Apple lança pouco e perde protagonismo na corrida da IA, aponta especialista. Queda nas ações e avanço de concorrentes levantam questionamentos sobre estratégia da marca.
A edição de 2025 da WWDC (Worldwide Developers Conference), conferência anual da Apple voltada para desenvolvedores, teve uma recepção morna por parte de analistas e usuários. Para o especialista em tecnologia e inovação Marcel Nobre, a expectativa de uma grande revolução em inteligência artificial foi frustrada — e os anúncios feitos mostram que a Apple está correndo atrás do prejuízo.
“A grande decepção ficou sobre o atraso da Apple de se posicionar como um dos principais players no uso ou desenvolvimento da inteligência artificial. Por incrível que pareça, ela foi uma empresa que começou comprando diversas companhias lá atrás, mas realmente ficou para trás nesse aspecto. Fez investimentos errados ou no momento errado, como no Apple Vision Pro, que já parou de ser comercializado”, diz Marcel.
Segundo o especialista, o mercado já começa a reagir a esse cenário: “A Apple já amarga praticamente uma queda de 19%, uma das maiores quedas na bolsa americana após esse lançamento, esse fiasco que chamaram lá fora. Caiu próximo a 2%. Então o mercado já está começando a olhar para isso de uma outra forma”.
Mesmo reconhecendo a capacidade de reinvenção da Apple, ele destaca a lentidão da empresa em acompanhar os avanços de concorrentes como Google e Microsoft: “Claramente ela não está acompanhando os principais players de inteligência artificial. Não sei que carta que ela vai tirar da manga ou que cheque que ela vai tirar da manga muito pesado para se posicionar”.
Entre os anúncios feitos, a Apple apresentou um novo design de interface chamado Liquid Glass e recursos como tradução em chamadas e triagem de ligações por IA, que Marcel considera atrasados em relação ao mercado.
“Diversas outras ferramentas já tinham essa utilidade de, numa videochamada, você ter uma tradução simultânea. Ainda um pouco pior, porque o da Apple, por vídeo, ela vem só textual. Por voz, a promessa é que você vai ouvir, não em tempo real, mas com delay de alguns segundos, o que você está ouvindo no idioma que você quer. Então os usuários da Apple agora vão ter isso nativo, mas não é uma novidade disruptiva”.
“A inteligência artificial da Apple vai atender a ligação antes de você. Ela pergunta quem está falando e qual o motivo do contato. Em seguida, você recebe uma mensagem com essas informações e decide se quer ou não atender. Para quem recebe entre 20 e 30 ligações de telemarketing por dia, como é comum no Brasil, essa pode ser uma funcionalidade bastante bem-vinda”.
Empresas de software rumo ao hardware: tendência irreversível?
Marcel também chama atenção para um novo movimento de mercado: empresas originalmente de software entrando no universo de hardware, como Snap, Meta e até OpenAI.
“Talvez a era pós-celular seja algo ocular, como os óculos. Eles ainda são muito pesados, muito caros, pouco acessíveis. […] É um caminho natural. Já se fala de computação audível. Já tem até uma empresa que chama YVI, que criou o áudio computador. Você conversa com uma inteligência artificial através de algo que parece um fone de ouvido, e ela vai te dando instruções, localização…”
E conclui:
“Já tem empresa criando computadores auditivos com IA integrada. Se a Apple não reagir rápido, pode ficar para trás na próxima geração de devices também”.