Por Fabiana Monteiro
Em um mundo saturado de informações, onde cada notificação compete com uma conversa real, e cada segundo de atenção pode ser monetizado, a atenção humana tornou-se um dos recursos mais valiosos do século XXI. Estamos vivendo na era da economia da atenção, um modelo onde o foco das pessoas é o principal ativo em jogo — moldando comportamentos individuais, estratégias empresariais e até os rumos das democracias.
Sociedade: comportamento fragmentado e imediatismo
A atenção, outrora fluida e espontânea, agora é disputada a cada clique. As redes sociais, plataformas de streaming, aplicativos de notícias e entretenimento operam com algoritmos que alimentam o ciclo do engajamento — oferecendo estímulos constantes para manter os olhos fixos na tela. O resultado é um comportamento social marcado pela fragmentação da concentração, superficialidade nas interações e um aumento na ansiedade e na compulsão digital.
A sociedade passa a valorizar o instantâneo em detrimento do profundo. A leitura de um artigo completo é substituída por manchetes, a reflexão por reações rápidas, e o diálogo por polarizações. Vivemos mais conectados, mas nem sempre mais conscientes.
Empresas: a corrida pela atenção como estratégia de sobrevivência
Na esfera corporativa, a atenção do consumidor se tornou um campo de batalha. Empresas que antes vendiam produtos, hoje vendem experiências — pensadas para capturar e manter o olhar por mais tempo. A lógica da viralização define estratégias de marketing, design de produtos e canais de comunicação. Quem atrai e retém atenção, vende mais. Quem não o faz, desaparece.
Isso leva a práticas de “captura” emocional: uso de gatilhos mentais, storytelling, influência digital e exploração do FOMO (medo de estar perdendo algo). Ao mesmo tempo, abre espaço para inovações que equilibram tecnologia e bem-estar, como o design ético de plataformas, foco em qualidade de conteúdo e experiências mais humanas.
Democracias: o risco da manipulação e da desinformação
Talvez o impacto mais preocupante da economia da atenção esteja na política. Democracias, que dependem de cidadãos bem-informados e críticos, estão sendo desafiadas por uma dinâmica onde o espetáculo supera a substância. A viralização de fake news, a manipulação algorítmica de conteúdos e a criação de bolhas informacionais transformaram o debate público em um campo minado de desinformação e radicalização.
A atenção, aqui, não é apenas comercializada — ela é politizada. A eleição de líderes populistas, a disseminação de teorias da conspiração e a erosão da confiança nas instituições são sintomas de uma democracia capturada por mecanismos que priorizam o engajamento a qualquer custo.
Para onde vamos?
Entender a economia da atenção é compreender que estamos diante de um modelo de sociedade que valoriza o que prende o olhar — não necessariamente o que é verdadeiro, ético ou relevante. Essa nova lógica exige responsabilidade de todos os atores: cidadãos mais conscientes de seu tempo e foco, empresas comprometidas com experiências autênticas e democracias que protejam o espaço do debate público.
Mais do que nunca, precisamos cultivar a atenção como um ato de resistência. Escolher o que consumimos, como interagimos e onde colocamos nosso foco pode ser uma forma de retomar o controle sobre nossas vidas, nossas relações e nossos futuros.