As profundas transformações digitais que vêm impactando o agronegócio brasileiro têm acelerado ganhos de produtividade e eficiência em diversos ecossistemas do setor, mas também revelam desafios importantes relacionados ao engajamento dos profissionais. Esse foi um dos principais temas debatidos no Encontro na Arena, evento promovido quinzenalmente pelo Agtech Innovation, hub de inovação da PwC, que reuniu mais de 60 convidados. O encontro contou com a participação de Alexandre Benedetti, diretor geral da Talenses e cofundador do Talenses Group, holding de recrutamento e seleção.
De acordo com os dados coletados pela Talenses durante o evento, 56% das inovações tecnológicas no agro se concentram em atividades “dentro da porteira”, como automação, gestão de dados e agricultura de precisão. Outros 38% se referem ao segmento de trading de produtos agrícolas, com foco em rastreabilidade e ESG. Já a indústria química, especialmente a de produtos biológicos, aparece com 6% das inovações mapeadas.
Apesar dos avanços tecnológicos, os desafios relacionados ao engajamento de talentos acendem um sinal de alerta no setor. Segundo o levantamento apresentado, os principais fatores que contribuem para o desengajamento dos profissionais do agronegócio incluem: salários e benefícios (42%), reconhecimento (42%), qualidade de vida (39%), modelos de trabalho (39%) e questões ligadas à diversidade, equidade e inclusão (36%). Senso de propósito (33%), confiança na liderança (30%) e clareza nos objetivos do negócio (27%) também aparecem entre os pontos mais citados.
“Vivemos um momento em que o agronegócio está se sofisticando cada vez mais, com a chegada de novas tecnologias, modelos de gestão e demandas globais. Mas nada disso terá efeito positivo sustentável se os fatores humanos forem negligenciados. Reconhecimento, propósito, ambiente inclusivo, confiança e clareza são pilares fundamentais para manter os talentos engajados e produtivos em meio às mudanças”, afirma Alexandre Benedetti.
O SXSW, um dos maiores festivais de inovação do mundo, sempre dita os rumos das principais transformações tecnológicas e culturais. Mas, para o executivo, mais do que acompanhar tendências, o verdadeiro valor está em entender o impacto humano dessas mudanças. “Acompanhando o SXSW há anos, o que mais me chamou atenção nesse ano foi ver que, apesar de toda a tecnologia em pauta, o foco estava nas pessoas. O tópico mais impactante não foi a IA, e sim o impacto emocional da solidão no trabalho. E isso se conecta com o conceito de Living Intelligence — uma IA mais humanizada, que entende emoções e nos ajuda a ser mais produtivos, criativos e conectados. Não sou especialista em tecnologia, mas entendo de gente, e o desafio hoje é usar a tecnologia para potencializar o capital humano, não para substituí-lo.”
Mais do que acompanhar as inovações que transformam o campo, o agronegócio brasileiro tem diante de si a oportunidade de liderar também uma transformação humana, aquela que coloca o bem-estar, o propósito e o reconhecimento no centro da estratégia. À medida que a tecnologia avança, cresce a responsabilidade das lideranças em criar ambientes onde os profissionais se sintam valorizados, ouvidos e motivados a contribuir com todo o seu potencial.
