Com a proximidade da entrada em vigor da nova tarifa de 50% imposta pelo governo Trump sobre produtos brasileiros, traders de commodities intensificaram o ritmo de embarques de café verde com destino aos Estados Unidos. A medida, prevista para o dia 1º de agosto, gera apreensão no mercado e pode impactar significativamente os preços para o consumidor americano.
Dados recentes já indicam um aumento nos preços ao consumidor nos EUA em junho, reflexo das tarifas anteriormente implementadas pela administração Trump, afetando inclusive o custo do café. Em resposta à nova taxação, alguns traders estão adotando estratégias emergenciais, como o desvio de navios em trânsito e o cancelamento de escalas em outros portos. O objetivo é garantir que os contêineres carregados de café brasileiro cheguem aos portos americanos antes do prazo fatal, evitando a incidência da tarifa.
Outra tática observada no mercado é o envio para os EUA de estoques de café brasileiro mantidos em países vizinhos, como Canadá e México, que originalmente seriam destinados ao consumo local. Enquanto isso, importadores americanos já começaram a divulgar tabelas de preços de atacado que incluem o acréscimo de 50% para remessas que desembarcarem após 1º de agosto.
Jeff Bernstein, diretor-gerente da trading de café RGC Coffee, confirmou a movimentação no setor. “Redirecionamos algumas cargas para chegarem aos EUA mais cedo, algo que originalmente faria uma viagem mais longa”, explicou. No entanto, Bernstein ressaltou que nem todas as cargas puderam ser aceleradas.
A situação é particularmente desafiadora para o café que ainda não foi embarcado no Brasil. O país sul-americano é responsável por um terço de todo o café consumido nos EUA, sendo essencial tanto como origem única quanto como base para a maioria dos blends. A produção americana supre apenas cerca de 1% da demanda interna.
Os preços do café nos EUA já vinham registrando alta, impulsionados por um pico de 70% no mercado no ano anterior devido a problemas de produção. A nova tarifa de 50%, anunciada na semana passada, deve intensificar essa tendência, gerando uma nova onda de aumentos de preços, segundo especialistas do setor.
A cooperativa brasileira de café Expocacer, que viu suas vendas para os EUA crescerem 15% no último ano, informou que não há margem para renegociação em negócios com entrega posterior a 1º de agosto. Traders preveem que, caso a tarifa seja mantida, haverá uma reconfiguração dos fluxos de café no mercado global. O café brasileiro poderá ser mais direcionado para a Europa e a Ásia, enquanto os EUA aumentariam suas compras de países africanos e da América do Sul e Central. Essa transição, contudo, não será simples e acarretará custos adicionais para os importadores.
Um trader, que preferiu não se identificar, destacou a relevância do café brasileiro nas misturas comercializadas por grandes redes como Dunkin Donuts, Tim Hortons e Starbucks, evidenciando o amplo impacto potencial da medida tarifária.