Por que o Brasil ainda tem tão poucas CEOs mulheres — e o custo invisível dessa desigualdade

Durante a última década, empresas brasileiras passaram a comunicar com mais transparência seus compromissos com diversidade, equidade e inclusão. Relatórios ESG se multiplicaram, metas foram anunciadas e a presença feminina em cargos de liderança intermediária cresceu de forma consistente. Ainda assim, quando o olhar se volta para o topo da pirâmide corporativa, o avanço perde força.

Mulheres continuam sendo exceção na posição de CEO no Brasil.

Dependendo do recorte e da metodologia adotada, elas representam entre 5% e 17% dos CEOs das grandes empresas brasileiras. A variação numérica reflete universos diferentes de análise, mas conduz sempre à mesma conclusão: o cargo máximo de comando segue predominantemente masculino, especialmente nas companhias de maior porte e maior exposição ao mercado de capitais.

Os números por trás da desigualdade

Levantamentos amplamente citados no mercado indicam que, entre as maiores empresas do país, apenas cerca de 6% dos CEOs são mulheres. O percentual mostra avanço em relação a anos anteriores — quando o índice girava em torno de 3% —, mas permanece distante de uma distribuição equilibrada.

Estudos mais amplos, que analisam empresas abertas, fechadas, estatais e familiares, apontam percentuais mais elevados, em torno de 17% de mulheres na posição de CEO. Ainda assim, o diagnóstico central se mantém: quanto maior a empresa e mais rigorosa sua governança, menor tende a ser a presença feminina no topo.

O cenário brasileiro não é isolado. Nos Estados Unidos, mulheres ocupam menos de 10% das posições de CEO em empresas listadas, segundo dados de instituições como o The Conference Board. A diferença é que, em mercados mais maduros, essa assimetria já é tratada como um tema de governança, risco e eficiência de capital — não apenas de diversidade.


Key Numbers


O funil da liderança

O contraste se torna mais evidente quando se observa a estrutura executiva como um todo. No Brasil, mulheres já representam mais de um terço da alta liderança, ocupando posições estratégicas em diretorias e no C-level.

Isso indica que o problema não está na falta de qualificação, mas no estreitamento progressivo do funil à medida que a sucessão se aproxima do cargo de CEO.

Especialistas em governança e sucessão apontam fatores recorrentes:

O resultado é um sistema no qual mulheres avançam, acumulam responsabilidade e entregam resultados, mas raramente atravessam a última barreira.

O custo invisível para empresas e investidores

A baixa presença de mulheres como CEOs costuma ser tratada como um tema social. Mas há um aspecto frequentemente subestimado: o impacto econômico dessa desigualdade.

Estudos internacionais associam diversidade no topo a:

Ao manter estruturas de liderança excessivamente homogêneas, empresas reduzem a diversidade de perspectivas justamente em um ambiente de negócios marcado por volatilidade, pressão regulatória e mudanças tecnológicas aceleradas.

Além disso, investidores institucionais globais passaram a observar a composição da liderança como indicador de qualidade de governança, especialmente em companhias expostas a capital estrangeiro. A ausência de diversidade no comando deixa de ser apenas uma questão reputacional e passa a integrar a análise de risco.


Why it matters

A sub-representação feminina no cargo de CEO não sinaliza apenas desigualdade de acesso — ela revela ineficiências estruturais na forma como empresas formam, avaliam e escolhem suas lideranças máximas.

Quando o mercado opera com um conjunto limitado de perfis no topo, valor potencial deixa de ser criado. Para conselhos, investidores e gestores, o tema deixou de ser simbólico: tornou-se estratégico.


Um alerta para o futuro

O Brasil avançou, mas em ritmo lento e desigual. A presença feminina como CEO cresce de forma gradual e concentrada em empresas menores ou estruturas familiares. Nas grandes corporações, o topo segue resistente à mudança.

A pergunta que se impõe não é se mais mulheres chegarão ao comando.
É quanto as empresas brasileiras continuarão perdendo enquanto isso não acontece.

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