O processo de transição sustentável no país somente será completo se contar com ações de inclusão produtiva, especialmente voltadas para as populações em vulnerabilidade social. Essa foi a principal conclusão do evento realizado na última terça-feira (30), realizado para debater e lançar o estudo “Inclusão Produtiva e Transição para a Sustentabilidade: Oportunidades para o Brasil”, apoiado pela Fundação Arymax, B3 Social, Instituto Golden Tree e Instituto Itaúsa, produzido pelo Instituto Veredas, com apoio técnico do Instituto Cíclica.
No encontro, especialistas debateram os desafios e oportunidades para criar caminhos em que a busca por sustentabilidade seja também portadora de oportunidades para a inclusão produtiva. O estudo lançado na ocasião analisou 19 áreas prioritárias nos quatro setores econômicos que mais respondem pela emissão de gases de efeito estufa no Brasil – sistemas alimentares e de uso da terra, indústria, energia e cidades e infraestrutura.
Em participação virtual, Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda, ex-presidente do BNDES e ex-CFO do Banco Mundial, responsável pelo prefácio da pesquisa, abriu o evento destacando a importância do tema para o desenvolvimento do país. “O estudo traz uma importante contribuição na jornada para evitar mudanças climáticas e fazer o país crescer de forma inclusiva”, reforçou o economista, que atualmente é diretor de estratégia no Banco Safra.
Na mesa de abertura, Vivianne Naigeborin, superintendente da Fundação Arymax, reforçou a intenção do estudo de subsidiar um projeto de transição sustentável que olhe para as populações em vulnerabilidade. “Acreditamos profundamente no poder transformador do trabalho para combater a pobreza e as desigualdades. Preocupa-nos muito observar que o debate sobre as mudanças climáticas e a transição para a sustentabilidade cresce ano a ano, sem considerar que as mais afetadas serão as populações mais vulneráveis, nem prever soluções que garantam que essas pessoas serão inseridas num novo modelo econômico mais sustentável. Para nós, não existe transição sustentável se não houver inclusão produtiva”, citou.
Fabiana Prianti, head da B3 Social, reforçou a urgência do tema e a importância de atuação intersetorial em torno dessa agenda. “Todo mundo sabe que temos um caminho árduo e precisamos estar unidos para chegarmos o quanto antes no lugar que deveríamos estar a muito tempo. Para que isso aconteça, os governos, as empresas e o terceiro setor devem atuar conjuntamente e garantir atenção à inclusão produtiva”, recomendou.
Nesse sentido, o diretor-executivo do Instituto Itaúsa, Marcelo Furtado, falou sobre o direcionamento de investimentos na agenda sustentável. “Não haverá solução para crise climática e enfrentamento da pobreza sem olhar para transições sustentáveis como grandes oportunidades de investimento, desenvolvimento, geração de emprego e renda”, diz Furtado. Yael Sandberg, diretora executiva do Instituto Golden Tree, reforçou sobre a preocupação social nesse processo. “É indissociável a relação entre dignidade humana e a inclusão produtiva, para que a transição sustentável aconteça”.
No painel “Intersecção entre Inclusão Produtiva e Sustentabilidade”, o fundador do Instituto Escolhas, Sérgio Leitão, destacou a problemática do financiamento da transição para a sustentabilidade. “A gente tem um desafio brutal na questão da transição, que não estamos dimensionando. Não somos um país renovável. Temos que reconhecer que para um país que depende de mais de 50% de combustível fóssil, a gente está longe de ser renovável. Segundo, que nosso desafio é ainda maior porque para fazer essa transição, precisamos de um nível de investimentos e recursos que o país não tem, porque temos um nível de poupança muito baixa e com voracidade de gastos públicos, que torna a discussão sobre como a gente vai selecionar esses investimentos para fazer essa transição extremamente tormentosa do ponto de vista do debate interno“. O especialista conclui, ainda, que será preciso um “grande pacto” na sociedade brasileira para que recursos internos que são mal utilizados possam alavancar a transição. Também participaram do painel a diretora-executiva do Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC), Andréia Coutinho Louback; e o diretor-executivo do Tabôa, Roberto Vilela.
No segundo painel, “Setores capazes de promover a transição sustentável”, a diretora da Dexco, Glizia Prado, falou sobre a importância da formação dos profissionais para essas oportunidades na sustentabilidade. “Vivemos hoje alguns dilemas e desafios, como uma nova tecnologia chegando, em que precisamos requalificar a mão de obra que tem hoje, mas também novos postos de trabalho surgindo, exigindo novas competências. De todas, o letramento digital ou a habilidade e fluência de transitar com máquina e saber usufruir da melhor forma tem sido uma grande demanda, que é nova pra todas. Por outro lado, no campo da educação, temos um descompasso. Currículos ainda preparando para as competências do hoje e a empresa precisando das competências do futuro. Temos oportunidade de fazer mais parcerias e, juntos, fomentar essa aceleração da educação profissional”.
Ao ser provocado sobre a correlação entre sustentabilidade e inclusão produtiva, o coordenador sênior do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Roberto Kishinami destaca pontos de atraso do país na pauta. “A região nordeste é onde a energia renovável mais cresce no Brasil, mas acredito que perdemos uma grande oportunidade de articular o desenvolvimento da região nesse campo para fazer uma transição sócio econômica. Há uma agenda de desenvolvimento local a espera com o crescimento das renováveis, mas acredito que falte ousadia por parte do governo, iniciativa privada e sociedade civil. Considerando que várias das propostas que foram feitas há 10, 12 anos, prevendo que o crescimento das energias renováveis permitiria a formação de novos postos de trabalho, como técnicos e engenheiros, acabou não acontecendo e perdemos uma chance”. O painel contou, também, com a participação do diretor de E&S na MOMBAK, Rafael Gioielli.