O crescimento acelerado das apostas esportivas, popularmente conhecidas como bets, acendeu um sinal de alerta entre autoridades. A comissão parlamentar de inquérito (CPI) das Bets do Senado Federal foi criada em novembro de 2024, e está prevista para se estender até 14 de junho.
Com a legalização das apostas esportivas em 2018 e o processo de regulamentação recente, este tópico tem gerado um forte debate no mundo dos negócios. Esse movimento tem atraído investimentos e despertado o interesse de operadores nacionais e internacionais. Contudo, enquanto alguns enxergam as apostas como uma oportunidade de desenvolvimento econômico e inovação, outros especialistas, como o educador financeiro João Victorino, alertam para os perigos das “bets”, especialmente no que diz respeito à saúde mental dos brasileiros.
Oportunidades no Setor de Apostas
Carlos Akira, Vice-Presidente de Relações Institucionais da Pagos, acredita que o setor de apostas no Brasil está em um momento de transformação positiva.
“A regulamentação das apostas de quota fixa trouxe uma série de benefícios ao país, como a geração de empregos e o aumento de receitas tributárias que podem ser direcionadas a áreas como saúde e educação”, afirma o executivo, que vê o setor como uma oportunidade para atrair investimentos estrangeiros e fortalecer a economia nacional.
Akira destaca ainda a inovação tecnológica como um motor para o crescimento do mercado. “A utilização de tecnologias como inteligência artificial e big data permitem que as operadoras personalizem a experiência para os apostadores, além de torná-la mais segura”, afirma.
No entanto, Akira reconhece que o setor ainda enfrenta desafios, como a resistência cultural ao jogo. Em outubro de 2024, o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), em colaboração com a Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF) e a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), publicou uma pesquisa que revela que 57% dos brasileiros têm uma percepção negativa sobre os sites de apostas online no país.
O uso de plataformas como o PIX, por exemplo, tem sido crucial para a popularização das apostas online, proporcionando transações rápidas e acessíveis. Akira também pontua que outra questão também precisa de muita atenção: as fraudes envolvendo o PIX, que têm se tornado uma preocupação crescente.
Embora seja considerado um sistema seguro, tem sido cada vez mais utilizado para movimentar valores obtidos de forma ilícita. De acordo com o presidente da Febraban, os prejuízos causados por golpes envolvendo essa ferramenta aumentaram 43% este ano, alcançando R$ 2,7 bilhões, conforme dados divulgados pela Abranet.
Apesar disso, Akira acredita que o avanço da regulamentação, iniciado com a criação da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), pode trazer equilíbrio, assegurando um ambiente mais seguro para apostadores e operadores.
O Impacto das Apostas na Saúde Mental
Por outro lado, João Victorino, educador financeiro e criador do canal “A Hora do Dinheiro“, adota uma postura mais cautelosa em relação às apostas.
Em uma live realizada em abril de 2025, Victorino e o psiquiatra Luis Felipe Costa discutiram os prejuízos financeiros e psicológicos associados ao aumento das apostas no Brasil. 57% dos endividados que apostaram online afirmam que estavam financeiramente equilibrados antes de começarem a apostar, segundo dados da pesquisa “A Relação dos Inadimplentes com as Apostas”, realizada pela Serasa em parceria com o Instituto Opinion Box.
“Muitas pessoas não percebem que, além de perderem dinheiro de forma constante, estão prejudicando o próprio bem-estar mental. As apostas criam um ciclo de falsas ilusões, que resulta em frustração”, explica o educador financeiro.
Ele destaca que o aumento das apostas online está diretamente relacionado a uma crescente preocupação com o vício e à deterioração das finanças pessoais, principalmente entre os mais jovens e aqueles que não têm um controle rigoroso sobre seus hábitos financeiros.
Para o psiquiatra Luis Felipe Costa, o impacto psicológico das apostas é claro. Ele observa que a facilidade de acesso às apostas, impulsionada por influenciadores digitais e eventos esportivos, contribui para que muitas pessoas se envolvam de forma impulsiva com as “bets”, sem perceber os riscos psicológicos envolvidos.
“A pressão para recuperar perdas financeiras pode gerar níveis elevados de estresse e ansiedade, frequentemente agravando condições pré-existentes de saúde mental”, explica.
O Debate Sobre as Apostas no Brasil
Enquanto Carlos Akira vê as apostas como uma oportunidade econômica, em meio ao crescimento acelerado do setor, e com o potencial de transformar o Brasil em um polo de inovação. João Victorino ressalta que esse crescimento não vem sem suas desvantagens. Para Victorino, as apostas têm o potencial de destruir finanças pessoais e afetar profundamente a saúde mental de muitas pessoas, um argumento reforçado pelos dados que mostram o aumento da inadimplência associada ao setor. Ambos concordam, no entanto, que a regulamentação é essencial para que o setor cresça de maneira equilibrada e responsável.
Com a regulamentação em andamento, o Brasil se encontra em um momento decisivo. O equilíbrio entre as oportunidades econômicas e os desafios relacionados à saúde mental e segurança financeira será fundamental para definir o futuro do mercado de apostas no país. Seja como uma indústria estratégica ou como um potencial problema social, o debate continua a ganhar força, refletindo a complexidade do tema. O futuro do setor aparenta depender não apenas da eficácia das políticas públicas, mas também da conscientização e da educação financeira para mitigar os riscos associados às apostas e promover um ambiente mais seguro para os apostadores.