É curioso perceber como muitas vezes somos induzidos, sem perceber, a conclusões equivocadas porque elas confirmam algumas das nossas crenças ou desejos.
A espécie Sapiens é dotada de inteligência, razão, capacidade de pensamento abstrato e tantas outras capacidades. Mas, por exemplo, ser dotado de razão não significa que nossas ações, pensamentos e decisões serão racionais. O fato de eu ser dotados de membros e músculos que me possibilitam correr não significa que serei maratonista, concorda?
A diferença é que é fácil reconhecer e aceitar que não sou capaz de correr uma maratona, mas nem sempre percebemos quando os nossos pensamentos, decisões e ações tem motivações não racionais.
Sem perceber, com muito mais frequência do que podemos imaginar, tomamos decisões com base em sentimentos e depois procuramos explicações que possam justificar aquela atitude como sendo racional. Como não tenho consciência do meu engano, continuo a minha prática.
Um ditado que se popularizou anos atrás dizia que, “em time que está ganhando não se mexe”. Mas, desde dos gregos, sabemos que o único permanente é a mudança.
Ora, se tudo é impermanente, não é racional acreditar que as condições que me permitem estar ganhando permaneçam estáticas, que o adversário permanecerá impassível diante da derrota. Isso vale para uma partida de futebol, os negócios e os demais segmentos da vida incluindo os relacionamentos.
Mas então, por que um ditado com essas contradições tem aderência?
É porquê o inconsciente tem uma necessidade de apego e de segurança.Assim, tudo que pode gerar insegurança tendemos a negligenciar e desconsiderar. É como que se evitando pensar, ou falar da morte, pudéssemos evitá-la.
A lógica por trás é que nenhum resultado de uma mudança é 100% previsível e assim sendo, não é controlável, gerando insegurança quanto ao status futuro. Entre a segurança do presente e a imprevisibilidade do futuro, preferimos nos apegar ao presente sem dedicar tempo e atenção ao futuro. Isto te lembra um avestruz?
Às vezes, escuto pessoas que, para justificar o descaso com sua saúde, dizem: “mas no final, de qualquer jeito, todos vamos morrer”. É verdade, todos vamos morrer, mas cuidar da saúde tem como principal objetivo, na minha visão, ter condições dignas de vida até o momento da sua partida. A questão não é se eu vou morrer, mas o que acontece até eu morrer.
O fato de sermos racionais não garante e não significa que agimos racionalmente. Aliás, na maior parte do tempo, agimos por impulso, influência de terceiros, costumes enraizados que muitas vezes contradizem o pensamento racional, mas sequer percebemos isso.
Como nos ensinou Daniel Kahneman, no seu livro “Rápido e Devagar”, o sistema S2, nossa parte racional, é preguiçoso só atuando somente sob demanda. Racionalidade não vem por default, nós precisamos ativá-la, treinar e, aos poucos, vamos ganhando fôlego para correr uma prova de 5 mil metros e até, quem sabe um dia, chegarmos a uma maratona.
O primeiro passo é a busca do autoconhecimento, entender quais são os gatilhos que estão no nosso inconsciente e que estão comandando os nossos pensamentos e decisões. Coragem, sim coragem, para visitá-los, compreender os nossos desejos inconscientes, e, a partir desta simbolização, buscar uma atuação equilibrada.
Peter Drucker disse a famosa frase: “ A melhor forma de prever o futuro é criá-lo”.
Somos os únicos com essa capacidade e está na hora de fazermos mais jus ao presente recebido.