Dois mil e vinte e três foi marcado por acontecimentos importantes envolvendo o mercado de recebíveis de cartões: atualização das normas sobre duplicatas escriturais (BCB Nº 339) e sobre a venda automática de recebíveis de cartões (BCB Nº 349), além de novo prazo para as registradoras e as adquirentes cumprirem essas obrigações regulatórias. Agora, no último mês do ano, o setor começa a voltar a atenção para o que reserva 2024, que deve vir repleto de desafios. Quem detalha é Cesare Rollo Iacovone, fundador e CEO da Destrava Aí, fintech que oferece infraestrutura de embedded finance especializada em recebíveis de cartões – neste ano, a empresa já avaliou mais de R$ 500 milhões em recebíveis e mais de R$ 100 milhões em ofertas de crédito com garantia de recebíveis.
“Um ponto de atenção de 2023 que será refletido também no próximo ano é o fato de ainda haver players apostando em não se adequar às novas normas para ‘ganhar tempo’ e manter o status quo dos negócios. Para romper com isso, é essencial a atuação do Banco Central, uma vez que prazos estabelecidos anteriormente já foram postergados. Na nossa visão, seria indispensável uma sinalização firme do regulador de que abril é a data definitiva para a mudança, indicando inclusive se haverá aplicação de penalidades aos que comprovadamente não cumprirem com a regulação após a data. A incerteza quanto aos prazos impacta diretamente as pequenas e médias empresas que ainda não puderam usufruir todos os benefícios em termos de taxas e de disponibilidade de crédito que a norma promete.”
“Acredito que o primeiro trimestre de 2024 será de muito trabalho por parte dos times de tecnologia das credenciadoras e registradoras, impactando ainda outras pautas das quais essas empresas participam ativamente, como o roadmap do pix, open finance, etc. Já em relação ao segundo semestre, deve haver impacto real nas margens das empresas cujos resultados dependem da antecipação de recebíveis e cujo diferencial é o uso das suas próprias transações capturadas (ou seja, das adquirentes). Dado o impacto da norma, ao contrário do que muitos pensam, veremos um aumento significativo de operações com antecipação automática. ”
“Nesse contexto, a partir do segundo trimestre – mas com mais força no terceiro trimestre –, veremos pequenos e grandes adquirentes tendo de reinventar o negócio ‘do dia para a noite’. Diante disso, haverá um impacto positivo em bancos e outras instituições financeiras que se posicionarem para capturar oportunidades, principalmente aquelas que não detém uma vertical de adquirência dentro dos seus grupos econômicos. Os players com melhores canais de aquisição e a proposta de valor mais completa serão os que ganharão espaço. Ser especializado em nichos de mercado (ex: setores e geografias) será um imperativo estratégico para fintechs que não possuem os recursos para “brigar de frente” com grandes players que têm acesso a fontes de funding mais baratas. Ainda para esse período, devem ser observados novos desafios de negócio para todos os que atuarem com a digitalização de recebíveis. O principal deles será o uso das reservas financeiras, novidade da atualização da norma, que tem impacto direto no pricing das adquirentes que, todos sabem, é chave para a dinâmica competitiva do setor.”
“O risco de performance (“chargeback” ou cancelamento de compras pelos clientes) poderá ser mais significativo com as adquirentes sendo especialmente impactadas pelos desafios para se acomodar ao novo mercado. A relação entre chargeback e as reservas financeiras deverá ser cuidadosamente analisada por todos os envolvidos para correta precificação das operações de crédito, mas principalmente pelo Banco Central, visando garantir que eles sigam o princípio da ‘racionalidade econômica’ proposta pela norma de recebíveis. Por outro lado, o uso de recebíveis de cartões deve estimular de maneira significativa a inovação no mercado. Com isso, diversos setores não financeiros devem trabalhar com essa injeção de liquidez na economia brasileira proveniente dos recebíveis de cartões.”
“Em relação às duplicatas escriturais, em 2024, devem ser vistas as primeiras operações-piloto, mas também deve haver muitas discussões regulatórias e de implementação, o que pode sinalizar, como consequência, uma necessidade de postergação do prazo previsto do 1º semestre de 2025. Não somos pessimistas, mas quem trabalha com esse mercado desde o início sabe que, diante do histórico, a postergação de prazos tem sido a regra e não a exceção.”
Sobre a Destrava Aí
A Destrava Aí é uma fintech que oferece infraestrutura de gestão de garantias especializada em recebíveis de cartões. Foi fundada em agosto de 2021 pelo empreendedor Cesare Rollo Iacovone, atual CEO da empresa, que também é liderada por Marcos Fernandes, cofundador e CRO, e Matías Rodríguez, CTO. A empresa atende fintechs, gestoras de investimento (FIDCs), distribuidoras e franqueadoras, ajudando no aumento da concessão e da recuperação de crédito e de cobranças. Neste ano, inclusive, já avaliou mais de R$ 500 milhões em recebíveis e mais de R$ 100 milhões em ofertas de crédito com garantia de recebíveis.