compartilham a perspectiva de um executivo que afirmou que as mulheres demonstram maior atenção, preparação e experiência. Uma conselheira foi citada como comparando as mulheres a “abelhas operárias”, destacando sua prontidão e dedicação ao trabalho.
Essas observações reforçam a importância não apenas da presença feminina nos conselhos, mas também do impacto positivo que ela pode ter na qualidade das discussões e, por conseguinte, nas decisões corporativas. Essa dinâmica destaca a necessidade de promover a diversidade de gênero nos conselhos de administração como um fator estratégico para o sucesso e a eficácia organizacional.
Quebra de estereótipos
Estudos anteriores já afirmavam que a diversidade – não só de gênero – contribui para a tomada de decisão e até mesmo para a inovação e os resultados financeiros das empresas.
Essa pesquisa oferece perspectivas inovadoras e desafia estereótipos preexistentes. Ao adentrarem os conselhos, ambientes ainda predominantemente masculinos, as mulheres não apenas rompem com o silêncio, mas também desafiam as normas estabelecidas. Pelo contrário, elas proporcionam uma ampliação do espaço para discussões mais aprofundadas. Uma conselheira, com experiência em mais de 20 conselhos no Reino Unido, EUA e Alemanha, destacou: “Nunca estive em um conselho onde uma mulher não diz nada. Mas já estive em conselhos onde os homens não dizem nada”.
Essa observação sublinha não apenas a participação ativa das mulheres nos conselhos, mas também sugere que, em alguns casos, são as mulheres que desempenham um papel fundamental em fomentar debates construtivos. Isso desafia a concepção tradicional e estabelece um novo padrão para a diversidade de gênero nos ambientes de liderança, enfatizando a contribuição valiosa que as mulheres trazem para as decisões estratégicas e a dinâmica corporativa como um todo.
As demandas por diversidade nos conselhos de administração estão crescendo impulsionadas pela bandeira da inclusão e pelos benefícios positivos da presença feminina nesses órgãos. Consumidores, acionistas e governos estão adotando medidas para aumentar a representatividade feminina nesses ambientes.
Em novembro de 2022, a União Europeia aprovou um regulamento que estabelece a meta de que as mulheres ocupem 40% das cadeiras de diretores não executivos nos conselhos de empresas de capital aberto até 2026. No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aprovou, este ano, um documento proposto pela B3 que exige que as empresas brasileiras listadas na bolsa elejam pelo menos uma mulher e um representante de comunidade sub-representada (pessoas pretas, pardas ou indígenas, integrantes da comunidade LGBTQIA+ ou pessoas com deficiência) para seus conselhos de administração ou diretoria. Em caso de não adoção dessas medidas, as empresas precisam justificar publicamente os motivos para o mercado e a sociedade.
A presidente do conselho do IBGC, Gabriela Baumgart, destaca a urgência de não mais esperar para ver as mulheres e suas diversas experiências representadas nesses espaços. Essas iniciativas regulatórias buscam não apenas promover a igualdade de gênero, mas também reconhecem a importância de uma representação diversificada para a eficácia e qualidade das decisões em ambientes corporativos.
Fonte: Forbes Brasil, IBGC