O setor de delivery no Brasil se consolidou como um dos mais relevantes dentro da economia digital, movimentando cifras expressivas e moldando novos hábitos de consumo. Um estudo conduzido pela klavi, empresa de Open Finance e analytics, mostrou que o mercado atingiu R$ 1,11 bilhões em transações na amostra analisada e confirmou a forte concentração em torno de um único player: o iFood. No primeiro trimestre de 2025, período de coleta da pesquisa, a empresa de entregas deteve cerca de 92% de participação de mercado.
A predominância da plataforma indica um domínio significativo no setor, mesmo já contestado por outras plataformas de entrega internacionais, como o Rappi e Uber Eats. No entanto, com a chegada dos novos players chineses, como a 99Food, o cenário tende a mudar, a estrutura do setor brasileiro é rara no contexto global, em outros países a disputa entre players costuma ser mais equilibrada.
O estudo analisou dados financeiros anonimizados e consentidos, revelando que o consumidor brasileiro de delivery é altamente engajado e representa um mercado com grande potencial de expansão. Em média, cada usuário realizou 14,7 transações no período, o que corresponde a aproximadamente 4,9 pedidos por mês. O valor médio mensal por pessoa foi de R$ 220, enquanto o ticket médio ficou em R$ 45,00.
Os dados apontam para um cenário em que o delivery não é apenas um consumo esporádico, mas um hábito consolidado na rotina. Os usuários desses aplicativos apresentam forte presença em marketplaces – o que sugere oportunidades para a integração de serviços e diversificação das plataformas, ampliando a jornada de consumo digital.
“Os apps de delivery já funcionam como plataformas de consumo, cada pedido é uma oportunidade de ampliar a jornada do cliente. Integrar marketplaces, programas de fidelidade e serviços complementares transforma transações pontuais em receita recorrente e mais valor para restaurantes e consumidores”, comenta Bruno Chan, CEO e Cofundador da klavi.
O levantamento apontou ainda que, apesar da popularização do Pix, que revolucionou os meios de transações no país, o débito se mantém como o meio mais utilizado nos apps de delivery. Para a klavi, esse comportamento pode estar relacionado ao baixo acesso a limites de cartão de crédito e uma jornada de pagamento com menos fricção, se comparada ao Pix Copia e Cola.
“O cartão de débito é ainda um meio de pagamento extremamente relevante na vida do brasileiro, principalmente porque é uma minoria que tem um limite do cartão de crédito suficiente para concentrar seus gastos mensais, também, quando pensamos na jornada de aplicativos, a experiência do Pix ainda não é a das melhores. Isto tende a mudar com algumas inovações recentes promovidas pelo Banco Central, como o Pix via Open Finance e o Pix Biometria”, comenta Chan.
Embora o iFood mantenha um domínio do mercado, o setor já observa sinais de movimentação de novos competidores. A entrada da Keeta, gigante chinesa do segmento, o retorno da 99Food e os esforços recentes do Rappi, devem intensificar a disputa pelo consumidor brasileiro. “A expectativa é que esses players tragam estratégias mais agressivas de preços, promoções e logística”, explica.
Para o CEO da klavi, este é um momento decisivo para o futuro do mercado. “A chegada de novos concorrentes pode trazer dinamismo, impulsionar inovação tecnológica e oferecer melhores condições de preços e serviços. Isso beneficia não apenas os consumidores, mas também os restaurantes e os entregadores”, pondera.
A pesquisa da klavi mostra que o mercado brasileiro de delivery, além de consolidado, tem espaço para crescer em diferentes frentes. Fora dos grandes centros urbanos, a penetração de mercado dos aplicativos ainda é baixa, o que abre caminho para a expansão regional e para modelos de operação mais descentralizados. O desafio está em equilibrar custos logísticos e garantir sustentabilidade para restaurantes locais, o que pode estimular parcerias regionais e soluções sob medida.
Nesse cenário, o domínio de um único player deixa de ser apenas uma questão de competitividade: ele pode ditar preços, formatos de pagamento e até o ritmo da inovação. A chegada de novos concorrentes e a integração com outros setores do e-commerce devem definir os próximos anos, transformando o delivery em um dos principais vetores da economia digital brasileira.
“O delivery no Brasil já provou ser um mercado bilionário, mas o verdadeiro teste agora é diversificar sem perder escala. A entrada de novos players e a inovação em logística e pagamentos vão decidir quem cresce de forma sustentável e quem fica para trás”, finaliza Bruno Chan.