Ao longo dos anos, o mundo do trabalho vem passando por transformações importantes e uma das mudanças que seguimos assistindo está ligada aos formatos de atuação. Afinal, o que funciona melhor: remoto, presencial ou híbrido? Há diferentes casos e necessidades: vemos diversos movimentos de empresas que já planejam retornar ao presencial por completo. Por outro lado, todo dia há novas funções e posições surgindo, que podem ser tranquilamente geridas no esquema anywhere office, com pessoas trabalhando de qualquer lugar do mundo.
À medida que as tecnologias de comunicação avançam e as mentalidades evoluem, o trabalho remoto deixa de ser uma mera tendência para se tornar uma parte essencial das operações de algumas empresas, com destaque para a área de tecnologia. “Para que seja possível usufruir dos benefícios do trabalho remoto, como a redução de custos, é preciso – além de organização, disciplina e foco por parte dos profissionais – uma certa maturidade da cultura da empresa com o método de trabalho e da própria equipe de gestão, que deve atuar com confiança e fortalecer a relação da equipe, incentivando a comunicação entre pessoas e fomentando o remote first, que significa sempre considerar tomar decisões no ambiente virtual e partindo da mentalidade de que quando um profissional está trabalhando de forma remota, todos, mesmo aqueles que estão no presencial, também estão remotos”, afirma Geraldo Batista, VP de Operações da SysMap Solutions – empresa nacional especializada em apoiar a transformação digital.
Entre os pontos positivos do trabalho remoto já conhecidos, estão:
- conciliação e flexibilidade – o colaborador otimiza e equilibra melhor o tempo entre vida pessoal e profissional e, consequentemente, entrega uma melhor performance;
- acesso, atração e retenção de talentos globais – a empresa tem a possibilidade de recrutar e trabalhar com talentos de todo o mundo;
- redução de custos: economias de custos associadas aos gastos em um espaço físico, como energia elétrica, limpeza etc.
Apesar das vantagens, não é baixo o número de empresas que já aumentaram a frequência ao presencial. De acordo com a pesquisa CEO Outlook da KPMG 2023, que consultou mais de 1.300 diretores executivos das maiores empresas do mundo, a maioria deles (64%) já prevê um retorno ao trabalho presencial por completo até 2026. Para essa parcela de executivos, os pontos negativos do remoto envolvem o desafio e as dificuldades na comunicação e, principalmente, o gerenciamento do desempenho dos funcionários de forma virtual, que acabam se sobrepondo a qualquer benefício.
A cultura do remote first
“O fato é que nem todo mundo está pronto para implantar esse esquema de trabalho em definitivo, ainda que traga benefícios”, avalia Danilo Rocha, gerente de tecnologia na SysMap – que é uma empresa remote first e trabalha muito bem de forma remota há anos: “com uma cultura de operação e integração construída desde a fundação da nossa empresa, em 1999, trabalhamos com uma gestão próxima e priorizamos a cultura ágil em todas as nossas áreas, dessa forma é possível acompanhar o desempenho e produtividade dos profissionais sem a necessidade de microgerenciamento. Aqui, lançamos mão das cerimônias ágeis como dailies, por exemplo, temos diversos KPIs para auxiliar na gestão das entregas e, quando observamos desvios nos times, buscamos solucionar os problemas de forma rápida, removendo impedimentos e otimizando a performance das operações”, explica.
De acordo com ele, há profissionais que podem precisar de um acompanhamento mais direto da gestão, como no caso dos recém-chegados ou dos que ainda estão iniciando a carreira. Quando a empresa está pronta para trabalhar de forma 100% remota, essas pessoas são amplamente acolhidas e recebem toda a orientação necessária para atuarem à distância e se integrarem à equipe rapidamente. Ainda segundo ele, também é importante que a empresa forneça as ferramentas necessárias ao funcionário: “o funcionamento correto dos equipamentos com os quais esse profissional vai trabalhar também é de suma importância para que tudo ocorra como programado e, não apenas entreguemos no prazo, mas com qualidade”, complementa.
“Independentemente das lições aprendidas e ganhos com esta ou aquela forma de trabalho, é importante estar sempre ciente de que nenhuma empresa é igual à outra. Dessa forma, o trabalho remoto pode não ser o mais adequado para todos os casos”, reforça Geraldo. Segundo ele, tudo está relacionado à cultura da empresa. Então, mesmo entre as organizações que pertencem a um único setor de atuação, o sistema de trabalho pode ser diferenciado e não se adequar ao método.
Em outubro, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou levantamento que mostra que, somente no Brasil, 9,5 milhões de pessoas trabalharam de forma remota em 2022 – o que corresponde a menos de 10% do total de ocupados no país. Ainda conforme a pesquisa, esses profissionais – que, em sua maioria (69,1%) possuem ensino superior completo – ganham cerca de três vezes mais do que a média da população. A média alcançada entre eles passa de 6 mil reais e, da população ocupada, em torno de R$ 2.7 mil. Já, entre as profissões com maior percentual de profissionais que atuam no remoto, estão: analistas de sistema e de gestão, professores, advogados e contadores (28,6%); cargos ligados à gestão de equipes de trabalho (26,1%); e os técnicos de redes de sistemas de computadores, técnicos em operações de tecnologia da informação (16,3%).
“A implementação de uma cultura organizacional sempre foi um desafio importante. Agora, com as mudanças nas relações de trabalho e o modelo remoto como opção do empregador e preferência entre alguns profissionais, o cenário tornou-se ainda mais desafiador. É preciso atentar-se de que o mundo está mudando, evoluindo, e, independentemente da forma que achemos para fazer isso, precisamos continuar evoluindo junto com ele”, finaliza o VP.