As investigações de crimes digitais conduzidas pela Polícia Federal (PF) dispararam nos últimos cinco anos. Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação mostram um aumento de mais de 800% entre 2020 e 2025, com expectativa de novo recorde até o final deste ano.
Em 2020, algumas modalidades de crime cibernético registravam apenas um inquérito. Em 2024, esse número chegou a 55. Em 2025, até julho, já são 30 investigações — e a curva não dá sinais de desaceleração.
O que está por trás do aumento
A popularização da internet e a transformação digital acelerada durante a pandemia criaram um ambiente fértil para o avanço das fraudes e ataques virtuais. Hoje, cerca de 84% da população brasileira com mais de 10 anos está conectada. Segundo o delegado João Guilherme Carvalho, da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC):
“Os crimes patrimoniais tradicionais estão caindo, os crimes cibernéticos estão subindo. É um golpe a cada 16 segundos.”
A PF aponta que o crime organizado tem migrado parte das operações para o ambiente online, muitas vezes atuando de forma transnacional, com estruturas sofisticadas e uso de tecnologias avançadas para dificultar a rastreabilidade.
Empresas na linha de frente dos ataques
Casos recentes mostram que empresas de diferentes setores estão vulneráveis:
- Sicoob (2024) — A cooperativa financeira foi alvo do grupo criminoso RansomHub, que passou a divulgar dados roubados após invadir seus sistemas.
- C&M Software e BMP Money Plus (2025) — Um ataque interno comprometeu o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), permitindo transações PIX fraudulentas em instituições financeiras.
- Setor de energia (2025) — Grandes companhias como Copel, Light, Cemig e EDP sofreram ataques que expuseram dados de usuários e ameaçaram a infraestrutura elétrica.
- JBS S.A. (2021) — A maior processadora de carne do mundo foi vítima de ransomware, interrompendo operações e pagando US$ 11 milhões em Bitcoin para retomar os sistemas.
- Grupo Fleury e Lojas Renner (2023) — Atacadas por ransomware, registraram paralisação temporária dos serviços e prejuízos milionários.

Aqui está o infográfico em linha do tempo mostrando as principais empresas brasileiras atacadas entre 2021 e 2025, com o ano, nome da empresa e tipo de ataque.
Esses incidentes reforçam que a ameaça não se limita a empresas de tecnologia ou instituições financeiras: ela alcança desde a indústria de alimentos até o varejo e a infraestrutura crítica do país.
Os crimes mais investigados
Entre as modalidades mais comuns de inquéritos na PF, estão:
- Estelionato digital.
- Furto mediante fraude eletrônica.
- Invasão de dispositivos informáticos.
- Lavagem de dinheiro virtual.
- Sabotagem de serviços digitais.
O impacto e os desafios
O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, alerta que o combate exige cooperação:
“A integração entre os setores público e privado e entre as agências públicas no combate à criminalidade cibernética é imprescindível para enfrentar esse desafio crescente.”
Além da cooperação, especialistas defendem mudanças legislativas para cobrir novas modalidades de crimes virtuais e acelerar investigações, já que a velocidade das ações criminosas supera a capacidade de resposta do Estado.
Como se proteger
Apesar do avanço das operações da PF, a prevenção ainda é a primeira linha de defesa. Empresas e cidadãos devem:
- Usar autenticação em dois fatores.
- Implementar backups regulares.
- Atualizar sistemas e softwares.
- Treinar equipes para identificar tentativas de phishing.
- Monitorar transações e atividades suspeitas.
Conclusão
Se a tendência continuar, crimes digitais ocuparão cada vez mais espaço nas estatísticas criminais brasileiras. Empresas de todos os portes e setores precisam encarar a cibersegurança como prioridade estratégica — e não apenas como despesa operacional.