Por Art Markman.
Provavelmente, você já passou pela experiência de estar assistindo a um filme ou programa de TV e reconhecer um ator, mas não conseguiu lembrar o nome dele nem de quais outros programas ou filmes ele já participou.
Hoje em dia, basta pesquisar o nome do artista em um aplicativo ou na internet. Mas antes da internet e dos celulares, tínhamos que aceitar a frustração de simplesmente não lembrar.
O que costumava acontecer era que, mais tarde, durante uma caminhada, embaixo do chuveiro ou enquanto estávamos distraídos com outra coisa, o nome vinha à cabeça. De repente, lembramos até onde já tínhamos visto aquele artista.
“Ao se deparar com outras, você pode encontrar algo que traga informações valiosas para resolver um problema que está enfrentando”.
Hoje em dia, os celulares estão destruindo esses momentos de percepção. Primeiro, porque não temos a oportunidade de conviver e aprender com a frustração de não saber algo. Aplicativos como o IMDB nos proporcionam a gratificação instantânea de responder às nossas perguntas. Com alguns toques, conseguimos saber o nome de todo mundo que estamos assistindo.
O problema é que há muitas situações na vida – especialmente na vida profissional – em que a resposta correta para o problema que estamos enfrentando ainda não é conhecida. Na verdade, estamos sendo pagos justamente para encontrar uma resposta.
Se você não se sente à vontade com o desconforto de não saber a resposta para uma pergunta, talvez tenha dificuldade em lidar com um problema espinhoso durante dias ou semanas sem encontrar uma solução. Nesse caso, tente evitar o caminho fácil para obter respostas, para que você possa praticar como é viver no limbo do não saber.
Os celulares também estragam nossos momentos de reflexão por oferecerem estímulos constantes. Essa estimulação atrapalha o processo mental de fermentação das ideias. Quando você deixa de lado um problema, acontecem várias coisas que podem ajudar a resolvê-lo mais tarde, quando voltar a pensar nele.
As informações ativas em sua memória de trabalho diminuem, o que pode ajudar a pensar sobre o problema de uma nova maneira, em vez de manter o foco no jeito que vinha pensando até então.
À medida que as informações ativas diminuem, as informações que estavam sendo lembradas quando você estava concentrado no problema também diminuem. Assim, quando você voltar ao problema mais tarde, será capaz de se lembrar de outras coisas que ajudarão na solução.
Esse é um dos motivos pelos quais deixar de lado um jogo de palavras cruzadas e voltar a ele mais tarde pode levar à decifração de dicas que antes nos deixavam perdidos.
DESLIGAR-SE DO PROBLEMA FAZ BEM
Além disso, há alguns aspectos da concentração que são ativamente prejudicados quando se mantém a mente ocupada o tempo todo. Se você se afastar de um problema e continuar fazendo outras coisas, como usar o celular, não vai ter esses benefícios.
É por isso que o processo mental de fermentação das ideias é tão importante. Com o tempo, você começa a pensar sobre o problema como pano de fundo, o que pode gerar momentos de insight mais tarde.
Ao se deparar com outras coisas no mundo, você pode, por acaso, encontrar algo que traga informações valiosas para resolver um problema que está enfrentando. Na verdade, seu cérebro permanece atento às informações relacionadas a um problema em andamento.
“Os celulares estragam os momentos de reflexão por oferecerem estímulos constantes, o que atrapalha o processo de fermentação das ideias”.
Por isso, não é improvável pensar que, de repente, você pode reparar em algo relevante para o problema, mesmo se estiver em um ambiente familiar. Mas você não vai perceber nada se estiver constantemente ocupado com outras tarefas, incluindo a rolagem de tela do celular.
Dormir também ajuda no processo de fermentação das ideias. Enquanto dormimos, deixamos de lado alguns dos detalhes do problema que estamos resolvendo. Quando voltarmos a pensar sobre ele no dia seguinte (ou vários dias depois), nos lembraremos de coisas diferentes daquelas em que estávamos presos antes, porque a descrição interna do problema mudou.
Por esses motivos, é uma excelente ideia experimentar conviver com a frustração de não saber a resposta e tentar não se distrair quando se afastar do problema, passando imediatamente a se concentrar em algo interativo, como o celular. Ao invés disso, reconheça que o aborrecimento pode ser bem-vindo quando você estiver perdido, sem saber a solução para um problema delicado.
Fonte: Fast Company Brasil.
