Qual o papel do presidente do conselho na hora de fazer a transição do cargo de CEO?

‘Em momentos de mudança é fundamental que haja o apoio do conselho para o bom andamento dos negócios’

A transição na liderança de uma empresa, especialmente quando envolve a saída de um CEO, é um dos momentos mais críticos para a organização. De acordo com a executiva de negócios, Fátima Bana, fundadora e líder da Rent a CMO e conselheira de diversas empresas, a forma como essa transição é conduzida pode determinar o futuro do negócio, impactando sua estabilidade financeira, cultura organizacional e relacionamento com stakeholders.

Nesse contexto, o presidente do conselho deve desenvolver o papel de CEO interino, ganhando mais relevância, especialmente quando essa figura traz consigo uma vasta experiência e um profundo conhecimento da governança corporativa. ‘É imprescindível que o presidente do conselho apoie a organização durante essa fase de transição, alinhando-se aos princípios estabelecidos pelo Manual de Governança Corporativa do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)’, ressalta Fátima.

A mudança na liderança executiva, particularmente na posição de CEO, pode gerar incertezas e ansiedade entre os funcionários, investidores e outros stakeholders, por isso, a transição deve ser gerida de forma cuidadosa para minimizar os impactos negativos e assegurar a continuidade dos negócios. Um dos principais desafios é manter a confiança dos mercados e dos colaboradores, garantindo que as atividades da organização continue operando de maneira eficiente e que suas estratégias de longo prazo não sejam comprometidas.

‘Na minha experiência, uma governança sólida e de processos claros, permitem uma transição suave. Isso inclui a preparação prévia do conselho de administração para cenários de sucessão e a definição de planos de contingência. A presença de um presidente do conselho experiente, que possa assumir o papel de CEO interino, é fundamental para garantir essa continuidade’, explica a especialista.

O presidente do conselho, ao assumir temporariamente as funções de CEO, desempenha um papel crucial na estabilização da empresa. Esta figura não apenas traz um profundo conhecimento da estratégia e dos objetivos da organização, mas também oferece uma perspectiva imparcial e focada em governança, o que é essencial para manter a confiança dos stakeholders durante a transição.

Segundo as diretrizes do IBGC, o presidente do conselho deve estar preparado para atuar como CEO interino em situações de emergência, especialmente em contextos onde a saída do CEO ocorre de maneira abrupta ou inesperada. O papel do presidente do conselho, nesse caso, é garantir que as operações continuem sem interrupções significativas e que as decisões críticas sejam tomadas com base em uma visão clara e estratégica.

Fátima Bana explica que é primordial que o presidente do conselho, ao assumir temporariamente a função de CEO, foque em três áreas principais:

  1. Continuidade operacional: É fundamental assegurar que as operações diárias da empresa continuem de maneira eficiente. Isso envolve trabalhar de perto com a equipe de liderança existente, garantindo que não haja descontinuidade nos processos essenciais.
  2. Gestão de crises: Em muitos casos, a transição de CEO pode ocorrer em um momento de crise ou instabilidade. O presidente do conselho, com sua experiência em governança e conhecimento profundo da empresa deve estar bem posicionado para gerenciar a crise de forma eficaz, tomando decisões que protejam os interesses da organização em longo prazo.
  3. Comunicação transparente: Manter uma comunicação clara e aberta com todos os stakeholders é crucial durante a transição. O presidente do conselho deve garantir que as informações sejam disseminadas de maneira transparente, evitando rumores e assegurando a confiança dos investidores, funcionários e parceiros de negócios.

Na história corporativa, existem exemplos claros de como a transição de CEO pode ser gerida com sucesso ou, por outro lado, como a falta de uma estratégia de transição adequada pode levar ao fracasso.

Um exemplo de transição bem-sucedida foi a de Bob Iger na Disney. Quando Iger anunciou sua saída como CEO, ele permaneceu como presidente executivo do conselho, apoiando a transição e oferecendo sua experiência ao novo CEO, Bob Chapek. Esse movimento garantiu uma continuidade na liderança e permitiu que a Disney navegasse por períodos de incerteza, incluindo a pandemia de COVID-19, com resiliência.

Por outro lado, o caso da General Electric (GE) nos anos 2000 demonstra como uma transição mal planejada pode ter consequências devastadoras. A saída de Jack Welch, um dos CEOs mais icônicos da GE, deixou um vácuo de liderança que não foi adequadamente preenchido. A falta de uma transição suave e de apoio do conselho contribuiu para uma série de decisões estratégicas equivocadas, que acabaram por minar a posição da GE no mercado.

‘De acordo com as melhores práticas de governança estabelecidas pelo IBGC, o planejamento de sucessão deve ser uma prioridade constante para o conselho de administração. O presidente do conselho desempenha um papel central nesse processo, garantindo que existam planos de sucessão claros e que a empresa esteja preparada para lidar com qualquer eventualidade’, enfatiza a líder da Rent a CMO.

Ainda de acordo com Bana, sua experiência também reforça a importância de um plano de sucessão bem definido, que deve incluir:

– Identificação de potenciais sucessores: O conselho deve trabalhar continuamente na identificação e desenvolvimento de talentos internos que possam assumir a posição de CEO. Isso inclui a criação de programas de desenvolvimento de liderança e a avaliação regular dos executivos seniores.

– Planos de contingência: Além de identificar sucessores em potencial, o conselho deve ter planos de contingência para situações em que a saída do CEO ocorra de maneira abrupta. Isso pode incluir a nomeação de um CEO interino, como o presidente do conselho, até que um sucessor permanente seja encontrado.

– Avaliação contínua: A sucessão deve ser um processo dinâmico, com o conselho revisando regularmente o desempenho dos potenciais sucessores e ajustando os planos conforme necessário. Essa avaliação contínua garante que a empresa esteja sempre preparada para uma transição suave, independentemente das circunstâncias.

Além disso, a conselheira enfatiza que durante a transição, o presidente do conselho que assume como CEO interino deve usar sua experiência para apoiar a organização de várias maneiras, entre elas:

– Estabilidade e continuidade: O presidente do conselho traz uma visão de longo prazo que é essencial para manter a estabilidade durante a transição. Sua experiência permite que ele tome decisões estratégicas que alinhem as operações diárias com os objetivos de longo prazo da empresa.

– Mentoria e desenvolvimento de liderança: O presidente do conselho pode atuar como mentor para a equipe de liderança, oferecendo orientação e apoio durante a transição. Isso é particularmente importante se o próximo CEO for promovido internamente, garantindo que a nova liderança esteja preparada para assumir suas responsabilidades.

– Relacionamento com stakeholders: O presidente do conselho, com sua experiência e reputação, pode ser um ponto de contato confiável para os principais stakeholders durante a transição. Isso inclui comunicação regular com investidores, clientes e parceiros, assegurando-lhes que a empresa está em boas mãos.

– Gestão de mudanças: A transição de CEO é um momento de mudança significativa. O presidente do conselho, com sua experiência em governança e conhecimento da empresa, está bem posicionado para gerenciar essa mudança de maneira que minimize o impacto nas operações e na moral dos funcionários.

A transição entre a presidência do conselho e a saída do CEO é um momento crítico que exige uma liderança forte e uma governança sólida. O presidente do conselho, ao assumir como CEO interino, pode oferecer à organização a estabilidade e a continuidade necessárias para navegar por esse período de mudança. Uma transição bem-sucedida depende de um planejamento de sucessão robusto, uma comunicação transparente e uma liderança que esteja profundamente comprometida com os princípios de governança, pois ela, aliada à experiência do presidente do conselho, é a chave para garantir que a organização continue a prosperar, mesmo em tempos de incerteza.

SOBRE A FONTE:

*Fátima Bana – Executiva de marketing e negócios com mais de 15 anos de experiência, Fundadora e Líder da empresa Rent a CMO.

Possui experiência no Brasil, América Latina e mercado da Europa, EUA e China, sendo especialista e certificada em ESG por Harvard e Membro da Comissão de startups e scale-ups do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). Mestre em Comportamento Digital de Consumo pela Universidade da Califórnia – USA e Doutoranda pelo MIT/USA, cursando PHD em Comportamento de consumo integrado a Inteligência Artificial.

É ainda pós-graduada em Neuropsicologia, Especialista em Neuromarketing e Aprendizagem pela São Camilo e Einstein de São Paulo, e certificada em Neurofeedback pelo BTI Brasil.

Sair da versão mobile