Segundo o relatório da Barrett Values Center, mais de 70% das organizações enfrentam desafios significativos relacionados à entropia cultural, um inimigo silencioso que corrói as bases da empresa. Seus efeitos incluem desmotivação, alta rotatividade e um ambiente de trabalho tóxico. Esse inimigo tem nome: entropia cultural, que é quando a empresa possui um discurso muito diferente das práticas adotadas por ela no dia a dia, e isso é percebido pelos colaboradores.
De acordo com André Cantamessa, sócio da EXEC, empresa especializada na seleção e desenvolvimento de altos executivos e conselheiros, na entropia, há uma grande disparidade entre a cultura declarada da empresa e o que ela realmente se tornou ao longo do tempo. “Além disso, existem percepções distintas sobre a organização, especialmente entre diferentes níveis hierárquicos. Esse desalinhamento prejudica a coerência entre a estratégia e as operações diárias, além de comprometer a imagem da marca empregadora, impactando negativamente os resultados da empresa, sua atratividade no mercado e os índices de turnover”, explica.
Como a entropia pode afundar uma empresa?
De acordo com o relatório intitulado A importância dos valores na construção de uma cultura de alto desempenho, produzido pelo Barrett Values Center, quando a cultura organizacional está alinhada aos valores individuais do profissional, o compromisso dele em buscar o sucesso da empresa é maior, reduzindo a entropia.
Cantamessa exemplifica como a entropia ocorre nesse sentido: “Uma companhia pode acreditar que o que motiva seus colaboradores a se manterem engajados e permanecerem na empresa são cargos e salários. Contudo, muitas vezes, a motivação vai além disso, como uma sintonia com os valores da companhia. Essa falta de visão gera um impacto negativo com profissionais desmotivados que, consequentemente, rendem menos e que podem inclusive se tornar detratores da marca empregadora”, afirma.
Como diagnosticar sinais de entropia nas organizações
Apesar de parecer subjetiva, a entropia cultural pode ser diagnosticada. As consultorias de RH têm desenvolvido metodologias para ajudar seus clientes a identificarem onde ela se encontra dentro da cultura organizacional, e consequentemente poder criar uma jornada para mitigá-la.
Cantamessa conta que, para a grande maioria de seus clientes, a identificação da entropia acaba sendo uma surpresa. “Normalmente, membros da diretoria e o CEO acreditam que há um alinhamento com a cultura organizacional em termos de valores e propósitos. Nós rodamos a solução na organização para entender a cultura interna e, aos poucos, vamos ‘quebrando’ os níveis e identificando onde a entropia se encontra.”
Ele destaca algumas situações que podem levantar o sinal de alerta sobre a existência dela:
- Falta de motivação e dificuldade na retenção de talentos. “O turnover começa a subir, com os profissionais deixando a empresa sem que haja, de fato, uma investigação mais profunda sobre os motivos do desligamento, que muitas vezes podem estar relacionados à falta de alinhamento de seus valores com a cultura da empresa, à falta de sensação de pertencimento e a problemas com a liderança, que pregam colaboração mas não a colocam em prática. Diante de situações como essas, muitos acabam saindo até mesmo sem ter outra oportunidade de trabalho.”
- Profissionais com problemas de saúde ligados ao emocional. Segundo uma pesquisa feita pela International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), 72% dos brasileiros se sentem estressados no ambiente profissional, e 32% sofrem da síndrome de Burnout, esgotamento mental causado por fatores como a falta de um bom ambiente no trabalho e dificuldades de relacionamento com a liderança. “Os índices de absenteísmo nas empresas estão nas alturas, incluindo afastamentos relacionados à síndrome de Burnout, depressão e ansiedade. A ausência de um colaborador afeta a produtividade do time, diminui a produção, estimula a perda de recursos e impacta negativamente tanto o lado humano quanto o financeiro.”
- Dificuldade de contratar novos profissionais. “No nosso trabalho de busca de talentos no mercado, temos observado vários casos de candidatos que abordamos para uma possível oportunidade profissional em uma determinada empresa e, ao saber qual é a companhia, já desistem de continuar a conversa porque sabem que a cultura organizacional dela não casa com seus valores individuais. Isso tem uma forte ligação com employer branding, já que o turnover elevado gera burburinhos no mercado, fazendo com que talentos recusem ofertas de emprego. Por exemplo, os candidatos podem querer um trabalho híbrido, mas a organização exige presença 100% do tempo no escritório, sem uma justificativa concreta para isso.”
André enfatiza que as empresas que reduzem a entropia cultural aumentam a retenção de talentos, tornando-se mais atraentes para o mercado. Colaboradores motivados e alinhados aos valores organizacionais permanecem mais tempo, o que impulsiona a inovação e fortalece estratégias sustentáveis de longo prazo.
“Essa percepção sobre os benefícios da identificação da entropia na cultura organizacional está se tornando mais forte nas organizações, à medida que os negócios evoluem e os princípios ESG ganham mais corpo. Acredito que, daqui a algum tempo, não precisaremos convencer as companhias sobre o quanto esse trabalho de identificação é fundamental para a sua sobrevivência no futuro”, conclui.