Tarifas de Trump entram em fase crítica e acordo com EUA esfria

Brasil é um dos países mais afetados por novas tarifas de aço e alumínio nos EUA

CTV News

O Brasil entra nesta semana em um período de alta tensão econômica. A partir da próxima sexta-feira, 1º de agosto, está prevista a entrada em vigor da tarifa de 50% prometida pelo presidente americano, Donald Trump, sobre todos os produtos brasileiros vendidos para o mercado dos Estados Unidos. Até o momento, não há qualquer sinal de reversão ou adiamento dessa medida, que pode impactar severamente a economia brasileira no curto prazo.

As tentativas do governo brasileiro de negociar com os EUA, lideradas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, têm se mostrado infrutíferas. Na semana passada, Alckmin informou ter tido uma conversa de 50 minutos com o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick. “Nós conversamos com o governo norte-americano, tivemos uma conversa com o secretário de Comércio, longa, colocando todos os pontos e destacando o interesse do Brasil na negociação, e destacando que o presidente Lula tem orientado negociação, não ter contaminação política nem ideológica”, disse o vice-presidente.

No entanto, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece ter pouca esperança de uma reversão da cobrança até o dia 1º. Na sexta-feira, 24, Lula afirmou que Alckmin liga diariamente para discutir a tarifa, mas não obtém resposta. “Ninguém pode dizer que o Alckmin não quer conversar. Todo dia ele liga para alguém, e ninguém quer conversar com ele”, declarou o presidente.

O prazo de 1º de agosto não se restringe ao Brasil. É a data limite estabelecida por Trump para elevar as tarifas para dezenas de países que não conseguiram fechar um acordo a tempo. Contudo, a tarifa para o Brasil será a mais alta, atingindo 50%, enquanto nenhum outro país enfrentará essa taxa.

Algumas nações, como Reino Unido, Vietnã, Indonésia, Filipinas e Japão, já haviam conseguido firmar acordos com Trump, evitando o “mal maior”. Neste domingo, 27, a União Europeia também finalizou um acerto com o governo americano, garantindo uma tarifa básica de 15% em vez da ameaça inicial de 30%.

No caso brasileiro, as negociações são ainda mais complexas devido ao viés político. Ao anunciar a taxação dos produtos brasileiros, Trump condicionou a reversão da decisão ao fim do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF, que o presidente americano classificou como uma “caça às bruxas

A tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras terá um impacto significativo na economia nacional, uma vez que os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Entre os setores mais afetados estão petróleo; ferro e aço; café; máquinas e equipamentos; celulose; e carne.

Os efeitos precisos ainda não estão claros, mas estimativas apontam perdas substanciais. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) previu, para o curto prazo, uma queda de R$ 52 bilhões nas exportações brasileiras e a diminuição de 110 mil empregos no país.

A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) projeta, no longo prazo, uma perda de R$ 175 bilhões para a economia brasileira, com retração de 1,49% do PIB e a eliminação de 1,3 milhão de postos de trabalho, caso a tarifa de 50% entre em vigor. A queda na renda das famílias poderia atingir até R$ 24,39 bilhões, e a arrecadação do governo cairia R$ 4,86 bilhões.

A Fiemg ainda alerta para um cenário hipotético em que o Brasil retaliasse com uma tarifa recíproca de 50% sobre as importações americanas. Nesse caso, a queda no PIB brasileiro poderia chegar a R$ 259 bilhões no longo prazo, impactando 1,934 milhão de empregos, reduzindo a massa salarial em R$ 36,18 bilhões e a arrecadação de impostos em R$ 7,21 bilhões.

Mesmo antes da certeza da efetivação da taxa, alguns setores já sentem os efeitos negativos. Produtores de ferro-gusa, altamente dependentes do mercado americano, relatam que contratos de exportação foram suspensos, e muitas empresas podem ter que paralisar suas operações a partir de agosto.

Paralelamente às negociações governamentais, empresas brasileiras têm se mobilizado para influenciar a decisão de Trump, buscando o apoio de seus parceiros americanos que importam produtos brasileiros. O argumento é o impacto nos consumidores dos EUA, que teriam de arcar com o encarecimento de produtos essenciais como café e suco de laranja, nos quais o Brasil tem participação crucial.

O setor de laranja, por exemplo, está ativo nessa frente. “O produto brasileiro é muito importante para as empresas americanas”, disse Ibiapaba Netto, diretor executivo da associação CitrusBR, que reúne as principais produtoras e exportadoras de sucos cítricos (Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus Company). Quase 60% do suco de laranja consumido nos EUA é brasileiro.

Apesar da importância, exportadores e seus clientes mantêm discrição, evitando posicionamentos públicos que possam soar como hostilidade ao governo Trump. “Todos têm o mesmo interesse, mas as companhias americanas têm mais condições de levar adiante essa prerrogativa”, explicou Netto.

No caso do café, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) tem dialogado diretamente com a National Coffee Association (NCA), que já acionou o governo dos EUA. “76% dos americanos consomem café. Além disso, a indústria do café gera 2,2 milhões de empregos e US$ 343 bilhões na economia americana. Por isso, o pedido que será levado pela indústria americana é para que o café entre em lista de exceção à tarifa”, informou uma liderança do setor, destacando os argumentos usados nos EUA, maior consumidor da bebida no mundo.

Com a perspectiva cada vez mais concreta do tarifaço, o governo brasileiro também está preparando um “plano de contingência”. Na quinta-feira, 24, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou que o plano já está concluído e será submetido à análise do presidente Lula. O documento reúne “medidas de todo gosto”, incluindo a possibilidade de abertura de linhas de crédito em apoio a empresas afetadas.

“O cardápio encomendado por Lula foi elaborado, inclusive dentro da lei internacional”, afirmou Haddad à rádio Itatiaia. “Todo o cardápio possível e imaginável vai ser apresentado a Lula para decisão.”

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