Prisão digital: A relação entre o declínio nas horas trabalhadas e o uso excessivo dos meios digitais

Desemprego entre jovens cresce e pode ter relação com o tempo passado nos meios digitais.

Reprodução/ Thinkstock

No Brasil, cerca de 36% da população entre 18 e 24 anos não está envolvidos em atividades laborais ou educacionais, e essa situação não é exclusiva do Brasil; é uma preocupação global entre economistas. Eles buscam entender como os jovens ocupam o seu tempo quando não estão trabalhando ou estudando, uma questão que transcende fronteiras e demanda análises em âmbito internacional.

Uma pesquisa feita pelo National Bureau of Economic Research (NBER) explora a relação entre o declínio nas horas trabalhadas por homens jovens nos Estados Unidos, e o aumento no tempo dedicado a lazer, especificamente ao uso de computadores e jogos eletrônicos. Durante o período de 2000 a 2015, houve uma queda significativa nas horas de trabalho no mercado para os homens mais jovens, com idades entre 21 e 30 anos. Essa queda foi de 203 horas por ano, o que representa uma redução de 12% nas horas trabalhadas.

Essa diminuição nas horas de trabalho dos homens mais jovens foi acompanhada por um aumento significativo no tempo dedicado a atividades recreativas relacionadas a computadores e vídeo games. Especificamente, os homens mais jovens aumentaram seu envolvimento nessas atividades em quase 50% durante o período analisado.

Marcela, uma estudante que está prestes a ingressar no mercado de trabalho, afirma que, apesar de não dedicar muito tempo aos jogos, costumava perder tempo considerável em redes sociais como o TikTok e o Pinterest. Ela tomou a decisão de desinstalar esses aplicativos, explicando: “De certa forma, o TikTok se torna uma distração, uma forma de escapismo para esquecer os problemas e ocupar a mente com conteúdo rápido. O excesso de informações começou a causar um cansaço mental, o que prejudicava minha capacidade de desempenhar minhas atividades profissionais de forma adequada. Por isso, optei por excluir o aplicativo e cortar o mal pela raiz”.

Outra pesquisa realizada na University of Florida revela importantes aspectos psicológicos. Trabalhadores desempregados recorrem aos jogos como forma de escapismo, pois eles proporcionam uma sensação de autonomia e controle ao usuário. Além disso, os dados indicam uma disparidade de gênero, com os homens utilizando os videogames como forma de escapismo muito mais do que as mulheres. Por esse motivo, os números relacionados ao gênero feminino apresentam maior imprecisão e menor significância estatística.

Uma outra possível explicação para essa relação entre o declínio nas horas de trabalho e o aumento do tempo gasto em jogos é que os avanços na tecnologia de lazer, especificamente em jogos de computador e vídeo games, tornaram essas atividades mais atrativas e prazerosas, levando os jovens a dedicar mais tempo a elas em detrimento do trabalho.

Iago, um jovem que se enquadra na estatística de pessoas que não trabalham nem estudam, acredita que os jogos prejudicam seu desempenho: “Você se distrai com os jogos, e começar a se perder demais na distração é muito fácil. No geral, o objetivo do vídeo game é fazer com que você gaste o maior tempo possível jogando, e as estratégias deles funcionam”. Ele também alega que o tempo de dedicação aos jogos aumenta nos períodos de desemprego, e trazem uma sensação de conforto frente à ansiedade da desocupação.

Reverter a situação de jovens que estão fora do mercado de trabalho devido ao excesso de envolvimento com os jogos requer a criação de oportunidades para que eles se preparem para o mercado de trabalho. O incentivo à participação ativa na sociedade deve ser disseminado em instituições de ensino, envolvendo os jovens em atividades comunitárias, voluntariado ou estágios que possam ampliar suas perspectivas e mostrar a importância do trabalho, da convivência e do networking.

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