O primeiro semestre de 2025 para o setor automotivo foi marcado por um ambiente desafiador, junto às incertezas no mercado interno e turbulências no cenário internacional. Para Enilson Sales, presidente da ANEF (Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras), a expectativa para os próximos meses é de um desempenho moderado, com destaque para o mercado de seminovos e usados, que deve seguir levemente positivo, enquanto as vendas de veículos novos enfrentam maiores obstáculos.
A combinação entre restrição de crédito, desaceleração no consumo das pessoas jurídicas e volatilidade tributária, especialmente em relação ao IOF, com a possível judicialização por parte do governo, têm sido um entrave para a recuperação consistente do setor. “O vai e vem nas discussões sobre o imposto tem preocupado o setor automotivo. A instabilidade fiscal gerada por incertezas em torno do IOF afasta o mercado e dificulta o planejamento. Negócios, que dependem de financiamento, precisam de previsibilidade. O atual cenário de indefinição é muito prejudicial à tomada de decisão de consumidores e empresas”, afirma Sales
Para ele, a oferta de crédito e a confiança do consumidor serão os principais vetores de desempenho nos próximos meses. “Para o consumidor pessoa física, há espaço para crescimento, desde que as condições financeiras melhorem. Já para as empresas, a situação está mais restritiva. A cautela é a palavra de ordem para quem faz as contas na ponta do lápis”, analisa o executivo.
Outro ponto de atenção será a condução da política monetária pelo Banco Central. A expectativa é de que os próximos movimentos da Selic reflitam tanto o panorama doméstico quanto pressões externas. “Vamos aguardar os novos movimentos da Bacen sobre a Selic. Ambos os cenários – interno e internacional – indicam dificuldades, ainda que com intensidades distintas”.
Sales esclarece que o contexto internacional também impõe desafios importantes. Conflitos armados em diversas regiões e seus reflexos nos preços do petróleo e na cadeia energética global têm impacto direto na logística e nos custos do setor automotivo. “A produção, o transporte e o fornecimento de insumos sofrem com atrasos e elevações de preço, o que acaba sendo sentido pelo consumidor”, alerta.
Incentivos
No campo político, a expectativa é baixa quanto à adoção de novas políticas públicas voltadas ao setor. “Com o governo em busca de maior arrecadação, a possibilidade de incentivos é considerada remota. O setor deve continuar enfrentando esse cenário com seus próprios recursos e estratégias”, avalia.
Sobre os resultados para 2025, Sales arrisca a dizer que este ano, financiamento de veículos deve fechar com um desempenho inferior a 2024, especialmente no segmento de veículos novos. “Apesar do cenário adverso, o setor automotivo segue atento a oportunidades de movimentação, com foco em eficiência, digitalização e aproximação com o consumidor final, principalmente por meio do mercado de seminovos e usados, que se mantêm resilientes”, conclui