Quando encontro jovens recém-saídos da faculdade dando os primeiros passos na carreira, lhes dou sempre o mesmo conselho: pensem no futuro que desejam para vocês e no futuro que querem proporcionar às suas famílias. Muitas vezes, o esforço de hoje vai evitar desafios gigantescos amanhã. Não se acomodem, se esforcem, lutem e vão atrás do que têm vontade de fazer. Esse esforço será recompensado.
Não que eu seja muito mais velho que esses jovens, mas, com meus 32 anos, já passei por muitas experiências e mudanças significativas em minha trajetória profissional. Acredito que compartilhar esse conhecimento pode ser valioso para quem está ingressando no mundo corporativo. Ainda hoje lido com desafios diários, afinal, vim morar nos Estados Unidos há pouco tempo com minha esposa, Christine, e estamos nos adaptando a essa nova realidade. Cuidamos da nossa filha pequena, Luisa, sem uma rede de apoio próxima, enquanto meu trabalho exige bastante de mim. No entanto, assim como aconteceu diversas vezes em minha carreira, a adaptação também faz parte da vida pessoal.
Sempre que olho para minha trajetória, penso nos meus pais. Eles são minha inspiração. Se cheguei até aqui, devo muito a eles, Clóvis e Majida. Criados por mães solo, estudaram em escolas públicas a vida inteira e só concluíram o ensino superior quando eu já estava no ensino médio. Filho único, nasci e cresci na cidade de São Paulo. Sempre fui muito cobrado por eles, mas essa educação fez toda a diferença na minha formação tanto pessoal como profissional.
A busca pela excelência veio de berço
Quando eu era pequeno, minha mãe trabalhava como professora e, por isso, sempre valorizou a educação e a busca pelo conhecimento por meio da leitura. Ela nunca me negou um livro. Dizia que era a única coisa que poderia comprar para mim sem nem pensar duas vezes, pois sabia que isso alimentaria minha curiosidade intelectual.
Tenho até uma história engraçada sobre ela. Certa vez, fiquei de castigo por tirar um 9 em uma prova. É sério! Mas há uma boa explicação: eu disse a ela que não precisava estudar porque já sabia toda a matéria. Ela, é claro, discordou de mim e me avisou que, se eu já sabia tudo, tinha a obrigação de tirar 10 ou ficaria de castigo. Foi nesse momento que aprendi que conhecimento nunca é demais. Lembro dela me dizendo que, se um dia eu estivesse em uma conversa e não entendesse nada, deveria ouvir com atenção, absorver as informações e, em seguida, fazer uma pesquisa sobre o assunto porque a pior coisa é se sentir desinformado, deslocado ou inferior em uma conversa. Levo isso para a vida até hoje.
Aliás, se hoje falo inglês e espanhol com fluência, foi também por conta do investimento que meus pais fizeram em minha educação. Quando eu tinha 14 anos, minha mãe me fez uma proposta: trocar a viagem de formatura para Porto Seguro, na Bahia, por um intercâmbio no Canadá. Dei a resposta que ela sonhava e topei. Eles, que nunca tinham saído do Brasil, juntaram as economias e me proporcionaram a experiência de morar três meses em outro país. Lá amadureci muito. Interagi com pessoas de diversas culturas, que seguiam carreiras diferentes, e foi a partir dessa vivência que meu interesse pela área financeira começou a crescer.
Durante o intercâmbio, conheci alguns engenheiros, o que despertou minha atenção e reforçou minha aptidão pela área de exatas. No ensino médio, já tinha clareza: queria cursar engenharia, uma formação coringa, capaz de abrir diversas portas. Nessa época de escola, temos muitas dúvidas sobre qual caminho profissional seguir, mas eu via a engenharia como uma área ampla, que me permitiria, no futuro, decidir se migraria para o mercado financeiro, para a indústria ou para o mundo corporativo.
Gosto muito de viajar. Já visitei o Sudeste Asiático e tive a oportunidade de conhecer países “fora da caixa”. Essa exposição a novas culturas é muito enriquecedora, pois permite ver o que motiva as pessoas e como elas se comportam. Além disso, viajar traz um amadurecimento e um jogo de cintura que me ajudam a lidar com distintos perfis de pessoas e enfrentar situações de trabalho desafiadoras.
Isso só foi possível graças à independência que comecei a ter a partir do intercâmbio, quando aprendi, na prática, a importância de assumir responsabilidades. Durante essa experiência, aprimorei meu inglês e, com o tempo, o mesmo aconteceu com minha fluência em espanhol. E olha que meu pai ainda queria que eu aprendesse a falar chinês! Essa, por enquanto, ainda lhe devo.
No esporte, tive lições que levei para o mundo corporativo
Meu pai me ensinou muitos princípios por meio do esporte. Os principais foram a disciplina e a determinação de correr atrás dos meus objetivos, sempre dando meu melhor. Seu Clóvis sempre foi muito parceiro, apoiando todas as minhas decisões – até hoje é o meu maior fã. Contudo, nunca aceitou que eu fizesse corpo mole.
Se eu começava um novo esporte, ele não permitia que eu faltasse aos treinos. Se fosse preciso, me acordava cedinho, às cinco da manhã, para treinar. Dirigia longas distâncias para me levar aos treinos, mas não se importava, para ele era sagrado. Se minha mãe me transmitiu essa ânsia pelo conhecimento, meu pai me ensinou a importância de sempre lutar, de não me contentar com pouco, de ser íntegro e um homem de palavra.
Ele sempre esteve na torcida por mim em vários esportes. Nunca joguei futebol porque eu era péssimo, e meu pai era muito ruim, então nem tentei. Mas pratiquei karatê, natação e tênis. Joguei handebol pelo São Paulo e fui bicampeão paulista. Entre a adolescência e a faculdade, dediquei oito anos ao beisebol. Foi a época que dediquei mais tempo a um esporte; chegava a treinar aos sábados e domingos, fora durante a semana à noite.
Por meio do esporte, incorporei à minha vida a necessidade de ter disciplina e valorizar as relações interpessoais, além de aprender a liderar. Estar sempre próximo dos colegas e conviver com pessoas diferentes me ensinou a liderar. O esporte funciona como um microcosmo do mundo corporativo. Nos dois casos, lidamos com pessoas de diferentes níveis e personalidades, mas com um mesmo foco: alcançar a melhor performance e atingir os melhores resultados possíveis. Cada um fazendo sua parte, com um objetivo em comum para todo o time.
Tive muita paciência, resiliência e passei por mudanças na carreira até chegar aonde estou hoje
Em 2010, já com a bagagem adquirida no intercâmbio e no esporte, ingressei no curso de engenharia de produção no Instituto Mauá de Tecnologia, que na época era chamado de produção mecânica. Lá conheci Christine, minha esposa e mãe de minha filha. Uma coisa foi levando à outra, cada aprendizado em um aspecto da vida me ajudou a seguir em frente.
Dois anos depois, em 2012, minha vida corporativa se iniciou. Na ânsia de ter meu dinheiro, minhas conquistas e minha independência, queria entrar em um estágio o quanto antes. Não sei se foi sorte, mas fui contratado no primeiro estágio que me candidatei, na ETH Bioenergia. Hoje a empresa se chama Atvos; na época, era o braço da então Odebrecht no setor de agronegócio.
Não vou mentir: pensei que seria bem chato ficar o tempo todo no escritório, mas não demorou muito para eu me encantar pelo mundo corporativo. O dia a dia, a possibilidade de fazer parte de decisões importantes e estar dentro de projetos maiores despertaram meu interesse. Na ETH, eu auxiliava nas tomadas de decisão e na análise de potenciais aquisições da área de investimentos. Foi lá que aprendi o beabá corporativo, o básico do básico: como me portar, me vestir e me relacionar com os colegas de trabalho. Eu não tinha esse background, mesmo porque meus pais não vieram dessa mesma realidade. Com muita paciência, aprendi bastante ouvindo o que me diziam, absorvendo e entendendo como tudo funcionava.
Na época, trabalhei no projeto de uma aquisição conjunta, um investimento da ETH em parceria com uma empresa internacional, e percebi que a área de finanças era a que mais me encantava, pois combina a parte técnica, a relacional e a negocial, tornando-se uma função completa. Ao mesmo tempo, sentia que me faltava algo, uma parte das finanças que eu não dominava, já que minha formação era em engenharia.
Para preencher essa lacuna e complementar meus conhecimentos, busquei oportunidades de aprendizado. Foi, então, que consegui uma bolsa do programa Ciência Sem Fronteiras e passei um ano em Sydney, na Austrália, estudando justamente a área de finanças. Quando retornei, estava decidido a trabalhar no campo em que atuo hoje, o de fusões e aquisições; mas a caminhada ainda seria longa.
Eu me candidatei a diversas vagas na área, mas não fui aprovado em nenhuma. Como eu não queria ficar sem trabalhar, entrei na área de planejamento da BASF. Lá eu via a oportunidade de migrar para minha área de interesse.
Menos de um ano depois, já em 2015, fui chamado para a Czarnikow, uma trading com uma área similar à de um banco de investimentos. Foi o início de uma nova etapa na minha carreira, desta vez na área que sempre almejei e na qual atuo até hoje. A experiência na empresa foi uma grande escola para mim. Gosto muito de todos com quem trabalhei lá. Como meu time era muito pequeno, tive uma grande exposição interna e externa e precisei aprender rapidamente as características desse novo setor.
Um dos grandes desafios de trabalhar no mercado financeiro é construir uma reputação sólida para ganhar credibilidade. Clientes mais velhos me viam como um jovenzinho querendo aconselhá-los sobre os melhores caminhos a tomarem em seus negócios – negócios nos quais já atuavam há 40 anos ou mais. E eu, com pouca experiência, tentava conquistar meu espaço dia a dia. Esse começo de carreira exige paciência, posicionamento firme e busca constante por agregar valor e demonstrar competência.
Quer mais uma história curiosa? Nessa época, recebi um feedback memorável. Um líder disse que eu era um excelente profissional, mas que minha aparência muito jovem não ajudava nas reuniões. Perguntei o que poderia fazer para mudar essa percepção, e a resposta chega a ser engraçada: “Sei lá, você é muito magro… Faz uma academia para ver se muda isso”. Não é fácil.
O posicionamento assertivo e o amadurecimento são dois desafios que não podem ser ignorados e precisam ser desenvolvidos ao longo do tempo. Outra dificuldade para quem atua nessa área é saber que alguns projetos exigem muito de nós. Durante meus cinco anos nessa empresa, cheguei a virar noites preparando apresentações e me dedicando a projetos que nem se concretizaram. Faz parte do jogo.
Um bom líder dá espaço para o time brilhar
Somos muito digitais hoje em dia, e cada um vive em seu próprio mundinho. Então, existe uma carência de parte dos profissionais de fazer parte de uma equipe. Quando um líder cria um ambiente colaborativo, a equipe se sente mais motivada, e os resultados melhoram. Assim, a comunicação dele precisa ser clara, para que todos entendam o que estão fazendo e por que estão fazendo. As tarefas não podem ser só operacionais, todos precisam ter clareza do passo a passo e dos resultados práticos que o trabalho gera. Só assim existirá espaço para os liderados brilharem, se sentirem parte das decisões importantes.
É nesse cenário que um bom líder faz a diferença. Ele motiva os liderados, procurando entender as diferenças nas ambições de cada geração, de acordo com cada pessoa. Só assim é possível incentivar um time, dando espaço para todos brilharem. Isso é essencial. Um bom líder entende o time e reforça um princípio fundamental: os acertos e os erros são compartilhados.
Outro erro muito comum no mundo corporativo é a comparação. Muitas pessoas se comparam com profissionais da mesma idade ou com colegas de empresa. Não se compare, pois a comparação é subjetiva e o resultado varia conforme a trajetória de cada pessoa. Em vez disso, concentre-se em seu próprio desenvolvimento: se esforce, dê o seu máximo e entregue seu trabalho com excelência, assim você se destacará naturalmente.
Para quem é jovem, sei que o início da carreira é desafiador; muitos precisam ajudar financeiramente em casa ou até mesmo lutar pelo básico da sobrevivência. Então, se posso dar mais um conselho, é o seguinte: ajuste seus gastos de acordo com o que ganha, evite luxos no começo da carreira, invista em você, aprenda novos idiomas, se especialize e não pare de estudar. Crie uma base sólida, tanto financeira quanto profissional, para depois colher os frutos e, assim, desfrutar de determinados confortos. Não tenha pressa.
Posso dizer que dei sorte ao longo da minha carreira porque tive líderes muito bons e nunca passei por uma experiência negativa. Meu grande mentor é Daniel Valle, meu primeiro chefe no setor em que atuo e atual diretor de estratégias e novos negócios da Copersucar. Ele me ensinou muito; é uma pessoa extremamente inteligente e focada. Sou imensamente grato a ele por ter me direcionado e sido generoso ao me deixar brilhar em vários momentos.
Quando se trata de uma boa liderança, o conselho mais valioso que tenho a dar é: cerque-se de pessoas melhores que você. Elas não precisam ser necessariamente melhores em todos os aspectos, mas que se destaquem em ao menos um setor específico. A vida é um eterno aprendizado; então, se você não é o aluno mais inteligente da sala, sempre haverá algo a aprender de quem está ao seu redor. Quando seu time é forte e te ensina todos os dias, você nunca fica parado, está sempre em constante evolução. Para mim, isso é fundamental.
Uma carreira de sucesso é construída com várias pequenas vitórias e com o aprendizado de pequenos insucessos
Minhas maiores vitórias na carreira foram as migrações. Consegui mudar da engenharia para o mercado financeiro e dos bancos de investimentos para os fundos de investimentos, área na qual atuo até hoje. Recentemente, veio a mudança para os Estados Unidos, mais um passo significativo na minha trajetória profissional. Precisei me adaptar a todas essas transições.
Uma experiência marcante para mim foi atender um cliente do Paquistão em um projeto que durou mais de um ano. Foi um desafio que exigiu demais de mim tanto em relação ao idioma quanto à capacidade didática. A necessidade de aprender a trabalhar com outra cultura me ensinou bastante.
Nos últimos meses, confesso que falhei um pouquinho apenas na questão da leitura. Por conta da paternidade, escolhi me aprofundar mais na educação infantil, então terminei há pouco de ler O livro que você gostaria que seus pais tivessem lido (e seus filhos ficarão gratos por você ler), da Philippa Perry.
Por fim, nunca é demais ressaltar o quanto nós, brasileiros, somos amados e valorizados no mundo. Temos a tendência de nos subestimar e achar que nos Estados Unidos tudo é melhor. No entanto, nosso lado relacional, nossa alegria contagiante e a disposição que temos acima do normal para trabalhar é bem reconhecida pelos estadunidenses. Na empresa onde trabalho, sou o único brasileiro, por isso sempre me pedem para levar nossa cultura para dentro do escritório: trazer as pessoas para perto, almoçar com os colegas de trabalho, conversar de igual para igual e trocar experiências. São qualidades do povo brasileiro que fazem a diferença no ambiente profissional.
Com muita paciência, disciplina e resiliência, seu esforço será recompensado, independentemente da área em que você atuar.