No final dos anos 60 e início dos 70, o psicólogo Walter Mischel de Stanford conduziu estudo que ficou conhecido como Experimento do Marshmallow.
A pesquisa consistia em colocar crianças diante de uma mesa com guloseimas e lhes oferecer uma escolha: consumir imediatamente uma guloseima ou resistir por 15 minutos e consumir duas guloseimas.
Posteriormente, acompanhando a vida adulta das crianças submetidas ao teste, foi constatado que as que tiveram maior autocontrole e esperaram os 15 minutos tiveram melhor performance acadêmica, maior sucesso profissional e uma melhor saúde.
Não é afirmar que o autocontrole seja a variável chave para explicar o sucesso de alguém, mas sem dúvida que a capacidade de resistir e controlar os impulsos fazem uma grande diferença, ainda mais porque as “tentações” estão presentes em todos os momentos da nossa vida e em toda nossa história. Lembram do Adão e Eva?
O desenvolvimento do nosso cérebro se deu por acumulação. Explico, na medida em que as estruturas mais complexas foram se desenvolvendo, as mais primitivas não foram eliminadas. Significa que hoje partes mais evoluídas convivem com estruturas primitivas e todas elas influem diretamente no nosso comportamento.
O nosso instinto animal quer maximizar o prazer presente. Significa que se não houver intervenção da parte racional, comerei todos os doces possíveis e, com sorte, viverei no limite do cartão de crédito.
Se antes era a serpente que nos tentava, hoje são os algoritmos disputando a nossa atenção, sempre atentos para oferecer aquilo que gera prazer imediato. Quanto mais prazer, satisfação você tiver, maior é a tendência de permanecer conectado. Logo ele sempre priorizará lhe apresentar o que tem maior possibilidade de o manter conectado. Se gosto de golfe, isto será prioritário e quanto mais consumir postagens sobre golfe, mais receberei dele, como se não houvesse outro esporte na vida.
Tudo isto é feito de uma forma muito sutil, pois você se conectou para ver as fotos dos amigos, trocar mensagens, passar tempo, e então…
E por que os algoritmos disputam o nosso tempo? Porque este é o recurso mais valioso que existe. Ele é finito, não replicável e indisponível no mercado para compra ou venda. Como não se pode compra-lo, preciso conquistar a sua atenção e assim ganhar o seu tempo. E quanto mais tempo conectado, mais valor gera para as empresas de tecnologia.
Quando jovem, ouvi uma frase que me acompanha até hoje: “tempo é uma que questão de opção”. Quando alguém diz que não faz algo por falta de tempo, de fato, significa que ele não está disposto a renunciar a algo que ele considera mais importante. Logo, dado que o tempo é um recurso finito, ele precisa fazer uma opção de onde ele quer usar este recurso. Toda opção implica numa renúncia!
Brasileiros passam em média 3 horas e 31 minutos conectados nas redes sociais (se parece muito, cheque no seu celular quanto tempo você passa conectado). É verdade que alguns são multitaskers, estão conectados mas estão fazendo outra atividade.
É claro que ninguém acorda e diz “hoje vou passar 3 horas e 31 minutos nas redes sociais”, na maioria das vezes, essa opçãos é feita de modo automático, já está internalizada.
Automática ou não, como toda opção implica numa renúncia, precisamos entender a que estamos renunciando quando privilegiamos a satisfação imediata que os algoritmos nos proporcionam.
Sem dúvida que assistir um vídeo, uma dancinha, ou um post engraçado dá mais prazer imediato do que ler um livro, um artigo técnico ou acompanhar o noticiário. Como diziam os gregos, a sabedoria está no meio. Será que das 3 horas e 31 minutos, não poderíamos destinar uma hora diária para leitura de um livro, um artigo ou trocar mensagens com os amigos?
Hoje, não são as serpentes, guloseimas, mas formas muito mais sutis de tentação que nos rodeiam. Precisamos de mais autocontrole (os 15 minutos) e sermos mais críticos ao exercer as nossas opções, certificando que elas estejam em linha com nossos objetivos futuros.