O preço do café no Brasil registrou a sua primeira queda mensal em um ano e meio, recuando 1,01% em julho, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O produto, que foi um dos principais responsáveis pela alta da inflação no último período, ainda acumula uma elevação de 41,46% no ano e de 70,51% em 12 meses. A queda nos preços no varejo é resultado da diminuição das cotações pagas aos produtores, após a colheita da safra de 2025 no país.
A redução acontece em um momento de incerteza no mercado internacional, com a imposição de uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A medida gerou preocupações entre investidores, temendo que a taxação inviabilize o comércio entre o maior consumidor de café do mundo (EUA) e o maior produtor e exportador (Brasil). Na semana passada, o café na bolsa de Nova York chegou a subir 8%.
Questionado sobre a possível relação entre a queda de preços e as novas tarifas, o gerente do IBGE, Fernando Gonçalves, evitou cravar uma conclusão, destacando que é “prematuro” fazer essa avaliação. “Pode ser um efeito de maior oferta, e não dá para dizer ou cravar que tem a ver com tarifaço. O tarifaço só começou este mês”, afirmou.
Especialistas ressaltam que o recuo não significa uma reversão definitiva da tendência de alta. A saca de café arábica chegou a R$ 2.333 em janeiro de 2025, o maior valor já registrado na série histórica do Cepea. O encarecimento foi impulsionado por uma combinação de fatores: secas prolongadas e geadas no Brasil, chuvas irregulares no Vietnã e Indonésia, estoques globais em níveis críticos, custos logísticos elevados e, mais recentemente, tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos sobre o café brasileiro, que chegaram a 50%.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), os preços internacionais da commodity subiram 38,8% em 2024, com altas mais acentuadas no arábica (+58%) e no robusta (+70%). Esses reajustes costumam levar de oito a onze meses para serem totalmente repassados ao consumidor, o que explica por que, mesmo com quedas recentes no mercado internacional, o alívio nos supermercados e cafeterias demora a aparecer.