Mr Keynes, além de ser um dos maiores economistas de todos os tempos, era um profundo conhecedor da natureza humana. É dele a observação de que os homens preferem errar juntos a acertar sozinhos, e isso foi no começo do século XX.
À primeira vista, isso parece uma ofensa à nossa racionalidade, nossa capacidade de julgamento e ao nosso livre arbítrio. Gostamos de sentir que somos senhores dos nossos pensamentos e escolhas. E assim poderia ser.
O desenvolvimento da neurociência nos trouxe uma gama de informações sobre o funcionamento do nosso cérebro, uma máquina absolutamente fantástica e complexa e ainda pouco conhecida pelas pessoas em geral.
A função básica do cérebro é preservar a vida. Guarde esta informação, ela o ajudará a entender muitas coisas.
Agora, imaginemos como era a vida nos primórdios da nossa espécie, vivendo da caça e coleta, enfrentando a natureza inóspita com quase nenhum equipamento. Fácil perceber que era impossível sobreviver sozinho. Para garantir a sua sobrevivência, era fundamental estar integrado a um bando. Assim seu comportamento era guiado para não ofender, não contrariar e, assim, garantir a sua aceitação e permanência no grupo.
Nos dias de hoje, conseguimos garantir a nossa sobrevivência física mesmo estando sozinhos. No limite, pertencer a um grupo não é condição necessária para nossa sobrevivência material, porém continuamos buscando pertencer a grupos de relacionamento. Rejeição é um sentimento com a qual a grande maioria não sabe lidar.
Esse fenômeno acaba gerando situações nas quais o pensamento do grupo e as suas preferências acabam se sobrepondo às nossas próprias. Abrimos mão das nossas opiniões diante do receio de sermos “cancelados”.
Mas isso não acontece de forma gratuita e simples, pois um indivíduo não pode aceitar que mudou sua opinião pelo temor da reação do grupo. Isto seria uma afronta a minha autoestima. Para evitar esta situação, o cérebro elabora todo um raciocínio a posteriori para justificar a assunção do pensamento majoritário. A esse fenômeno se dá o nome de influência social normativa, e assim conforta-se acreditando que não abriu mão da sua opinião por medo de rejeição.
Nas empresas, muitas vezes nos calamos para não contrariar uma opinião dominante. A mesma situação nos círculos sociais e assim por diante. E, como prêmio de consolação, dizem: você prefere ter razão ou ser feliz?
Mas vamos por partes: primeiro, quem disse que razão e a felicidade são excludentes?
Já não vivemos mais na idade da pedra, quando ter opinião divergente implicava no risco de vida, então qual será o risco que corremos hoje? Por que preferimos errar juntos a acertar sozinhos?
É o medo! Acertar sozinho tem como contrapartida errar sozinho.
Quando pensamos no ônus e bônus de uma decisão, instintivamente percebemos que o ônus de uma escolha coletiva errada é muito menor do que uma escolha individual, afinal, no primeiro caso, todos erraram. No segundo caso, não tenho este manto protetor da decisão coletiva.
Lembra que falei que a função básica do cérebro é preservar a vida?
Deixado por conta, nosso cérebro prefere opções que minimizam perdas a as que maximizam os ganhos. A escolha instintiva será sempre por minimizar os riscos.
A única maneira de escapar desse destino é lançar mão da incrível capacidade de pensar com a qual fomos dotados e exercer responsavelmente a nossa capacidade de escolha. Não é um processo natural, requer foco, disciplina e principalmente coragem.
Só assim você poderá escapar do aparente conforto e da segurança de errar juntos e se destacar no meio da massa cinzenta!