As vendas no varejo dos Estados Unidos sofreram uma queda mais acentuada do que as previsões em maio, impactadas por uma redução nas compras de veículos automotores. Esse declínio ocorre em um momento em que o impulso para antecipar possíveis aumentos de preços relacionados a tarifas parece ter diminuído, embora os gastos do consumidor ainda se sustentem em um crescimento salarial sólido.
A queda de 0,9% nas vendas, a maior em quatro meses, foi divulgada pelo Departamento de Comércio nesta terça-feira e se soma a um crescimento moderado do emprego no mês anterior, indicando um possível enfraquecimento da demanda doméstica. As autoridades do Federal Reserve (Fed), reunidas nesta terça e quarta-feira, devem manter a taxa básica de juros inalterada na faixa de 4,25% a 4,50%, enquanto monitoram de perto o impacto econômico das tarifas comerciais e das tensões no Oriente Médio.
“Os anúncios de tarifas tiveram um impacto claro no momento de compras de alto valor, principalmente de automóveis, mas ainda há poucos sinais de que as tarifas estejam levando a uma retração geral nos gastos do consumidor”, analisou Michael Pearce, economista-chefe adjunto da Oxford Economics. “Esperamos uma desaceleração mais acentuada no segundo semestre do ano, à medida que as tarifas começam a pesar sobre a renda real disponível.”
O relatório do Census Bureau do Departamento de Comércio revelou que as vendas no varejo caíram 0,9% no último mês, o maior recuo desde janeiro, seguindo uma queda revisada para baixo de 0,1% em abril. Economistas consultados pela Reuters estimavam uma retração de 0,7% nas vendas, que são compostas majoritariamente por bens e não são ajustadas pela inflação. A receita menor em postos de gasolina, devido à queda nos preços dos combustíveis, também contribuiu para o resultado de maio.
As tarifas abrangentes implementadas pelo presidente Donald Trump intensificaram as preocupações em relação ao crescimento econômico global, exercendo pressão sobre os preços do petróleo. Contudo, as hostilidades entre Israel e Irã impulsionaram a valorização da commodity. Condições climáticas mais frias do que o habitual também podem ter influenciado negativamente as vendas. Uma taxa de 25% sobre veículos automotores e caminhões importados entrou em vigor em abril.
No mercado financeiro, o dólar se fortaleceu em relação a uma cesta de moedas, enquanto os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA apresentaram queda. Setorialmente, as receitas em concessionárias de automóveis e peças recuaram 3,5%, após uma baixa de 0,6% em abril. As vendas em revendedores de materiais de construção, equipamentos e suprimentos para jardinagem também declinaram, com uma queda de 2,7%. Os postos de serviço registraram uma diminuição de 2,0% na receita, enquanto as lojas de eletrônicos e eletrodomésticos tiveram um recuo de 0,6%.
Em contraste, o setor de serviços de alimentação e bebidas, o único componente de serviços no relatório, apresentou uma queda de 0,9%. Economistas consideram os gastos com refeições fora de casa um importante indicador da saúde financeira das famílias. Por outro lado, as vendas online tiveram um aumento de 0,9%, e os varejistas de roupas registraram uma alta de 0,8%. As vendas em lojas de móveis subiram 1,2%, e o setor de artigos esportivos, hobbies, instrumentos musicais e livros avançou 1,3%.
As vendas no varejo, excluindo automóveis, gasolina, materiais de construção e serviços de alimentação, tiveram um aumento de 0,4% em maio, após uma queda revisada para cima de 0,1% em abril. Esse núcleo das vendas no varejo, que acompanha mais de perto o componente de gastos do consumidor no Produto Interno Bruto (PIB), havia sido reportado anteriormente com uma queda de 0,2% em abril.
O Fed de Atlanta atualmente prevê uma recuperação do PIB a uma taxa anualizada de 3,8% no segundo trimestre. Essa alta esperada reflete, em grande parte, uma reversão nas importações, que tiveram uma queda acentuada devido à diminuição na antecipação da chegada de mercadorias. A economia americana havia apresentado uma contração de 0,2% no primeiro trimestre.
No entanto, os riscos de queda nos gastos do consumidor estão se intensificando, com um mercado de trabalho em desaceleração, a retomada do pagamento de empréstimos estudantis para milhões de americanos e a erosão da riqueza das famílias em meio à volatilidade do mercado de ações impulsionada pelas tarifas. Esse cenário econômico incerto pode levar a um aumento da poupança por precaução.
“A experiência passada sugere que os maiores aumentos de preços ocorrerão em julho, embora o impacto total das tarifas provavelmente se faça sentir ao longo de todo o restante do ano”, alertou Samuel Tombs, economista-chefe para os EUA da Pantheon Macroeconomics. “Isso pesará sobre o crescimento da renda real, ao mesmo tempo em que a desaceleração do mercado de trabalho deixará as pessoas cautelosas com gastos discricionários. Ao mesmo tempo, as famílias não têm mais ‘excesso de poupança’ ou um forte crescimento nos preços das ações para incentivá-las a gastar.”
*Com informações da Reuters
