A China atingiu um marco histórico em sua economia: o superávit comercial de bens ultrapassou a marca de US$ 1 trilhão pela primeira vez. O feito, anunciado pela Administração Geral de Aduanas da China nesta segunda-feira (8), sublinha a profunda dominância que o país alcançou em toda a cadeia produtiva global, abrangendo desde itens de baixo custo, como camisetas, até produtos de alta tecnologia, como veículos elétricos.
Nos 11 primeiros meses do ano, as exportações chinesas cresceram 5,4% em relação ao período anterior, alcançando US$ 3,4 trilhões, enquanto as importações diminuíram 0,6%, ficando em US$ 2,3 trilhões. O resultado elevou o saldo comercial positivo para US$ 1,08 trilhão, superando o recorde anterior de US$ 993 bilhões registrado no ano passado.
Esta cifra notável é o ápice de décadas de planejamento e políticas industriais que transformaram a China de uma economia agrária para a segunda maior do mundo. Se nas décadas de 1980 e 1990 o país ganhou o apelido de “chão de fábrica do mundo” por produzir itens simples, ele utilizou essa base para avançar agressivamente.
Nos anos mais recentes, as empresas chinesas se tornaram protagonistas indispensáveis nas cadeias de suprimentos globais, destacando-se em setores de maior valor agregado, como: Véiculos elétricos, Paínes solares e semicondutores.
A magnitude desse superávit agrava as tensões geopolíticas e os desequilíbrios comerciais globais. Jens Eskelund, presidente da Câmara de Comércio da União Europeia na China, observou que a cifra é “tão grande que é óbvio que não são apenas os Estados Unidos ou a Europa, mas o mundo todo que terá que financiar essa lacuna”.
Em termos de volume, a dominância é ainda mais palpável: o especialista estima que para cada contêiner enviado da Europa para a China, há quatro contêineres seguindo na direção oposta, e que a China responde por cerca de 37% de todo o volume de carga exportada em contêineres globalmente.
Curiosamente, o aumento das exportações chinesas ocorreu apesar das altas tarifas impostas pelos EUA. Embora o presidente Trump tenha reduzido as tarifas que chegaram a superar 100% no auge da guerra comercial, as taxas médias sobre produtos chineses ainda giram em torno de 37%.
Em novembro, as exportações chinesas para os EUA caíram 29%, enquanto o aumento geral de 5,9% nas exportações para o mundo foi sustentado por um salto de 15% nos embarques para a União Europeia e 8,2% para o Sudeste Asiático.
Especialistas preveem que o impulso comercial chinês não deve desacelerar significativamente, impulsionado pela liderança do país em manufatura avançada e sua capacidade de mobilizar recursos para atender às tendências de demanda global. Economistas do Morgan Stanley estimam que a participação chinesa nas exportações globais de bens deve subir dos atuais 15% para 16,5% até o final da década.






