“Eu quero transcender”: como Anitta expõe o vazio do sucesso e inspira mulheres a se reconectarem consigo mesmas

A entrevista de Anitta ao programa Fantástico, da Globo, no último domingo, 24, sobre a necessidade de “transcender profissionalmente” e buscar mais significado em sua carreira vai além do universo artístico. Ao reavaliar sua trajetória, a cantora também trouxe reflexões sobre o papel das relações humanas em sua vida, destacando a importância de colocar energia na intenção de se conectar com outras pessoas de forma autêntica. Essas questões ecoam na vida de milhões de pessoas que, em diferentes profissões, enfrentam dilemas sobre sucesso, propósito e saúde mental.

Anitta, no auge de sua carreira, com prêmios e reconhecimento mundial, adoeceu. O diagnóstico de uma rara doença autoimune a obrigou a parar e encarar algo que muitas mulheres vivem em silêncio: o vazio causado pela desconexão consigo mesmas. Em uma trajetória que parecia perfeita para o público, a cantora chegou ao limite, enfrentou burnout e precisou rever suas prioridades. Hoje, ao falar sobre “transcender profissionalmente”, ela questiona o que realmente importa.

Para a psicanalista Ana Lisboa, a história de Anitta é um retrato de como a pressão por produtividade e sucesso absoluto afeta, especialmente, mulheres. “Há uma cobrança constante para dar conta de tudo: trabalho, família, expectativas externas. No meio disso, muitas esquecem de si mesmas, de seus desejos e necessidades. Isso gera um vazio que pode levar a doenças físicas e emocionais. Não é coincidência que mais de 80% das pessoas diagnosticadas com doenças autoimunes sejam mulheres, muitas entre 30 e 60 anos, período de maior exigência profissional e pessoal”, destaca.

Anitta falou publicamente sobre abrir mão do que era considerado “o melhor” para os outros e focar no que é importante para ela mesma. Essa mudança, segundo Lisboa, reflete uma reconexão com o que ela chama de “pulsão de vida”. “É sobre ouvir menos as demandas externas e mais os próprios desejos. Muitas vezes, nos acostumamos a cumprir as expectativas do mercado ou de outras pessoas, mas esquecemos de nos perguntar o que realmente queremos. Essa desconexão é o que alimenta o vazio existencial”, explica a psicanalista.

A trajetória da cantora também expõe o preço invisível do sucesso. “Anitta precisou quase chegar ao colapso para perceber que a agenda cheia e o reconhecimento não eram suficientes para preencher o que faltava internamente. O mesmo acontece com muitas mulheres que vivem na aceleração constante. Elas esquecem de cuidar de si até que o corpo ou a mente dá sinais de exaustão”, reflete Lisboa.

Nos últimos tempos, Anitta diminuiu o ritmo. Posta menos stories, se afasta de pessoas que não agregam, escolhe a dedo seus projetos e foca no que traz bem-estar e significado. Curiosamente, sua carreira não foi prejudicada – pelo contrário, ela continua alcançando novos patamares. Lisboa vê isso como uma lição importante. “A ideia de que o sucesso só vem com extremo sacrifício é uma narrativa que está sendo desconstruída. Quando estamos conectadas com nossos desejos e cuidamos de nossa saúde, nossa criatividade e energia fluem naturalmente. É isso que realmente sustenta o sucesso.”

A história de Anitta também reflete como artistas e profissionais precisam, muitas vezes, resgatar o que os motivava no início de suas trajetórias. “A pulsão de vida – aquilo que impulsiona o desejo de criar, inovar e fazer diferente – só existe quando essas mulheres estão em sintonia com consigo mesmas. Quando nos desconectamos, buscamos preencher esse vazio em relações tóxicas, vícios ou outras compensações que não resolvem o problema”, analisa Lisboa.

Anitta está desafiando um sistema que prega que a realização só vem com sobrecarga e desgaste. Sua postura inspira mulheres a questionarem a lógica de viver para os outros e a se priorizarem. “É sobre encontrar equilíbrio. Não se trata de parar tudo, mas de saber quais batalhas valem a pena. Anitta mostra que cuidar de si não é egoísmo, mas um ato de coragem e amor-próprio”, conclui a psicanalista.

A jornada da cantora abre espaço para que outras mulheres reflitam sobre suas próprias vidas. Em um mundo que valoriza a aceleração e a performance, desacelerar e ouvir a si mesma pode ser o caminho mais poderoso para alcançar o verdadeiro sucesso – aquele que vem com saúde, bem-estar e conexão com o que realmente importa.

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