Por: Pedro Janot – Conselheiro e Sócio no Grupo Solum
Após décadas liderando grandes empresas, percebo como cada geração carrega características marcantes que moldam suas trajetórias profissionais. A Geração Z, em especial, está no centro de um intenso debate sobre sua relação com o trabalho. Uma pesquisa recente indica que 60% dos empregadores relataram ter demitido profissionais dessa geração em 2024. Mas o que realmente está por trás disso? Três fatores ajudam a entender essa questão.
Uma visão cética do mercado de trabalho
Se observarmos os jovens da Geração Z, perceberemos que sua relação com o trabalho é profundamente influenciada pelo contexto em que cresceram. Muitos viram seus pais ou familiares enfrentarem crises financeiras, demissões em massa e ambientes de trabalho que priorizavam lucros em detrimento do bem-estar. É natural que essa geração desenvolva um ceticismo em relação a carreiras tradicionais. Para eles, um emprego que não demonstre respeito por seus valores rapidamente perde o apelo. Por isso, o desafio está em criar conexões mais significativas entre as empresas e seus jovens profissionais.
Desafios na comunicação intergeracional
A comunicação no ambiente de trabalho sofreu transformações profundas. Enquanto a Geração Z domina ferramentas digitais como ninguém, isso nem sempre se traduz em habilidades interpessoais desenvolvidas. Muitos desses jovens iniciaram suas carreiras remotamente, sem a oportunidade de vivenciar a dinâmica presencial que facilita a construção de relacionamentos. Não se trata apenas de inexperiência, mas de um novo modelo de interação que empresas e colaboradores ainda estão aprendendo a equilibrar. O desafio está em integrar essas diferenças e criar espaços para a troca de experiências.
A revolução das prioridades
Talvez o aspecto mais transformador trazido pela Geração Z seja sua visão sobre equilíbrio. Eles não estão dispostos a sacrificar saúde mental ou bem-estar em nome de um trabalho. Isso contrasta fortemente com gerações anteriores, que viam longas horas no escritório como um rito de passagem ou mesmo um símbolo de compromisso. Para esses jovens, equilíbrio e propósito têm o mesmo peso que salário e benefícios. Essa mudança, embora desafiadora, representa uma oportunidade para as empresas reavaliarem práticas desgastantes e criarem um ambiente mais humano.
Esses fatores não indicam uma geração problemática, mas uma geração que está provocando uma reflexão necessária. Ao questionar o status quo, a Geração Z traz à tona demandas que podem beneficiar o mercado como um todo. Se antes a adaptação era uma exigência unilateral, agora é uma via de mão dupla: empresas e profissionais precisam trabalhar juntos para construir um futuro mais alinhado às expectativas de ambos.
Reconhecer essas mudanças é o primeiro passo para aproveitar o potencial dessa nova geração, que, com os incentivos certos, tem muito a contribuir para o crescimento das organizações.