Em um cenário global marcado por crescentes tensões geopolíticas e disputas comerciais, a América Latina tem se consolidado como um destino atrativo para investidores internacionais. As guerras em curso, tanto militares quanto econômicas, têm direcionado o olhar para uma região percebida como surpreendentemente estável em termos tarifários e livre de grandes conflagrações.
Dados recentes sobre fluxos de portfólio sugerem que muitos investidores globais ainda possuem uma exposição relativamente baixa à América Latina. Essa subexposição ocorre mesmo diante do desempenho robusto de diversos mercados acionários da região, incluindo Brasil e México, que têm registrado níveis recordes ou próximos a eles. Adicionalmente, os títulos soberanos latino-americanos oferecem rendimentos considerados atraentes.
“A narrativa sobre a América Latina se tornou mais clara, com ações apresentando preços convidativos e uma escassez de alternativas em outros mercados emergentes”, avalia Leonard Linnet, chefe de ações do Itaú BBA. Brasil e México figuram como os principais focos da exposição de investidores internacionais na região, concentrando, de longe, os maiores pesos nos índices de referência globais para ações e títulos.
Apesar de serem os maiores mercados da América Latina, Brasil e México representam uma parcela relativamente pequena no contexto dos mercados emergentes globais. O Brasil, a maior economia da região, constitui 60% do índice MSCI Latam, mas pouco menos de 5% do índice mais amplo de mercados emergentes. Atualmente, os mercados de ações de ambos os países operam próximos a seus picos históricos, com avaliações consideradas baixas, enquanto seus títulos oferecem rendimentos interessantes, sustentados por uma política monetária que sinaliza afrouxamento.
Apesar do cenário promissor, o leque de oportunidades de investimento pode ser limitado para algumas instituições, uma vez que certos mercados latino-americanos apresentam menor liquidez ou não possuem classificações de crédito com grau de investimento. Contudo, nesse ambiente de maior incerteza global, outros investidores enxergam a possibilidade de retornos significativos. Após um declínio de 26% no índice de ações regionais no ano passado, a América Latina tem se destacado como o mercado acionário com o melhor desempenho neste ano.
Dentro do universo do MSCI, investidores estão desembolsando pouco mais de US$ 9 por cada dólar de lucro nas empresas da América Latina, um patamar significativamente inferior aos mais de US$ 19 pagos nos mercados desenvolvidos. Com uma taxa de juros de 14,75%, o real brasileiro emergiu como uma das moedas preferidas para operações de “carry trade” e já se valorizou mais de 9% em relação ao dólar neste ano. O índice de moedas da América Latina acumula uma alta de quase 15% em 2025, atingindo, na semana passada, seu maior patamar em 14 anos.
O Brasil também lidera a atração de capital de risco na região, com mais de 1.400 startups apoiadas entre 2013 e o primeiro semestre do ano passado, de acordo com os dados mais recentes da LAVCA (Associação para Investimento de Capital Privado na América Latina). Uruguai, Chile e Colômbia também têm se destacado como centros alternativos de inovação e investimento.
*Com informações da Reuters