No final dos anos 80, tendo concluído meu metrado em Economia, recebi um convite inesperado para estruturar e gerir os investimentos financeiros da então Vera Cruz Seguradora, pertencente ao Grupo Santista. Nos dias de hoje, a minha posição seria de CIO (Chief Investment Officer).
Foi a minha primeira experiência como CIO e foi uma experiência decisiva para minha vida profissional e pessoal.
Estamos falando do fim dos anos 80 e início dos 90, quando a taxa de inflação oficial chegou a 80% ao mês, congelamentos, tablitas sem esquecer o Plano Collor entre outros tantos.
Mas voltando, se alguém pedisse que eu fosse mais específico e contasse no que ela ajudou na minha vida, eu responderia que o mais importante foi aprender a tomar decisões, diariamente, num ambiente de grande incerteza, onde não há espaço para “vou pensar e depois eu decido”.
Fazer uma escolha certa na hora errada não tem serventia, a oportunidade já passou, é igual a não decidir. Então temos que a decisão certa é aquela que é tomada no momento correto.
Tomar decisões quando você tem entre 70 a 80% das informações implica que você deve aprender a aceitar e a lidar com os erros. Dizia um grande operador da Bolsa daquele período: “não espero que minha equipe acerte 100%, tampouco 50% porque para este nível, não preciso nada além do que jogar uma moeda. A meta é acertar 70%.”
Mas o que você faz com os 30%? Eu monitorava todas as operações, especialmente aquelas que tínhamos errado, acompanhando todas as oportunidades para reverter ou reduzir o prejuízo, é sempre ter o tal do plano B. Tapar o sol com peneira não é escolha.
Nossa cultura lida muito mal com os erros. Errar é socialmente vergonhoso e isso acaba gerando alguns comportamentos tais como: lentidão na tomada de decisão em busca de maior segurança possível, o que pode gerar perda de oportunidade; ou aquela famoso situação onde a pessoa vai empurrando com a barriga até que não haja necessidade de decidir; ou simplesmente esconder seus erros. Talvez você já tenha conhecido alguém que perdeu na Bolsa de Valores, eu não.
Quanto mais sensível a pessoa for a opinião de outros, mais dificuldade ela terá para tomar decisões e/ou expressar suas opiniões dado o seu desconforto em relação às críticas e acaba se omitindo ou terceirizando a decisão/opinião. Um exemplo lúdico deste processo está refletido no nome de um restaurante aqui em São Paulo chamado Cantina C…Que Sabe!
A obrigação de tomar decisões todos os dias, durante anos num ambiente de incerteza, me deu uma vantagem competitiva na minha jornada posterior: aprendi administrar os erros o que permitiu que meu processo decisório fosse mais rápido, disseminando senso de urgência.
Não sei quanto a vocês, mas eu já participei de cursos de negociação, liderança, planejamento estratégico, etc. mas nunca participei de um que ensinasse como tomar decisões num ambiente de incertezas. Vamos combinar que com 100% de informações, não precisamos nem de IA, qualquer planilha do século passado indica qual melhor opção.
Penso que só se aprende decidir, decidindo. Claro que você sempre pode melhorar a sua assertividade com utilização de modelos, fazendo análise SWOT, calculando as probabilidades etc., mas aprender a controlar o nó no estomago e decidir no tempo necessário assumindo os riscos inerentes é só na prática: decidindo, acertando e errando.
Uma sugestão para quem quer superar o medo de decidir: comece praticando com pequenas decisões cotidianas, vá aprendendo a lidar com eventuais frustrações e assim você estará fortalecendo o seu emocional para quando tiver que tomar uma grande decisão.
Uma vez, estava posicionado no mercado de ouro quando o Iraque invadiu Kuwait e o mercado ficou absolutamente imprevisível. Diante das minhas tentativas de querer acertar tudo, um operador amigo me disse: “Hyung, não queira acertar o cu da mosca, acerta o saco. Tá bom de mais”.
Obs: se me perguntarem se me sai bem com CIO, a resposta é sim. Tanto assim que depois fui promovido para ser o Diretor Técnico da Seguradora sem nunca ter lido uma apólice de seguros, mas esta é uma outra história.