O mês de julho é marcado pelo Dia de Proteção às Florestas, data que chama atenção para os riscos da degradação ambiental e a necessidade de conservar os ecossistemas florestais. Um dos casos mais críticos está no Nordeste brasileiro, onde a Mata Atlântica já perdeu cerca de 94% de sua cobertura original, especialmente no Centro de Endemismo Pernambuco (CEP), área entre Alagoas e Rio Grande do Norte, historicamente devastada desde o ciclo do açúcar no século XVI. A destruição compromete a biodiversidade e leva a perdas irreversíveis, como a extinção de aves endêmicas: limpa-folha-do-nordeste, gritador-do-nordeste, mutum-do-nordeste e caburé-de-pernambuco.
A fragmentação dos habitats, provocada por séculos de monocultura, pecuária e urbanização, afeta o equilíbrio ecológico e os serviços ambientais prestados pelas florestas, como a regulação do clima, recarga hídrica e a manutenção da fauna e flora nativas. Nesse cenário, a restauração ecológica surge como uma estratégia viável e necessária. A SAVE Brasil, organização dedicada à conservação das aves e de seus habitats, lidera projetos de restauração florestal em uma área estratégica entre a Estação Ecológica de Murici (AL) e a Serra do Urubu (PE). Com ações que combinam reflorestamento, regeneração natural e implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), já foram restaurados mais de 50 hectares e plantadas 15 mil mudas nativas.
Mais do que recuperar áreas degradadas, a restauração florestal no Nordeste precisa considerar o contexto social, ambiental e econômico do território. Em regiões como o Centro de Endemismo Pernambuco, onde a fragmentação é severa, cada iniciativa de reflorestamento contribui para conectar habitats, favorecer o retorno da biodiversidade e envolver as comunidades no cuidado com a paisagem. “Estamos criando uma cadeia de restauração que envolve desde o plantio de espécies nativas até a produção de sementes, capacitação da comunidade e participação em políticas públicas”, destaca Aline Bezerra, gestora da RPPN Pedra D’Antas e coordenadora de projetos na SAVE Brasil.
O monitoramento da avifauna é um dos diferenciais do projeto, servindo como indicador da recuperação ecológica. Em Lagoa dos Gatos (PE), por exemplo, uma propriedade restaurada passou de 10 para 26 espécies de aves em apenas um ano, incluindo o retorno do raro picapauzinho-de-pernambuco.
Até 2027, a meta é restaurar mais 300 hectares, ampliando a conectividade entre fragmentos florestais e garantindo a sobrevivência das espécies ameaçadas. Alinhado à Década da Restauração dos Ecossistemas da ONU (2021–2030), o trabalho reforça que valorizar as florestas é preservar a vida, os recursos naturais e a estabilidade climática.