POR CAUSA DE OU A FIM DE?

Como a grande maioria, comecei trabalhando porque precisava de dinheiro. Na época o mercado de trabalho para economistas era ainda mais restrito que hoje e fiquei contente em conseguir um emprego.

Não era grande coisa, mas era o que tinha naquele momento. E, além disso, tinha ainda aquela insegurança toda de quem está começando uma carreira profissional, então agarrei a primeira oportunidade.

Sobreviver a cada mês era o objetivo. Futuro? ele nem de perto passava pela minha cabeça. Foco total em chegar ao fim do mês, ter as contas pagas e vamos para o mês seguinte, e assim a roda girava.

Com o tempo a insegurança inicial foi cedendo espaço. Já dominava as atividades mas o objetivo continuava o mesmo, chegar ao fim do mês e zerar as contas.

O momento de grande satisfação se resumia a happy hour, quando, acompanhados pela cerveja, falávamos mal do chefe. Era a hora da desforra.

Não me lembro exatamente qual foi o gatilho, mas me dei conta que precisava escapar daquela vida limitante, deixar de correr em círculo atrás do próprio rabo e encontrar um sentido.

Meu  primeiro statement foi: quero ser bom no que faço! Fui muito pragmático, não importava o que estivesse fazendo, só queria fazer bem e ser reconhecido por isso. Não fiquei esperando que o destino me trouxesse algo de que eu gostasse.

Isso foi um divisor de águas. Abriu outras oportunidades e continuei com o mesmo espírito.

Então veio um segundo click. Estava contente com a evolução da minha carreira, mas, até então, tinha sido fruto do meu trabalho realizado. Foi uma conquista não planejada. Precisava mudar esse jogo.

Passei a definir objetivos profissionais para horizonte de 5 anos. Escrevi e fiz um gap analysis das  competências requeridas para aquela posição e elaborei um plano de desenvolvimento pessoal. Tudo de uma forma simples e robusta, e, de tempos em tempos, revisitava o documento.

Definir e escrever fizeram toda a diferença. De uma forma inconsciente os pensamentos e ações iam sendo orientados para o objetivo traçado, e eu ia construindo o meu caminho rumo ao meu objetivo.

Muitas vezes não prestamos devida atenção aos detalhes. Não percebemos a enorme diferença que há entre fazer algo por causa de”  e  “a fim de”. Parece só um jogo de palavras, mas tem implicações profundas.  Por exemplo, imagine alguém que permanece num relacionamento por causa dos filhos e outro que está por opção, a fim de. Não preciso dizer da diferença do peso que cada um carrega.

Infelizmente crescemos num ambiente social onde o ócio é mais valorizado do que o trabalho. Sonhamos com as férias e idealizamos uma vida prazerosa após aposentadoria. Quando trabalho só porque preciso pagar as contas (por causa de), nós vemos o trabalho como um mal necessário, um castigo. Não importam as causas, o fato é que essa visão distorcida do trabalho nos faz refém de uma mentalidade limitante.

Você já conheceu alguém querer se desenvolver em algo pelo qual não tem interesse? Quem pode se realizar fazendo o que não gosta? É mais uma crônica de uma morte anunciada.

Na situação inversa, quando o trabalho tem a finalidade de alcançar uma meta, um objetivo muito maior do que simplesmente pagar as contas, ele passa a ser um instrumento para minha realização. Vamos combinar, ninguém se realiza só pagando contas.

Uma grande benefício de quando você tem objetivos, é a possibilidade de classificar os problemas que surgem na sua jornada em duas categorias: o problema está no meio do caminho ou está numa via lateral. Esta classificação funciona como parâmetro para categorizar os obstáculos e para definir quanta atenção e energia serão destinadas para solução dos problemas. As suas decisões levarão em conta o impacto que as mesmas terão sobre os seus objetivos de médio e longo prazo.

Incorporei esta filosofia para todos os aspectos da minha vida, relacionamento, filhos e planejamento financeiro pessoal.

Por exemplo, muitos cometem o erro de esperar ganhar mais para começar a poupar, ou então, quanto mais ganham, mais gastam.  A questão central é que você deve planejar e poupar antes de começar a gastar, porque se for guardar o que sobra, você já sabe o que acontece.

Para nós que não somos herdeiros e precisamos trabalhar, devemos escolher como queremos nos relacionar com o trabalho, como um castigo do qual quero me livrar o mais rapidamente possível, ou como uma ponte para minha realização pessoal.

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