A indústria global de veículos elétricos (VE) sofreu um novo abalo estratégico nesta quarta-feira, com o anúncio de que a sul-coreana LG Energy Solution teve um contrato de US$ 6,5 bilhões (9,6 trilhões de won) rescindido pela Ford Motor.
O acordo, assinado originalmente em outubro do ano passado, previa o fornecimento de baterias para o mercado europeu a partir de 2026. A rescisão ocorre em um momento de drástica revisão de rota pela montadora americana, que justifica a decisão por mudanças profundas nas políticas governamentais e uma perspectiva de demanda por elétricos muito inferior ao projetado anteriormente.
O movimento da Ford faz parte de uma reestruturação mais ampla e agressiva. Recentemente, a empresa comunicou ao mercado uma baixa contábil de US$ 19,5 bilhões, acompanhada da descontinuação de diversos modelos movidos a bateria.
Especialistas apontam que essa “retirada estratégica” é uma resposta direta às novas diretrizes do governo de Donald Trump nos Estados Unidos e à desaceleração das vendas globais. A montadora parece estar redirecionando seu foco para modelos híbridos ou a combustão, que apresentam margens de lucro mais resilientes e enfrentam menos incertezas regulatórias no curto prazo.
Este não é um evento isolado para as fabricantes sul-coreanas. Na semana passada, a SK On, outra gigante do setor de baterias, já havia confirmado o fim de sua joint venture com a Ford para fábricas em solo americano.
A parceria, que em 2022 envolveu um investimento massivo de US$ 11,4 bilhões, foi desfeita antes mesmo de atingir a maturidade operacional planejada. O encerramento desses contratos sinaliza um resfriamento nas apostas de eletrificação total que dominavam o setor automobilístico até 2023, forçando as fornecedoras de tecnologia a buscarem novos clientes ou reduzirem seus planos de expansão.
Para o mercado financeiro, a rescisão do contrato com a LG Energy Solution levanta alertas sobre o excesso de capacidade produtiva na indústria de baterias. Com as grandes montadoras recuando, as fabricantes de células enfrentam o desafio de gerir estoques e fábricas que foram projetadas para um volume de consumo que pode demorar anos para se concretizar. O cenário atual redesenha o mapa da mobilidade global, onde o pragmatismo econômico e as mudanças políticas nos EUA voltaram a pesar mais do que as metas agressivas de emissão zero estabelecidas na última década.
