Mesmo com o avanço da qualificação e da conscientização sobre a importância da diversidade, a presença de mulheres negras nos conselhos de administração no Brasil segue tímida. Dados da B3, revelam que 96,6% das empresas com ações na bolsa não têm sequer uma pessoa negra no conselho, e apenas 12% das cadeiras são ocupadas por mulheres, segundo o estudo Women at the Top, do Evermonte Institute. (Movimento Mulher 360, 2025).
Tentando mudar esse quadro, entrou em vigor a Lei 15.177, de 2025, que estabelece a reserva mínima de 30% das vagas para mulheres nos conselhos de administração de empresas estatais. A norma também determina que, dentro dessas vagas, uma parte (30% sobre a reserva) seja destinada a mulheres negras ou com deficiência. (Agência Senado, 2025).
De acordo com o texto, a implementação da cota será gradual, ao longo de três anos: no primeiro ano de vigência, as mulheres deverão ocupar ao menos 10% das vagas nos conselhos; no segundo ano, o percentual mínimo será de 20%; e, no terceiro, esse percentual deverá ser de ao menos 30%, conforme exigido pela nova lei. (Agência Senado, 2025).
Mas por que isso é importante?
Com uma vivência marcada pelo racismo, as pessoas negras carregam habilidades necessárias para sua sobrevivência, como a resiliência e a coletividade, hoje muito demandadas e procuradas pelas empresas, principalmente para posições de liderança. O grande ganho de haver mulheres negras em conselhos é a humanização das pessoas pretas, possibilitando que elas também façam parte do processo de tomada de decisão, tirando-as do lugar da servidão e enxergando sua potência para agregar valor, conhecimento e resultados. (Capitani, 2023).
De geração em geração, fomos condicionados a achar que os brancos eram superiores aos negros e o quanto esse conceito auxilia os brancos a se enxergarem como a normalidade. Nisso, quando afirmamos que ‘todas as vidas importam’, estamos negando a existência do racismo, uma vez que a vida dos brancos nunca esteve em questão. Isso é evidenciado pelas estatísticas que mostram que a cada 23 minutos morre um jovem negro no Brasil. (Loras, 2023).
Ao contrário disso, hoje, lutamos para que, como diz Reinaldo Bulgarelli “não desconsiderem e não deixem de considerar nenhuma característica nossa. Não reduzam e não deixar que nos reduzam a uma de nossas características. Que não transformem características em motivo para desigualdades. Afinal, ninguém é uma coisa só. Somos isso, aquilo e muito mais. É o que chamamos de interseccionalidades”.
Ainda segundo Reinaldo Bulgarelli, “não naturalize desigualdades. Somos diferentes, mas não somos desiguais e nem inferiores. São as desigualdades que precisam ser erradicadas e não as diferenças. Características geram demandas, mas também geram inovações, aprendizados, aprimoramentos das estruturas, aprimoramento das posturas, conexões, entendimentos novos e atendimentos melhores dos clientes.”
Compromisso Brasileiro
Desde 2023, um grupo coordenado pelo Ministério da Igualdade Racial trabalha na definição de metas e indicadores para implementar o ODS 18 até 2030, anunciado pelo presidente Lula na ONU. Entre as metas estabelecidas estão eliminar a discriminação étnico-racial no trabalho, combater violências contra indígenas e afrodescendentes, ampliar o acesso à justiça, garantir memória e justiça histórica, moradia, saúde e educação de qualidade, promover participação social e eliminar a xenofobia. (PNUD Brasil, 2024)
O compromisso com as ações de diversidade, equidade, inclusão e a causa antirracista é uma questão urgente que vem atraindo muita atenção nas diferentes esferas de governança. Diversidade não é tendência, é pendência (histórica). E, em uma sociedade tão diversa quanto a brasileira, sem igualdade racial, não há democracia!
Referências Bibliográficas:
Agência Senado. Lei estabelece cota para mulheres em conselhos de administração de estatais. Notícias: 24/07/2025. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2025/07/24/lei-estabelece-cota-para-mulheres-em-conselhos-de-administracao-de-estatais
Bulgarelli, R. Cultura Organizacional e DEI. Apostila: Diversidade, Equidade, Inclusão e Cultura Organizacional. FIA Online.
Capitani, L. O impacto das mulheres negras nos conselhos administrativos. Meio&Mensagem: 20/11/2023. https://www.meioemensagem.com.br/womentowatch/o-impacto-das-mulheres-negras-nos-conselhos-administrativos#:~:text=O%20grande%20ganho%20de%20haver%20mulheres%20negras,pot%C3%AAncia%20para%20agregar%20valor%2C%20conhecimento%20e%20resultados.
Loras, A. Diversidade de Cor e Etnia. Apostila: Diversidade, Equidade, Inclusão e Cultura Organizacional. FIA Online.
Movimento Mulher 360. Brasil tem 96,6% dos conselhos sem presença de pessoas negras e apenas 12% das cadeiras ocupadas por mulheres. Notícias: 18/07/2025. https://movimentomulher360.com.br/noticias/mulheres-negras-conselhos/
PNUD Brasil. ODS 18: marca escolhida enfatiza jornada coletiva da luta pela igualdade étnico-racial. 20/09/2024. Disponível em: https://www.undp.org/pt/brazil/news/ods-18-marca-escolhida-enfatiza-jornada-coletiva-da-luta-pela-igualdade-etnico-racial





